Outros problemas de saúde

Diabetes mellitus em cães - Sintomas e tratamento

 
Cristina Pascual
Por Cristina Pascual, Veterinária. 11 novembro 2022
Diabetes mellitus em cães - Sintomas e tratamento
Cachorros

Ver fichas de  Cachorros

A diabetes mellitus é uma das doenças crônicas mais frequentes na clínica de pequenos animais, sendo especialmente frequente em fêmeas e em indivíduos adultos (com uma idade média de 7-9 anos). Embora seja uma doença sem cura, com o compromisso dos tutores e um manejo adequado do tratamento, os cachorros diabéticos podem ter uma boa qualidade de vida.

Se você quer saber mais sobre a diabetes mellitus em cães, seus sintomas e tratamento, nos acompanhe nesse artigo do PeritoAnimal em que te explicamos também o diagnóstico desta patologia crônica.

Também lhe pode interessar: Diabetes em cães - Sintomas e tratamento

Índice

  1. O que é a diabetes mellitus em cães?
  2. Causas da diabetes mellitus em cachorros
  3. Tipos de diabetes mellitus em cães
  4. Sintomas da diabetes mellitus em cães
  5. Diagnóstico da diabetes mellitus em cães
  6. Tratamento do diabetes mellitus em cachorros
  7. Como prevenir a diabetes mellitus em cães?

O que é a diabetes mellitus em cães?

A diabetes mellitus é uma doença endócrina que se caracteriza por um estado de hiperglicemia persistente (níveis elevados de glicose no sangue), no qual é produzido por uma deficiência na produção de insulina ou por fatores que impedem a ação da mesma. Para compreender melhor como se desenvolve esta doença, vamos explicar brevemente sua patogenia.

A insulina é um hormônio secretado pelo pâncreas como resposta à presença de glicose no sangue. Quando os níveis de glicose no sangue aumentam, o pâncreas libera insulina para permitir que a glicose penetre nas células e possa ser utilizada como fonte de energia. No entanto, quando, por causas que veremos a seguir, existe uma deficiência na produção de insulina ou existem fatores que impedem sua ação, a glicose se acumula no sangue produzindo um estado de hiperglicemia.

Quando a concentração sanguínea de glicose ultrapassa o chamado "limiar renal", se elimina glicose pela urina (glicosúria). Ao mesmo tempo, a falta absoluta ou relativa de insulina faz com que os tecidos tenham um acesso limitado à glicose, e em consequência, necessitem degradar as reservas de proteínas e gorduras do organismo para obter a energia que necessitam.

Causas da diabetes mellitus em cachorros

A diabetes costuma ser uma doença multifatorial, ou seja, costuma ser um processo condicionado por diversos fatores. Especificamente, as causas da diabetes mellitus em cachorros podem ser primárias ou secundárias.

  • Causas primárias: aquelas que afetam o próprio pâncreas. Dentro deste grupo se encontra a pancreatite, a insuficiência pancreática exócrina e a insulite imunomediada, entre outras. Para saber mais sobre a Insuficiência pancreática exócrina em cachorros: sintomas e tratamento, não deixe de ler este artigo que te recomendamos.
  • Causas secundárias: aquelas que não afetam diretamente o pâncreas, como tratamentos com glicocorticoides, níveis elevados de progesterona, obesidade, infecções ou inflamações crônicas e azotemia. Consulte esse post sobre as como tratar a obesidade em cachorros.

Tipos de diabetes mellitus em cães

Nos cachorros, se reconhecem três tipos diferentes de diabetes mellitus:

  • Diabetes mellitus tipo I: também conhecida como diabetes insulinodependente. É a forma de diabetes mellitus mais comum em cachorros. Ocorre como consequência de uma lesão primária no pâncreas que destrói as células pancreáticas encarregadas da síntese de insulina. Como consequência, ocorre uma deficiência absoluta de insulina do organismo. Este tipo de diabetes é irreversível, o que implica que os pacientes precisarão de tratamento com insulina por toda a vida.
  • Diabetes mellitus tipo II: também conhecida como diabetes não insulinodependente. Mesmo que possa ocorrer com os cachorros, é mais comum nos gatos. Neste caso, os indivíduos são capazes de produzir insulina, mas existem fatores (principalmente a obesidade) que induzem à uma resistência à insulina nos tecidos, o que impede que o hormônio exerça seu efeito. A vantagem deste tipo de diabetes é que é reversível.
  • Diabetes mellitus tipo III ou secundária: é um tipo de diabetes que ocorre quando se combinam certas doenças (como pancreatite, síndrome de Cushing e acromegalia) junto com certos fármacos (como glicocorticoides ou progestágenos). Não deixe de ler este artigo do PeritoAnimal para saber mais sobre a Síndrome de Cushing em cachorros: sintomas e tratamento.
Diabetes mellitus em cães - Sintomas e tratamento - Tipos de diabetes mellitus em cães

Sintomas da diabetes mellitus em cães

Os sintomas associados com a diabetes mellitus em cachorros são bastante evidentes, o que permite aos tutores identificar os sinais com facilidade e procurar o veterinário/a nas primeiras fases da doença.

