Problemas de comportamento

Como tirar a obsessão do meu cachorro por pedras?

 
Eduarda Piamore
Por Eduarda Piamore, Técnica em psicologia, educação e adestramento canino e felino. 24 janeiro 2024
Como tirar a obsessão do meu cachorro por pedras?
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Os cães têm vários comportamentos instintivos que podem parecer estranhos para nós, mas que são inerentes à sua natureza. No entanto, alguns animais acabam desenvolvendo um comportamento quase obsessivo, despertando preocupação em seus tutores.

A situação se torna ainda mais complexa quando objetos inadequados são usados nessas brincadeiras, como, por exemplo, as pedras, pois podem causar problemas dentários e digestivos ao serem mastigadas ou engolidas. Se você está enfrentando essa situação, provavelmente está se fazendo perguntas como "por que meu cachorro ficou obcecado por pedras?" e "como tirar a obsessão do meu cachorro por pedras?".

Para ajudá-lo(a), dedicaremos este artigo do PeritoAnimal para explicar quais são as principais causas pelas quais um cachorro fica obcecado por pedras e o que fazer para amenizar esse comportamento. Vamos lá?

Também lhe pode interessar: Cachorro comendo pedra: causas e o que fazer

Índice

  1. Por que meu cachorro está obcecado por pedras?
  2. Por que meu cachorro mastiga ou come pedras?
  3. Passos para tirar a obsessão do meu cachorro por pedras
  4. Como evitar que um cachorro fique obcecado por pedras?

Por que meu cachorro está obcecado por pedras?

Não há uma única razão pela qual os cães ficam obcecados por pedras, e se você quiser entender o motivo dessa obsessão em seu pet, deverá prestar atenção ao seu comportamento e postura ao interagir com esse "recurso". Por exemplo, não é a mesma coisa um cão que vai atrás de pedras para brincar, como faria com uma bola, do que um cão que está sempre procurando pedras para mastigar ou comer.

São duas situações distintas que estão vinculadas a causas diferentes, e cada uma delas requer um tratamento específico. Portanto, a seguir, vamos diferenciar e tentar explicar a causa das principais manifestações de obsessão por pedras em cães.

Por brincadeira

Aqui vemos que o cão está obcecado por pedras porque as assimilou como uma espécie de recurso com fins "recreativos". É uma situação quase idêntica à dos cães obcecados por bolas, mas bastante mais perigosa, pois as pedras não são brinquedos e podem causar danos à boca e aos dentes de nossos amigos de quatro patas, sem mencionar o risco de acabarem engolindo uma pedra e sofrerem de distúrbios digestivos, ou até mesmo asfixia.

Por instinto de caça

Outro dos principais motores dessa conduta está diretamente relacionado ao instinto de caça, que é inerente à natureza canina. Ou seja, todos os cães, em maior ou menor medida, manifestarão comportamentos associados à caça e se sentirão motivados a perseguir quase qualquer objeto que seus tutores usem em atividades que simulem o contexto de uma caçada.

Nesse sentido, é importante considerar que algumas raças de cães foram historicamente treinadas para a caça. Portanto, possuem um instinto caçador particularmente acentuado e podem ficar muito animados com brincadeiras de "jogar e pegar", sendo mais propensos a desenvolver certa obsessão por qualquer elemento ou recurso que possa ser usado com esse propósito.

Por má educação

No entanto, a predisposição genética por si só não explica completamente por que alguns cães ficam obcecados por pedras. Geralmente, esse comportamento obsessivo decorre de algumas falhas - intencionais ou não - na educação e na rotina do cão.

Por um lado, é comum que os tutores acabem reforçando, mesmo inconscientemente, a superexcitação que seus cães manifestam em certas situações, seja na hora de brincar, comer ou sair para passear. Assim, é possível que, sem intenção, você tenha incentivado que seu cão fique exageradamente ansioso ou excitado na hora de brincar e queira repetir incessantemente essa mesma atividade.

