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Meu cachorro comeu um rato, ele pode morrer?

 
Carla Moreira
Por Carla Moreira, Médica veterinária. 22 setembro 2022
Meu cachorro comeu um rato, ele pode morrer?
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O ato de caçar sempre esteve presente no comportamento canino e continuou mesmo após a sua domesticação pelo homem. Perseguir algum animal menor e mais fraco pode ser, para os cães, uma forma de fazer exercícios e até mesmo se divertir.

Apesar de malvistos pelas pessoas, os ratos podem ser uma presa muito interessante para os cachorros, mesmo que a caçada seja por mera diversão, sem o objetivo de matar a fome. Então, não vai adiantar você brigar com seu amigo caso ele pegue um rato por aí, mas alguns cuidados devem ser tomados, pois a brincadeira poderá oferecer algum risco de contrair doenças.

Além de transmitir doenças como a leptospirose, os ratos podem causar envenenamento de forma secundária nos cães e gatos, ou seja, comer um roedor que ingeriu veneno pode resultar em intoxicação no caçador também. Se seu cachorro comeu um rato e você ficou na dúvida se ele pode morrer, continue lendo este artigo do PeritoAnimal para conhecer todos os perigos dessa situação.

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Índice

  1. É perigoso se o cachorro matar um rato?
  2. Meu cachorro comeu um rato, ele pode morrer?
  3. O que acontece se um cachorro comer um rato envenenado?
  4. Sintomas de leptospirose nos cães
  5. Leite corta o efeito do veneno em cachorros?
  6. O que fazer com o cachorro que comeu um rato?

É perigoso se o cachorro matar um rato?

Durante a caçada ao rato, vários acidentes podem acontecer com o cachorro, como arranhões, mordidas e a transmissão de doenças veiculadas pela urina, fezes ou sangue do roedor. Por esses motivos, o ideal é evitar que o cão fique caçando ratos de esgoto por aí. Mas caso isso aconteça, não o deixe comer a sua presa, retirando-a o mais rápido possível de perto do cachorro. Lembre-se de utilizar luvas quando for pegar no rato, evitando contato direto com a sua pele.

Neste outro artigo te contamos como espantar ratos.

Meu cachorro comeu um rato, ele pode morrer?

Se o seu cachorro comer um rato, você deverá observá-lo por alguns dias. Caso ele apresente alguma alteração, como tontura, vômitos, diarreia ou icterícia, o ideal é que seja levado a um médico veterinário para um exame detalhado. O risco de morte é bem pequeno, ocorrendo somente em casos de ingestão de ratos mortos por altas doses de veneno.

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O que acontece se um cachorro comer um rato envenenado?

Venenos de ratos são produtos extremamente perigosos, tanto para cães e gatos, quanto para pessoas. Devido à grande facilidade de aquisição desses agentes de controle de roedores, não são raros os casos de envenenamento de animais de companhia, inclusive pela ingestão de ratos envenenados (envenenamento de forma secundária).

Dependendo da quantidade de veneno ingerido pelo rato, o cão pode absorver uma dose que causará sintomas de intoxicação, que podem ser:

  • Hemorragias
  • Anemia
  • Hematoma
  • Melena (sangue nas fezes)
  • Hemotórax (sangue na cavidade torácica)
  • Hifema (hemorragia na câmara anterior do olho)
  • Sangramento nasal
  • Expectoração de sangue (hemorragia pulmonar)
  • Fraqueza
  • Ataxia
  • Cólicas abdominais
  • Dispneia.

Sintomas de leptospirose nos cães

A leptospirose é uma zoonose de distribuição mundial que acomete animais domésticos, silvestres e o ser humano. Os cães (Canis familiares) e o rato de esgoto (Rattus novergicus) são os principais reservatórios da leptospira no ambiente urbano, sendo importantes na transmissão da doença para as pessoas[1].

O cachorro, quando vive em cidades, pode se tornar uma fonte de transmissão da doença devido ao seu convívio próximo com o ser humano. O cão pode se comportar como portador da leptospirose, o que contribui para a persistência e propagação dos focos da zoonose. A falta de saneamento básico é um fator importante na propagação da doença, expondo cães e pessoas ao agente causador da leptospirose. São considerados fatores de risco para a patologia a atividade do cão (caçador, pastoreio, guarda), as condições sanitárias do ambiente, a existência de portadores naturais e os períodos de chuva.

