Inflamação intestinal em cães: sintomas, causas e tratamentos

A inflamação intestinal em cães pode ser classificada com base em diversos critérios. Se considerarmos a localização da inflamação, podemos ter os seguintes tipos:

• Gastroenterite: se tanto o estômago quanto o intestino estiverem afetados;
• Enterite: se apenas o intestino sofrer alterações, enquanto a mucosa estomacal permanece intacta.
• Colite: se a inflamação se localizar principalmente no intestino grosso, mais especificamente no cólon.

Existem muitas semelhanças entre esses três tipos de inflamações, embora algumas causas e sintomas possam variar entre eles, como veremos a seguir.

Por outro lado, se nos concentrarmos no tipo de exsudato produzido pela inflamação, independentemente de sua localização, podemos encontrar, principalmente:

• Inflamação fibrinosa: com presença de fibrina;
• Inflamação purulenta: com presença de pus;
• Inflamação hemorrágica: com presença de sangue;
• Inflamação necrótica: com presença de tecido morto;
• Inflamação catarral: com presença de muco.

A enterite ou gastroenterite de tipo catarral é o tipo de inflamação mais frequente em todas as espécies animais. Ela se caracteriza por causar dilatação do intestino e danificar a mucosa, fazendo com que o intestino se encha de um fluido mucoso que, muitas vezes, é misturado com soro ou com pus. As causas, como veremos a seguir, podem ser bastante variadas.

Embora existam muitas causas, a seguir explicamos quais são as mais frequentes que podem originar uma inflamação intestinal em cães:

• Infecção viral ou bacteriana: a presença de microrganismos patogênicos que atacam a integridade da mucosa intestinal é uma razão muito comum pela qual um cachorro pode sofrer uma inflamação intestinal. São muitas as bactérias e os vírus com a capacidade potencial de causar danos desse tipo, e alguns deles são causadores de patologias muito conhecidas, como a parvovirose canina ou a salmonelose;
• Parasitoses: outra causa muito frequente de inflamação intestinal são as infestações parasitárias, especialmente de nematódeos e cestódeos (os chamados "vermes intestinais") que se aderem, se alimentam e se reproduzem no trato digestivo dos cães. Também podem causar inflamação os protozoários, pequenos microrganismos causadores de doenças como a giardíase ou a coccidiose;
• Alergias e intolerâncias: as alergias e intolerâncias alimentares sempre provocam uma reação inflamatória no sistema digestivo, causando desconforto no animal. Alguns alimentos, como o frango ou certos cereais, costumam ser mais alergênicos do que outros, assim como existem raças mais predispostas a sofrer alergias. Em qualquer caso, qualquer cachorro pode desenvolver uma alergia alimentar, e encontrar e eliminar o ingrediente causador é fundamental para que a inflamação desapareça;
• Intoxicações: os cães são animais muito curiosos e os filhotes, em particular, costumam ser muito travessos, tendo tendência a lamber ou até ingerir coisas que chamam sua atenção. O problema surge quando ingerem substâncias tóxicas, como certas plantas ornamentais ou silvestres, produtos de limpeza, químicos industriais, tintas, etc. Todos esses produtos podem gerar reações químicas perigosíssimas no estômago e intestino do animal, podendo até queimar e necrosar sua mucosa. Descubra aqui as "Plantas tóxicas para cachorros";
• Obstrução intestinal: é bastante comum que os tutores procurem atendimento veterinário porque seus cães ingeriram algum objeto, como um osso, um brinquedo ou uma meia. Se esses objetos ficarem presos no trato gastrointestinal, a mucosa ao redor começará a inflamar, fluidos se acumularão e há o risco de que o tecido morra e se necrose;
• Ansiedade e estresse: assim como ocorre com as pessoas, os cães que sofrem de transtornos de ansiedade ou estão expostos a níveis elevados de estresse de forma crônica podem desenvolver problemas gastrointestinais recorrentes, caracterizados, sobretudo, por episódios de diarreia e falta de apetite;
• Tratamento farmacológico: alguns medicamentos, como certos anti-inflamatórios e antibióticos, podem prejudicar a integridade da mucosa gástrica e intestinal. Por esse motivo, recomenda-se não prolongar excessivamente o uso desses medicamentos e, se necessário, complementá-los com um protetor gástrico administrado, pelo menos, uma hora antes da ingestão do fármaco;
• Neoplasias: embora sejam bem menos frequentes, não há dúvida de que um tumor no intestino tem a capacidade potencial de danificar a mucosa e provocar uma inflamação, que será mais ou menos grave dependendo das características do próprio tumor.