Especificamente, o quadro clínico dos pacientes diabéticos se caracteriza pelos "quatro p": poliúria, polidipsia, polifagia e perda de peso. A seguir, explicaremos mais detalhadamente esses sinais clínicos.

  • Poliúria: aumento do volume de urina. Como explicamos no início do artigo, quando o nível de glicose no sangue supera o "limiar renal", se elimina glicose pela urina. A glicose atua como diurético osmótico, arrastando com ela grandes quantidades de água e aumentando o volume de urina.
  • Polidipsia: aumento da ingestão de água. A poliúria produzida pela presença de glicose na urina provoca uma polidipsia compensadora, para assim prevenir a desidratação do animal. Te deixamos este outro post sobre a Poliúria e a polidipsia em cachorros: causas e o que fazer para saber mais sobre o tema.
  • Polifagia: aumento do apetite. Como os tecidos não são capazes de captar a glicose, ocorre um balanço energético negativo que o animal tenta compensar aumentando o consumo de alimentos.
  • Perda de peso: a falta de glicose intracelular leva o organismo a degradar as reservas de gordura e proteínas para obter energia, o que leva a uma perda de peso.

Além disso, a diabetes pode provocar uma série de complicações como consequência da hiperglicemia mantida a longo prazo. As principais complicações associadas ao diabetes mellitus em cães são:

  • Catarata: opacidade do cristalino. Trata-se da complicação mais frequente da diabetes mellitus nos cachorros. São irreversíveis e podem evoluir com rapidez.
  • Infecções bacterianas: as infecções orais, urinárias e cutâneas são muito frequentes nos cachorros diabéticos.
  • Lipidose hepática: acúmulo de gordura no fígado que ocorre como consequência da mobilização de reservas para obter energia.
  • Pancreatite: mesmo que a pancreatite seja uma causa de diabetes, também pode ser uma complicação. Ocorre, pois a mobilização de reservas de gorduras provoca um estado de hiperlipidemia que pode predispor à uma pancreatite aguda. Te deixamos este outro post do PeritoAnimal sobre como alimentar um cão com pancreatite.
  • Neuropatia periférica: embora seja mais frequente nos gatos, também pode ocorrer nos cachorros.
  • Glomerulopatias: trata-se de um grupo de doenças que ocasionam uma perda da membrana de filtração glomerular e sua integridade.
  • Cetoacidose diabética: é a complicação mais grave da diabetes mellitus. Se não é tratada com rapidez, ocasiona a morte do paciente já que implica em uma deficiência absoluta de insulina.
Diabetes mellitus em cães - Sintomas e tratamento - Sintomas da diabetes mellitus em cães

Diagnóstico da diabetes mellitus em cães

O plano diagnóstico da diabetes mellitus nos cachorros se baseia nos seguintes pontos:

  • História clínica: como comentamos anteriormente, os sinais mais comuns da diabetes nos cachorros são poliúria, polidipsia, polifagia e perda de peso.
  • Análises sanguíneas: em todos os animais diabéticos se detecta hiperglicemia (>200 mg/dl). No caso em que está numa fase duvidosa (180 - 200 mg/dl) se considera que o animal é pré-diabético. Nos animais pré-diabéticos ou potencialmente diabéticos, é recomendável medir os níveis de proteínas glicadas (frutosamina e hemoglobina glicada) que indicam a glicemia nas últimas semanas. Além da hiperglicemia, em muitos pacientes diabéticos pode ser observado um plasma hiperlipidêmico em algumas, bem como o aumento das enzimas hepáticas GPT e fosfatase alcalina.
  • Análise de urina: quando superado o limiar renal, será detectada glicose na urina (glicosúria). Embora o animal apresente poliúria (maior volume de urina), a densidade urinária está normal ou inclusive aumentada devido a presença de glicose na urina sua osmolaridade aumenta. Além disso, em alguns pacientes pode ser observada cetonúria (presença de corpos cetônicos na urina) e proteinúria (presença de proteínas na urina).
  • Diagnóstico por imagem: devido à grande quantidade de complicações que podem ocorrer nos pacientes diabéticos, é conveniente realizar exames de diagnóstico por imagem (principalmente radiografias e ecografias) para detectar estas complicações de forma rápida.

Tratamento do diabetes mellitus em cachorros

A diabetes mellitus é uma doença crônica sem cura, ou seja, não existe um tratamento curativo. No entanto, com um correto manejo da patologia, os cachorros diabéticos podem viver com uma boa qualidade de vida. Por isso, é imprescindível diagnosticas e controlar a doença o mais breve possível, para reduzir ou eliminar os sinais clínicos e retardar a aparição de complicações.

Em qualquer caso, é fundamental que os tutores de cachorros diabéticos conheçam a doença, seus riscos e seu tratamento, já que sua colaboração será imprescindível para controlar a doença. De fato, a atuação dos cuidadores é um dos fatores mais importantes que determinam o êxito ou o fracasso do tratamento.