A situação piora quando você permite que seu cão "use" qualquer elemento para satisfazer essa obsessão por perseguir e pegar. Digamos que, no meio da excitação da brincadeira, seu cachorro traz uma pedra para você jogar, e você concorda para agradá-lo e satisfazer sua necessidade de gastar energia. Se isso começar a ocorrer por repetidas vezes, é muito provável que seu cão acabe obcecado por pedras, não porque elas o atraem particularmente, mas porque as assimilou como uma maneira de liberar tensão e obter satisfação.

Como tirar a obsessão do meu cachorro por pedras? - Por que meu cachorro está obcecado por pedras?
Imagem: Waggel

Por que meu cachorro mastiga ou come pedras?

Quando um cachorro está obcecado por pedras e as mastiga ou come, é preciso que o tutor tenha extrema precaução. Inicialmente, mastigar pedras ou outros objetos muito duros implica num desgaste intenso nos dentes caninos, podendo quebrá-los ou mesmo perdê-los em uma idade precoce.

Além disso, as pedras irritam e inflamam a mucosa gastrointestinal, podendo causar sintomas de gastrite em cães. Há também o risco de perfurar o estômago ou os intestinos do cão, provocando hemorragias internas, que podem obstruir o trânsito através do trato digestivo. Em caso de emergências, é bom estar preparado, por isso recomendamos a leitura do nosso artigo sobre "Como fazer a manobra de Heimlich em cachorros".

O que leva um cachorro a mastigar ou comer pedras? Bem, também é necessário considerar vários fatores que podem acabar levando a esse comportamento extremamente perigoso, como, por exemplo:

Comportamento exploratório em filhotes

Durante os primeiros meses de vida, os filhotes tendem a levar à boca e morder quase qualquer coisa que encontram em seu caminho, incluindo pedras. Embora seja algo "normal", pois esses pequenos estão explorando seu ambiente e têm muita curiosidade por cada novo recurso que descobrem, não é um comportamento aceitável, e que muito menos deve ser reforçado.

Além disso, nunca se deve retirar uma pedra à força da boca de um filhote, pois isso pode fazer com que a engulam rapidamente para evitar que a retiremos. O ideal, nesses casos, é desviar a atenção deles para um brinquedo ou recurso que possam usar para morder e se entreter, além de começar a trabalhar no comando de soltar objetos.

Estresse

Existem muitas coisas que podem estressar os cães, mas as causas mais frequentes estão relacionadas a um baixo nível de estimulação física e mental. Um cão que vive em um ambiente empobrecido, onde não encontra recursos ou motivação para se exercitar e se entreter, torna-se sedentário e mais propenso a apresentar sintomas de estresse e tédio.

Mais cedo ou mais tarde, esse animal acabará recorrendo às vias ao seu alcance para gastar energia e liberar a tensão acumulada devido ao alto nível de estresse ao qual está submetido. Como resultado, podem surgir comportamentos incomuns, como começar a mastigar pedras ou perseguir incessantemente qualquer objeto que encontram em seu entorno.

Em casos mais complexos, um cão que sofre de estresse crônico pode desenvolver estereotipias, que consistem na repetição obsessiva de certos comportamentos instintivos sem um objetivo determinado.

Muitos cães manifestam estereotipias relacionadas à caça, sentindo a necessidade de perseguir incessantemente qualquer animal, luzes e outros elementos que possam "imitar" os movimentos de uma presa.

Vermes intestinais

Estudos indicam que, em um ambiente natural, os cães ingerem certas ervas e plantas atóxicas para ajudar a eliminar vermes que podem eventualmente se alojar em seu trato intestinal. Na ausência dessas plantas, podem acabar consumindo outros alimentos ou recursos ao seu alcance, incluindo terra ou pedras.

Portanto, se seu cachorro começar repentinamente a engolir pedras ou outros elementos não comestíveis, consulte imediatamente um veterinário para descartar este ou outros problemas de saúde. Além disso, não esqueça da importância de vermifugar periodicamente seu cão para protegê-lo de ecto e endoparasitas.