A inflamação intestinal caracteriza-se por um espessamento e vermelhidão da mucosa, cuja estrutura se altera, e pela aparição de exsudatos característicos de cada tipo de inflamação, geralmente de muco, soro e pus. Essas manifestações ocorrem dentro do trato digestivo, por isso não podemos vê-las a olho nu, o que dificulta seu diagnóstico. No entanto, existem vários sintomas que são bem evidentes e que geralmente surgem de forma secundária a uma inflamação intestinal. Os sinais e sintomas clínicos mais comuns são:

• Diarreia: toda inflamação intestinal costuma resultar na produção de fezes moles ou diarreia (isto é, eliminação de fezes totalmente líquidas e de forma frequente). Este é o sinal mais característico e o que geralmente preocupa os tutores. Vale lembrar que, se a inflamação for causada por parasitas, é comum encontrá-los nas fezes, sob a forma de vermes ou grânulos de arroz móveis;
• Sangue nas fezes: as inflamações mais graves destroem a camada mucosa que protege o estômago e/ou intestino e podem até alterar os vasos sanguíneos subjacentes. Algo muito característico das fezes com sangue é que a cor da mesma indica onde está localizada a lesão: o sangue de cor negra está digerido, portanto, o problema vem do estômago, enquanto o sangue de cor vermelho-vivo provém de uma lesão no intestino ou no reto. De todo modo, a presença de sangue abundante nas fezes representa uma emergência veterinária;
• Muco nas fezes: como indicamos anteriormente, o tipo de inflamação mais comum nos cães é a enterite catarral, que se caracteriza pela produção de excesso de muco. Por isso, é comum observar muco nas fezes de um cachorro com inflamação intestinal. Às vezes, esse muco pode estar misturado com pus, o que faz com que sua cor seja variável e não totalmente transparente, mas sim mais esverdeada, amarelada ou esbranquiçada;
• Vômitos: o desconforto intestinal causado por uma enterite, colite ou gastroenterite geralmente provoca vômitos nos cães, que sentem náuseas frequentemente e manifestam ânsias sempre antes de vomitar;
• Dor abdominal: embora os cães não possam nos expressar com palavras que estão sentindo dor, eles emitem alguns sinais (e até expressões faciais) que podem nos alertar. Por exemplo, se o animal andar curvado, com o abdômen contraído, se se olhar ou se lamber insistentemente na área do abdômen, ou se "endurecer a barriga" ou se queixar quando tocamos essa região, é muito provável que esteja sentindo dor. Para mais detalhes, não deixe de conferir este artigo: "5 sinais de dor no cachorro";
• Apatia e falta de apetite: são dois sintomas que costumam aparecer em praticamente qualquer patologia, pois um animal que não está se sentindo bem não terá vontade de brincar, passear ou comer normalmente. Claro, também são comuns no caso da inflamação intestinal e desaparecem assim que o animal recebe tratamento e começa a se sentir melhor;
• Febre: a febre é uma tentativa fisiológica do organismo de se defender e eliminar os agentes que estão causando a lesão, especialmente quando se trata de bactérias e vírus. Embora seja um mecanismo natural, a febre pode ser muito perigosa se subir demais. Por isso, é fundamental buscar atendimento veterinário urgente caso a temperatura do cão ultrapasse os 39,5 °C.

