Por que meu gato tem tanta remela?
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Todos os amantes de gatos que não conseguem resistir à tentação de tentar ajudar aqueles filhotinhos que não param de miar debaixo de um carro, já se questionaram porque razão o gatinho tem tantas remelas ou porque tem um olho meio fechado.
Estar longe da ninhada é um fator estressante para o gato e, se ele não conseguir ver, imagine só a sensação de insegurança dele. Podem existir muitos culpados em resposta à pergunta de por que meu gato tem tanta remela. Por isso, neste artigo do PeritoAnimal, vamos apresentar os mais comuns!
Herpesvírus felino tipo 1
O herpesvírus felino do tipo 1 (FHV-1) é um dos responsáveis pelas chamadas "gripes" nos gatos. Tem um tropismo especial pela região ocular e sistema respiratório, ou seja, provoca um quadro que podemos simplificar chamando-lhe conjuntivite e problemas das vias respiratórias altas: sinusite, espirros, rinorreia (secreção nasal) etc.
Quase nenhum gatinho de uma ninhada em que a mãe é portadora se livrará de contrair o vírus, uma vez que a infeção é reativada com o estresse do parto, embora tenha permanecido latente durante bastante tempo. Este vírus pode afetar os filhotes de gato inclusive quando ainda estão no útero materno e, consequentemente, eles nascem com o globo ocular afetado. Costuma originar infeções agudas em gatinhos com menos de 3 meses e moderadas ou latentes em adultos que tenham conseguido controlar a infeção inicial graças a um sistema imunitário competente.
Sintomas
A nível ocular, pode dar lugar a diferentes sinais clínicos que têm um denominador comum: surgirem muitas remelas no gato, de diferente viscosidade e cor. Resumidamente, o que acontece nestes processos oculares é uma produção insuficiente de lágrima, predominando assim a parte mucosa e lipídica sobre a mesma porção aquosa e, por esse motivo, surgem as remelas. Além disso, apresenta os seguintes sinais clínicos:
- Blefarite: inflamação das pálpebras que podem ficar coladas devido à secreção ocular.
- Uveíte: inflamação da câmara anterior do olho
- Queratite: inflamação da córnea.
- Úlcera da córnea.
- Sequestro de córnea: uma parte da córnea morta fica "sequestrada" no olho, dando lugar a uma mancha escura.
Tratamento
A infeção por herpesvírus pode ser uma porta de entrada para diversas bactérias que complicam o quadro. O tratamento passa pela utilização de fármacos de aplicação local como colírios antivirais, como o fanciclovir ou o aciclovir e o controlo das bactérias oportunistas com antibióticos, lubrificação e limpeza das secreções de forma regular. Costumam ser tratamentos longos e que requerem bastante dedicação da parte do tutor.
Perante a presença de remelas no gato, os médicos veterinários normalmente realizam o chamado Teste de Schirmer que mede a produção de lágrima e iniciam o tratamento com colírios.
A infeção pelo FHV-1 dura para sempre?
Se um gato supera a infeção aguda sem danos colaterais, embora possa ficar sempre com uma sequela na córnea, se tornará um portador crônico. A infeção será reativada de vez em quando, com quadros mais leves que podem até passar despercebidos. Por vezes notamos que o nosso gato fecha levemente um olho ou que o olho do gato está lacrimejando muito.
Calicivírus Felino
O calicivírus é outro dos responsáveis pelas "gripes" nos gatos. Pode afetar exclusivamente os olhos ou causar um quadro respiratório e secreção ocular. Pode também originar úlceras na mucosa oral sem outros sinais clínicos associados.
Embora a vacina trivalente nos gatos, que inclui FHV-1, calicivírus e panleucopenia, os proteja da infeção, existem dois problemas:
- Existem muitas estirpes diferentes de calicivírus impossíveis de incluir todas na mesma vacina. Para além disso, estas estirpes estão em constante mutação, enquanto que FHV-1 só existe uma, felizmente.
- Normalmente as vacinas são administradas aos 2 meses de idade e, por essa altura, o gatinho pode já ter sido infetado.
Após a infeção, o vírus é excretado constantemente e por isso existem recaídas frequentes quer de conjuntivites isoladas ou com sinais respiratórios associados como tosse, sinusite, espirros...
Tratamento
Sendo o sinais respiratórios os mais frequentes, o mais provável é ser utilizado um antibiótico por via oral que também é excretado pelas lágrimas, o que permite controlar a infeção secundária por bactérias oportunistas. Se o seu veterinário considerar oportuno, ele pode indicar um colírio antibiótico e/ou anti-inflamatório (caso a conjuntiva esteja muito afetada). O fato de existir uma diminuição da produção de lágrima faz com que esta opção seja muito utilizada. Os antivirais não têm a mesma eficácia que no FHV-1.
Para chegar a um diagnóstico são realizadas provas sorológicas, tal como no caso do herpesvírus, embora a suspeita clínica e a resposta ao tratamento possam ser suficientes.
Clamidiose felina
A bactéria Chlamydophila felis não participa nas gripes felinas, mas pode surgir no olho como consequência de uma infeção vírica, aproveitando as defesas baixas.
Costuma provocar uma infeção aguda, com secreção ocular intensa, mucopurulenta e uma grande inflamação da conjuntiva.
O tratamento para a clamidiose felina, uma vez identificada por provas laborais (recolhe-se uma amostra da conjuntiva com uma zaragatoa e é enviada para cultivo em laboratório) é à base de pomadas ou colírios de um grupo concreto de antibióticos (tetraciclinas) durante várias semanas.
Se a infeção e produção de remelas nos olhos do nosso gato não melhorarem com os colírios habituais, o nosso veterinário suspeitará desta bactéria nas consultas de revisão e seguramente pedirá provas específicas para a detectar e proceder ao tratamento adequado.
Remelas em gatos de cara achatada
Nas raças braquicefálicas (como o gato persa) é muito frequente aparecerem secreções no líquido lacrimal de forma constante e, por essa razão, este tipo de gatos têm tendência a viver constantemente com remelas.
Devido à fisionomia da cabeça destas raças, os seus condutos nasolacrimais podem ficar obstruídos, transbordando lágrimas para o exterior e ficando a zona medial do olho seca e colada. O aspecto final é como uma espécie de crosta ou remela viscosa de cor marrom e uma aparência suja daquela zona, podendo existir vermelhidão na zona da conjuntiva. Para além disso, os olhos que sobressaem (olhos esbugalhados) podem ficar secos.
A limpeza diária das secreções para evitar que sequem e formem feridas, seja com soro fisiológico ou com produtos específicos, é fundamental nestes gatos. Se o nosso veterinário considerar oportuno pode recomendar a aplicação de uma lágrima artificial para prevenir problemas na córnea. Não perca o nosso artigo para aprender a limpar os olhos do seu gato passo a passo.
Este artigo é meramente informativo, no PeritoAnimal.com.br não temos capacidade para receitar tratamentos veterinários nem realizar nenhum tipo de diagnóstico. Sugerimos-lhe que leve o seu animal de estimação ao veterinário no caso de apresentar qualquer tipo de condição ou mal-estar.
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