Síndrome de Pica

Trata-se de uma patologia que provoca a ingestão de todos os tipos de alimentos, incluindo, é claro, pedras. O animal pode tentar comer qualquer material não comestível, como plástico, madeira, pedras, etc.

Necessidade de atenção

Cães sedentários, que ficam muitas horas sozinhos e/ou não recebem atenção ou cuidados suficientes, podem realizar diversas condutas incomuns para chamar a atenção de seus tutores. Eventualmente, uma delas pode ser trazer pedras para brincar, ou até mesmo mastigá-las para que seus tutores se vejam "obrigados" a retirá-las. Infelizmente, muitos cães "preferem" receber pelo menos alguma atenção ao serem repreendidos do que conviver com a solidão e o descuido de seus tutores.

Para diminuir a obsessão de um cão por pedras, é preciso ajudá-lo a relaxar. Por isso, confira nosso artigo "Como relaxar um cachorro com carinho" para descobrir dicas e estratégias.

Passos para tirar a obsessão do meu cachorro por pedras

A seguir, vamos nos concentrar nos cães que estão obcecados por ir atrás de pedras, como se fossem uma bola ou um brinquedo. No entanto, se o que você precisa é evitar que seu pet continue mastigando ou engolindo esses ou outros elementos não comestíveis, pode dar uma olhada em nosso artigo "Cachorro comendo pedra: causas e o que fazer".

Feitas essas observações iniciais, passemos ao passo a passo para tirar a obsessão por pedras do seu cachorro.

Pare com as brincadeiras de "jogar e pegar"

Alguns tutores se perguntam se não podem simplesmente substituir as pedras por uma bola e continuar brincando com seu melhor amigo. E a resposta é: NÃO! Pelo menos neste primeiro momento, quando a obsessão do seu cachorro está em seu auge, substituir o objeto da obsessão (neste caso, as pedras) não é suficiente nem eficaz para tratar a causa do comportamento obsessivo.

O objetivo final não é fazer com que seu cachorro esqueça as pedras, visto que isso seria impossível, mas sim trabalhar para que o que hoje é um comportamento obsessivo em relação à brincadeira de "jogar e pegar" possa se tornar uma atividade saudável e lúdica.

Procure ajuda profissional

Tratar comportamentos obsessivos em cães não é nada simples, e a maioria dos tutores não possui conhecimento suficiente sobre genética, organismo e comportamento dos cães para conduzir o tratamento que seus peludos precisam. Portanto, recomendamos que busque a ajuda de um veterinário etólogo ou um adestrador canino com estudos comprovados em etologia canina, pois esses profissionais poderão estabelecer as diretrizes de tratamento e manejo mais adequadas com base no comportamento e nas necessidades do seu melhor amigo.

Otimize a estimulação física e mental

Enquanto seu cachorro segue o tratamento orientado por um profissional, é fundamental diversificar as atividades e os recursos envolvidos em sua atividade física e estimulação mental diárias. Seu melhor amigo deve ter ao seu alcance outras vias alternativas, além da brincadeira de "jogar e pegar", para gastar energia, se exercitar, se divertir, socializar com outros cães, se expressar, trabalhar seus sentidos e prevenir os sintomas de estresse e ansiedade.

Além de estabelecer uma boa rotina de passeios diários, é altamente recomendável considerar iniciar seu cachorro em algum esporte canino, como o agility ou o searching, que proporciona um estímulo muito completo para seu olfato e sua mente.

Quanto à estimulação mental, é fundamental investir no enriquecimento ambiental para fornecer ao seu peludo uma maior variedade de brincadeiras, brinquedos e recursos que o mantenham ativo e entretido, mesmo quando estiver sozinho em casa.

Por fim, também é importante reservar um tempo todos os dias para compartilhar com seu peludo e aproveitar para introduzi-lo a brinquedos caseiros para cachorros que estimulam a inteligência, que serão um excelente "complemento" para o desenvolvimento de suas capacidades cognitivas e emocionais.

