Problemas oculares

Olho de gato remelando - Causas e o que fazer

 
Carla Moreira
Por Carla Moreira, Médica veterinária. 10 novembro 2022
Olho de gato remelando - Causas e o que fazer
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Gatos com secreção ocular é um atendimento comum na clínica veterinária, sendo a conjuntivite a doença ocular mais frequente na espécie. Várias são as doenças que fazem os olhos do gato remelar, sendo difícil diagnosticar a causa exata, principalmente na fase crônica.

A maioria dos casos de conjuntivite felina é de origem infecciosa, sendo os microrganismos mais comuns o herpesvírus felino tipo 1 e a Chlamydophila felis, que são agentes patogênicos primários da conjuntiva. Já o Mycoplasma spp. é relatado como causador de conjuntivite felina, mas também pode ser isolado de gatos saudáveis. O calicivírus felino também é responsável por casos de conjuntivite em gatos, embora seja menos frequente e de menor importância[1].

O diagnóstico precoce e o tratamento correto podem ser fundamentais para que o olho afetado seja salvo. Muitos gatos ficam cegos por causa de infecções oftalmológicas não tratadas ou tratadas tardiamente. Se o gato está com o olho remelando e você não sabe o que fazer, continue lendo este artigo do PeritoAnimal e aproveite todas as dicas!

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Índice

  1. Causas para o olho do gato remelando
  2. Remela no olho do gato pode ser verme?
  3. O olho do meu gato está remelando e fechado, é normal?
  4. Como limpar e tratar o olho do gato com muita remela?

Causas para o olho do gato remelando

O olho do gato remelando (secreção ocular) pode ser um sinal de conjuntivite, acompanhada de edema da conjuntiva, vermelhidão e blefaroespasmo (ato de piscar constantemente). Várias podem ser as causas de conjuntivite em felinos:

1.Vírus

1.1 Herpesvírus Felino tipo 1

O herpesvírus felino tipo 1 é um vírus frágil no ambiente, sobrevivendo até 18 horas em ambiente úmido e menor tempo em lugares secos, sendo facilmente eliminado pelos detergentes comuns. Esse agente é excretado nas secreções oculares, nasais e orais, sendo a transmissão mais comum via contato direto com um gato infectado. As principais fontes de infecção são gatos com a doença aguda e animais portadores que sofrem reativação viral. Fatores de estresse facilitam a infecção pelo herpesvírus felino tipo 1, como a imunossupressão pelo vírus da imunodeficiência felina (FIV) e da leucemia felina (FeLV). Uma vez infectado, o felino torna-se portador latente vitalício, ocorrendo episódios de reativação e disseminação viral de forma espontânea, particularmente quando houver fator de estresse envolvido.

O herpesvírus felino tipo 1 possui tropismo para o epitélio da conjuntiva ocular, mucosa nasal e faríngea, e em menor grau, pelo epitélio da córnea, levando ao olho do gato ficar remelando. Caso a infecção ocorra antes da abertura das pálpebras dos filhotes, pode ocorrer inflamação aguda da conjuntiva, com acúmulo de secreção mucopurulenta no saco conjuntival e distensão da pálpebra (oftalmia neonatal), podendo causar lesões graves na córnea e perfuração ocular.

1.2 Calicivírus felino

O calicivírus felino é predominantemente excretado nas secreções orais, nasais e oculares, ocorrendo a transmissão principalmente por contato direto. Os sintomas podem variar conforme a virulência da cepa infectante, sendo bastante comum a conjuntivite e o corrimento ocular.

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2. Bactérias

2.1 Chlamydophila felis

Outro dos motivos para encontramos um gato com o olho remelando é a clamidiose ou pneumonite felina, uma enfermidade infectocontagiosa causada pela Chlamydophila felis, responsável por doenças do trato respiratório superior (Complexo Respiratório Felino) e por conjuntivite aguda à crônica em gatos domésticos. Há suspeitas do seu envolvimento em doenças do trato reprodutivo, como provável agente causador de abortos, mortalidade neonatal e infertilidade, principalmente em gatos domésticos mantidos em gatis (abrigos de gatos).

A infecção pela C. felis é mais comum em ambientes com vários animais, particularmente em colônias de gatos e gatis, sendo mais frequente em gatos jovens, especificamente com idades compreendidas entre os 2 meses e 1 ano de idade. A partir desta idade, a prevalência da infecção diminui progressivamente, provavelmente devido ao aumento da imunidade natural com o avançar da idade. A infecção é menos provável em gatos com mais de 5 anos. Gatinhos com menos do que 8 semanas de idade encontram-se protegidos pelos anticorpos maternos, embora as infecções neonatais ocorram.

Os sintomas surgem após um período de incubação de 2 a 5 dias, com hiperemia conjuntival (olho vermelho), quemose (edema da conjuntiva ocular), corrimento ocular seroso a mucopurulento (remela) e blefarospasmo. A quemose é a característica predominante da clamidiose, que pode, inicialmente, ser unilateral, mas tipicamente progride, tornando-se bilateral dentro de alguns dias.