A primeira coisa que o veterinário fará para diagnosticar o problema do animal é consultar seu histórico médico e coletar informações sobre seus sintomas, estilo de vida, atividades recentes, alimentação, se foi desparasitado e vacinado adequadamente, entre outros. Com esses dados, já é possível suspeitar da existência de uma enterite, pois se trata de uma patologia muito comum e com sinais clínicos bem definidos.

No entanto, o veterinário não pode diagnosticar definitivamente a presença de uma inflamação intestinal sem realizar algum exame complementar que a confirme. Para isso, o mais comum é recorrer a uma análise coprológica, ou seja, um exame das fezes, seu conteúdo e consistência, além de realizar alguma técnica de diagnóstico por imagem que permita observar a aparência do trato digestivo. Nesse sentido, o mais utilizado é a ultrassonografia abdominal, pois é uma técnica pouco invasiva, totalmente inofensiva para o animal e que fornece muitas informações sobre seu estado intestinal.

Uma vez diagnosticada a inflamação intestinal, o veterinário irá determinar, com base nas informações disponíveis, qual foi a causa provável da lesão e, a partir disso, prescreverá o tratamento mais adequado. Em geral, todo tratamento incluirá o seguinte:

• Administração de uma dieta especial: uma dieta suave e adaptada às condições do animal, juntamente com uma suplementação de probióticos para ajudar a flora bacteriana intestinal a se recuperar e voltar a funcionar adequadamente;
• Fluidoterapia: no caso de diarreias abundantes, também pode ser necessário manter o cão com fluidoterapia durante um tempo para prevenir a desidratação;
• Medicamentos: algumas inflamações requerem um tratamento farmacológico e/ou antiparasitário específico para eliminar os agentes causadores do dano;
• Cirurgia: outras inflamações, como as provocadas por obstruções ou neoplasias, provavelmente só poderão ser resolvidas por meio de uma cirurgia, mais ou menos complexa.

No caso específico de alergia alimentar, o animal deverá seguir uma dieta de eliminação, na qual ingredientes causadores do problema inflamatório serão descartados gradualmente. Também é provável que o cão precise consumir uma ração hipoalergênica a longo prazo e, nos casos mais complicados, pode-se optar por realizar um teste de alergias, feito por meio de uma amostra de sangue.

Por sua vez, os casos de diarreia e dor abdominal provocados por ansiedade ou estresse devem ser tratados o mais rápido possível por um profissional etólogo, sendo muito importante não subestimar esse tipo de problema, pois, embora de natureza emocional e não física, afeta significativamente o bem-estar do cão e sua qualidade de vida.

Por fim, é importante lembrar que algumas causas de inflamação, como obstruções ou intoxicações, são urgências veterinárias que precisam ser tratadas imediatamente. Portanto, recomendamos não ignorar os sintomas e procurar a ajuda de um profissional desde o primeiro momento.

Como as causas são tão variadas, os prognósticos também são, e podem mudar significativamente dependendo de certos fatores. Embora o veterinário seja quem melhor poderá explicar as expectativas do tratamento, em regra geral, todas as inflamações diagnosticadas em estágios iniciais têm um prognóstico muito melhor do que aquelas que vêm apresentando sintomas por dias. Por esse motivo, é tão importante que você procure o veterinário assim que seu cachorro apresentar os primeiros sinais de desconforto.

Embora, felizmente, a maioria das inflamações que os cães sofrem sejam leves e passageiras, algumas situações, como intoxicações, obstruções intestinais, neoplasias e certas patologias, como o parvovírus, são potencialmente mortais se não forem tratadas a tempo.

Este artigo é meramente informativo, no PeritoAnimal.com.br não temos capacidade para receitar tratamentos veterinários nem realizar nenhum tipo de diagnóstico. Sugerimos-lhe que leve o seu animal de estimação ao veterinário no caso de apresentar qualquer tipo de condição ou mal-estar.

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