O tratamento dos cachorros diabéticos se baseia em quatro pilares fundamentais:

  • Insulina: os cachorros diabéticos requerem um tratamento com insulina para toda a vida, o que diferencia do que ocorre com as pessoas, a insulina não pode ser substituída por nenhum outro composto. Existem vários tipos de insulina em função de sua potência e duração do seu efeito. No cachorro, a primeira opção é Caninsulin, uma insulina de ação lenta de origem suína e estruturalmente idêntica à insulina canina. Se administra por via subcutânea, 2 vezes ao dia. Para administrar a dose é fundamental utilizar seringas específicas de insulina veterinária, já que com o uso de seringas de humanos podem ocorrer erros importantes de dose.
  • Dieta e exercícios regulares: os cachorros diabéticos devem ter uma dieta especial que ajude, por um lado, a recuperar o peso perdido e, por outro, a reduzir a hiperglicemia pós-prandial. Deve ser administrada uma dieta reduzida em gorduras (<15% de gordura), rica em fibras (15-22% de fibras) e com os níveis de proteínas normais (20% de proteína). O ideal é repartir a ração em 2 refeições ao dia e utilizar uma ração específica pra cachorros diabéticos. Cabe destacar que sempre deve ser oferecida a comida primeiro e depois a insulina, e deve ser ajustada a dose de insulina em função do que o animal come (por exemplo, se somente comer a metade da ração, somente deve ser administrada a metade da dose de insulina). Te deixamos este artigo com algumas Dietas para cachorros com diabetes, para que possa saber mais sobre o tema.
  • Controle de outras doenças e processos paralelos: qualquer processo patológico ou inclusive fisiológico (como o cio ou gestação) pode fazer que um paciente diabético descompense, já que esses fenômenos podem produzir uma resistência à insulina. Por isso, é importante detectar e tratar esses processos a tempo para manter a diabetes sob controle.
  • Avaliação do tratamento: (revisões): o tratamento da diabetes mellitus é dinâmico e requer o ajuste da dose de insulina durante toda a vida do animal. Por isso, os pacientes diabéticos devem ir em revisões periódicas em que será realizada uma curva glicêmica e controle do peso, da poliúria, polidipsia e polifagia. Com base nos resultados dessas revisões, a dose da insulina será ajustada.
Diabetes mellitus em cães - Sintomas e tratamento - Tratamento do diabetes mellitus em cachorros

Como prevenir a diabetes mellitus em cães?

A prevenção da diabetes mellitus em cachorros não é uma questão simples, já que na maioria dos casos a patologia ocorre por processos que não se pode evitar. No entanto, existem alguns fatores de risco que devem ser considerados para prevenir na medida do possível o aparecimento da diabetes mellitus:

  • Castração: os níveis elevados de progesterona podem produzir resistência à insulina. Por isso, nas cadelas é especialmente recomendável a castração como medida preventiva do diabetes mellitus. Além disso, em cadelas que foi diagnosticada a doença, a castração sempre é indicada já que assim poderá até reverter a doença. Não deixe de ler este artigo sobre a Castração em cachorros: valor e recuperação.
  • Obesidade: prevenir a obesidade mediante uma dieta equilibrada e exercício físico regular evitará algumas das causas da diabetes, como a pancreatite. Consulte este post sobre o Exercício para cachorros obesos.
  • Revisões veterinárias periódicas: mediante estas revisões podem ser identificados animais pré-diabéticos que requerem um manejo específico para evitar que se desenvolva a diabetes. Estas revisões são especialmente recomendáveis nas raças predispostas à diabetes mellitus como: os terriers (particularmente o West Highland terrier), poodle, dachshund, schnauzer e golden retriever.

Agora que você já sabe as causas, sintomas e tratamentos para a diabetes mellitus em cães, talvez possa te interessar o vídeo a seguir no qual falamos sobre 10 raças de cachorros mais propensas a doenças cardíacas.

Este artigo é meramente informativo, no PeritoAnimal.com.br não temos capacidade para receitar tratamentos veterinários nem realizar nenhum tipo de diagnóstico. Sugerimos-lhe que leve o seu animal de estimação ao veterinário no caso de apresentar qualquer tipo de condição ou mal-estar.

Se deseja ler mais artigos parecidos a Diabetes mellitus em cães - Sintomas e tratamento, recomendamos-lhe que entre na nossa seção de Outros problemas de saúde.

Bibliografia
  • Hardy, R.M. (1988). Diabetes mellitus en el perro y en el gato. Revista de AVEPA; 8(2):71-88
  • Marca, M.C., Loste, A. Diabetes mellitus canina y felina: dificultades en su tratamiento y control. Argos; 9-15
Escrever comentário
Adicione uma imagen
Clique para adicionar uma foto relacionada com o comentário
O que lhe pareceu o artigo?
1 de 4
Diabetes mellitus em cães - Sintomas e tratamento