A bactéria causadora dessa patologia é um espiroqueídeo (bactéria em forma de espiral), da família Leptospiraceae e o do gênero Leptospira, que precisa de ambiente com condições favoráveis para sua sobrevivência (terrenos úmidos, pântanos, córregos, lagos e locais com excesso de detritos e umidade), onde períodos de chuva e regiões com solo neutro ou levemente alcalino podem ocasionar surtos epidemiológicos. Cães errantes ou mantidos em grupos (em abrigos) podem se tornar uma importante fonte transmissora das leptospiras patogênicas.

A transmissão geralmente ocorre pelo contato com leptospiras no ambiente por meio de água e alimentos contaminados com urina ou carcaça de animais infectados. Após penetrarem pelas mucosas, pele íntegra ou em condições que favoreçam a dilatação dos poros, as leptospiras multiplicam-se rapidamente ao ingressarem nos vasos sanguíneos, produzindo lesões em vários órgãos do animal infectado.

Os sinais clínicos no cão podem ser variados, dependendo da idade do animal, da sua imunidade, de fatores ambientais, da virulência da leptospira e do órgão afetado. Duas formas clássicas de leptospirose são conhecidas no cão: a forma ictérica e a não ictérica. Vamos explicar cada uma delas e suas características:

1. Forma ictérica

Causada pelas leptospiras do grupo icterohaemorrhagiae, com evolução aguda, principalmente nos cães mais jovens, culminando com o óbito em alguns dias (de 48 a 72 horas). O principal sintoma que chama a atenção dos tutores e dos veterinários é a icterícia (pele e mucosas amareladas), podendo ocorrer também hemorragias.

2. Forma não ictérica

Causada mais comumente pelo sorovar canicola, caracteriza-se pelo comprometimento renal, que resulta em insuficiência renal e aumento da ureia no sangue, sem o aparecimento de icterícia. Os sintomas predominantes são gastroentéricos: vômito, diarreia (nem sempre), ulcerações na cavidade oral e necrose da língua (em casos mais avançados).

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Leite corta o efeito do veneno em cachorros?

Ao contrário da crença popular, leite não corta o efeito do veneno. O tratamento para um cachorro intoxicado precisa ser prescrito pelo médico veterinário, após análise do histórico e do quadro clínico do animal, não sendo indicados remédios caseiros, como leite, clara de ovo ou borra de café (podem acelerar a absorção do veneno).

O carvão ativado pode ser útil em ingestão recente de um rato envenenado, com menos de 2 horas. Funciona absorvendo os compostos ainda no estômago. No entanto, não deve ser administrado em suspeitas de perfuração gástrica ou em animais que estejam vomitando ou com náusea.

O que fazer com o cachorro que comeu um rato?

Caso você veja o cão comendo o rato, tente retirá-lo da boca do animal utilizando uma luva, para que você garanta a sua proteção. Se não der tempo para essa manobra, você pode dar um banho no cachorro, para garantir que ele fique livre de contato com a urina ou fezes do rato.

Após esses procedimentos, como já falamos anteriormente, o cachorro deve ser observado por alguns dias. Caso haja algum comportamento anormal, como tonturas, salivação, vômito, diarreia, icterícia ou dores no corpo, leve-o imediatamente ao veterinário e relate que ele comeu um rato. É mais provável que nada aconteça ao seu amigo, mas a observação é de extrema importância.

Agora que você viu o que fazer se o seu cachorro tiver comido um rato, também recomendamos este outro artigo no qual falamos o que deve ser feito se ele comer veneno de rato.

Este artigo é meramente informativo, no PeritoAnimal.com.br não temos capacidade para receitar tratamentos veterinários nem realizar nenhum tipo de diagnóstico. Sugerimos-lhe que leve o seu animal de estimação ao veterinário no caso de apresentar qualquer tipo de condição ou mal-estar.

Se deseja ler mais artigos parecidos a Meu cachorro comeu um rato, ele pode morrer?, recomendamos-lhe que entre na nossa seção de Outros problemas de saúde.

Referências
  1. Castro, J.R. et al. Leptospirose canina: revisão de literatura. PubVet, 2021. Disponível em https://portalpubvet.com.br/index.php/2021/09/05/leptospirose-canina-revisao-de-literatura/. Acesso em 21/09/2022.
Bibliografia
  • Hagiwara, M.K, Lustosa, M., Kogika, M.M. Leptospirose canina. Vet News, n.67, 2004. Disponível em file:///C:/Users/carlamoreira/Downloads/leptospirose%20canina.pdf. Acesso em 21/09/2022.
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