2.2 Mycoplasma spp.

O gato pode ficar com o olho remelando por conta da conjuntivite provocada pela bactéria Mycoplasma spp., algo pouco claro e alvo de estudo. Se por um lado os Mycoplasma spp. são considerados como constituintes da microbiota do saco conjuntival felino, pois são frequentemente isolados em gatos com olhos saudáveis, por outro são implicados como agentes patogênicos da conjuntiva, pois são isolados em gatos com conjuntivite.

A conjuntivite causada por Mycoplasma spp. geralmente apresenta-se de forma moderada. Os sintomas incluem conjuntivite unilateral ou bilateral, com corrimento ocular seroso, que posteriormente se torna mucopurulento. Inicialmente pode haver vermelhidão conjuntival, edema, blefarospasmo e lacrimejamento. Ocasionalmente há formação de uma pseudomembrana (como se fosse uma película) que consiste na presença de exsudado espessado esbranquiçado que cobre a conjuntiva. O curso normal da doença em animais que não recebem tratamento é de 60 dias.

3. Ceratoconjuntivite seca ou olho seco

A ceratoconjuntivite seca é rara no gato, sendo uma alteração na quantidade da porção aquosa do filme lacrimal pré-corneano. Os olhos ficam ressecados e com a conjuntiva inflamada, ocorre dor ocular, podendo causar ulceração corneana nos casos mais graves.

Remela no olho do gato pode ser verme?

Vermes intestinais não causam remela nos olhos nos gatos. O que pode acontecer em casos de grande infestação é a desidratação do animal, o que tornará a secreção ocular normal mais espessa, simulando uma conjuntivite infecciosa.

No entanto, há relatos de conjuntivite em gatos associada ao nematódeo Thelazia callipaeda, que pode ser encontrado embaixo das pálpebras, membrana nictitante (ou terceira pálpebra), no saco conjuntival ou nos ductos da glândula lacrimal de cães, gatos e carnívoros silvestres. A T. callipaeda é transmitida pela mosca da fruta.

O olho do meu gato está remelando e fechado, é normal?

Não. O olho do gato que remela e não abre está doente. O animal deverá ser examinado por um médico veterinário para que sejam realizados exames e diagnosticada a causa dessas anormalidades.

Como limpar e tratar o olho do gato com muita remela?

Inicialmente, o olho do gato remelando deverá ser higienizado com soro e uma gaze estéril. Nunca tente puxar secreções secas e grudadas nos pelos e na pele, pois isso pode ferir as pálpebras e causar mais dor ao animal. O ideal é umedecer os olhos com uma pomada oftálmica (Keravit, Epitezan ou Liposic) ou com soro e retirar as secreções amolecidas com muita delicadeza. Caso você não tenha acesso a esses medicamentos, pode usar um pouco de água filtrada morna.

Os medicamentos oftalmológicos para tratar a conjuntivite deverão ser prescritos pelo médico veterinário, que analisará a necessidade de antibióticos, lubrificantes e/ou anti-inflamatórios. O uso de corticoides não é indicado quando houver úlcera de córnea, sendo necessário tratamento específico neste tipo de complicação.

Olho de gato remelando - Causas e o que fazer - Como limpar e tratar o olho do gato com muita remela?

Agora que você já sabe as causas e como tratar o olho do gato remelando, não perca o vídeo a seguir em que falamos sobre 5 remédios caseiros para a conjuntivite em gatos que podem auxiliar no tratamento prescrito pelo veterinário (que deve ser consultado antes de você oferecer alguma dessas opções ao felino):

Este artigo é meramente informativo, no PeritoAnimal.com.br não temos capacidade para receitar tratamentos veterinários nem realizar nenhum tipo de diagnóstico. Sugerimos-lhe que leve o seu animal de estimação ao veterinário no caso de apresentar qualquer tipo de condição ou mal-estar.

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Referências
  1. Amor, D.M.P. Etiologia das conjuntivites felinas e abordagem ao seu diagnóstico. Universidade de Lisboa, Faculdade de Medicina Veterinária, 2014. Disponível em https://www.repository.utl.pt/bitstream/10400.5/7778/1/Etiologia%20das%20conjuntivites%20felinas%20e%20abordagem%20ao%20seu%20diagn%C3%B3stico.pdf. Acesso em 09/11/2022.
Bibliografia
  • Oriá, A.P. et al. Síndromes oculares secundárias a infecção pelo Herpesvírus felino – 1 – Revisão. Medicina Veterinária, v.6, n.4, p.16-25, 2012. Disponível em: file:///C:/Users/carlamoreira/Downloads/608-Manuscrito-1820-1-10-20160225.pdf. Acesso em 09/11/2022.
  • Seki, M.C. Chlamydophila felis em gatos (Felis catus):detecção de antígeno e pesquisa de anticorpos. Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho”, 2008. Disponível em https://www.fcav.unesp.br/Home/download/pgtrabs/pan/m/2909.pdf. Acesso em 09/11/2022.
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