Evite deixar seu cachorro sozinho por muito tempo

Nunca é recomendável deixar um cachorro sozinho em casa por mais de algumas horas, mas no caso específico dos cães que estão enfrentando algum problema de comportamento, seja um comportamento obsessivo, ansiedade de separação ou destrutividade, esse tempo deve ser reduzido ainda mais.

O manejo da solidão costuma ser particularmente difícil para um cão que foi exposto ao estresse ou outros fatores que levaram a um desequilíbrio em sua saúde mental. Nestes casos, é uma boa prática introduzir o Kong na rotina do cachorro, pois isso ajudará a controlar seus níveis de ansiedade e mantê-lo entretido nos períodos em que precisa ficar sozinho.

Além disso, é fundamental que todo e qualquer cachorro, independentemente de raça, tamanho ou idade, tenha a oportunidade de se adaptar ao lar antes de começar a ficar sozinho e também aprender a lidar progressivamente com a solidão. Para ajudar, no PeritoAnimal, ensinamos como acostumar um cachorro a ficar sozinho e compartilhamos dicas úteis sobre como deixar um cão sozinho em casa.

Não deixe de adestrar seu cachorro

O mais importante é que você, como tutor, entenda que o adestramento é um dos exercícios mais completos para a mente e o corpo do seu cachorro, pois o estimula em nível cognitivo, físico, sensorial e até social, permitindo que ele tenha interações de qualidade com uma variedade maior de estímulos, indivíduos e ambientes.

Além disso, quando fazemos um bom uso do reforço positivo, recompensando o cachorro por seus acertos e bom comportamentos, o treinamento também será prazeroso, sendo uma nova via motivadora para gastar sua energia e expressar suas habilidades caninas.

De fato, cães com comportamentos nervosos, ansiosos ou obsessivos se beneficiam muito ao aderir a uma rotina de treinamento, pois isso lhes permite aprender a pensar por si mesmos, ganhar autonomia e confiança, bem como se reconectar com uma forma mais saudável de obter satisfação ou prazer.

Portanto, adestrar seu cachorro também deve ser um dos esforços para enriquecer seu ambiente e sua rotina. Se não souber por onde começar, aqui explicamos como adestrar um cachorro e listamos 5 erros comuns ao repreender um cachorro.

Como evitar que um cachorro fique obcecado por pedras?

É possível evitar que um cachorro fique obceado por pedras, bolas ou outros objetos? Sim - não só é possível, mas também altamente necessário.

O problema não está em um recurso ou brinquedo, nem mesmo em um tipo de brincadeira ou exercício, mas na forma como os apresentamos aos nossos cães. Por isso, a primeira e mais fundamental medida preventiva contra comportamentos obsessivos em cães é incorporar qualquer brincadeira, atividade, brinquedo ou recurso no contexto de sua educação, onde certas regras devem ser respeitadas para garantir o sucesso e a segurança de todos os envolvidos. Portanto, antes de começar a praticar alguma atividade ou brincadeira com seu amigo, o ideal é ter ensinado a ele os comandos básicos de obediência, como vir quando chamado, sentar, esperar ou ficar, soltar objetos, etc.

Quando chegar a hora de apresentar a atividade em questão, é crucial escolher os recursos mais adequados e seguros para ambos. Ficou claro que pedras são perigosas para os cães, então, se você quiser introduzi-lo na clássica brincadeira de "jogar e pegar", as bolas continuam sendo uma das melhores opções. Apenas certifique-se de ensinar seu cachorro a brincar com a bola corretamente. Isso inclui impor limites quando o animal estiver muito excitado ou hiperativo, guardando imediatamente o brinquedo e interrompendo a brincadeira.

Por fim, lembre-se de que toda brincadeira, esporte ou atividade deve ser assimilada pelo seu melhor amigo como uma recompensa por seus bons comportamentos e não como um momento de descarregar seu estilo de vida sedentário ou o estresse que ele experimenta por viver em um ambiente sem estímulos. Portanto, antes de nos despedirmos, queremos convidá-lo a conhecer as 10 coisas que os cachorros odeiam nos humanos e que podem diminuir sua qualidade de vida, além de enfraquecer o vínculo com seus tutores.

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