Peritonite Infecciosa Felina (PIF) - Sintomas e Tratamento
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A peritonite infecciosa felina é uma das doenças infecciosas mais graves que afetam os felinos devido, entre outras causas, ao seu prognóstico grave e à inexistência, até hoje, de um tratamento verdadeiramente eficaz.
É mais comum em gatos jovens com menos de dois anos e em gatos a partir de 12 anos, sendo a incidência muito maior em gatos que vivem em bandos ou comunidades de gatos. A doença se desenvolve quando o coronavírus entérico felino sofre mutação, e é a partir desse momento que, a depender do estado imunológico celular do gato, se desenvolverá a forma seca ou a forma úmida da doença, esta última mais grave. Neste artigo do PeritoAnimal, abordaremos em profundidade tudo o que é necessário saber sobre a peritonite infecciosa felina (PIF), uma doença tão preocupante para os cuidadores de gatos e tão devastadora para esses animais.
- O que é a peritonite infecciosa felina?
- Qual vírus causa PIF em gatos?
- Como é a contaminação por peritonite infecciosa felina?
- Sintomas da peritonite infecciosa felina
- Diagnóstico da peritonite infecciosa felina
- Tratamento para a peritonite infecciosa felina
- Expectativa de vida de um gato com PIF
- Como prevenir a PIF em gatos?
O que é a peritonite infecciosa felina?
A peritonite infecciosa felina (PIF) é uma doença infecciosa grave, debilitante, progressiva e geralmente fatal, que afeta os felinos selvagens e domésticos. É um processo de origem viral e de distribuição mundial que possui um grande componente imunitário.
A incidência dessa doença é maior em gatinhos com menos de 2 anos e em gatos com mais de 12 anos, especialmente os de raça pura de criadouros ou aqueles que vivem em bandos, devido a uma maior possibilidade de contágio pelo vírus causador.
Este vírus, causando ou não a doença da peritonite em algum momento, afeta o sistema digestivo dos gatos.
Qual vírus causa PIF em gatos?
O coronavírus felino (CoVF) é o agente que pode levar ao desenvolvimento da PIF. É um vírus de RNA envolto, pertencente à família Coronaviridae e ao gênero Alphacoronavirus. Estima-se que até 90% dos gatos que vivem em comunidades/bandos e até 50% dos que vivem sozinhos sejam soropositivos para o CoVF. Esse vírus entra pelo trato oral e se dirige às células intestinais (enterócitos), onde se multiplica causando uma diarreia leve, da qual os animais se recuperam. A eliminação do vírus começa dois ou três dias após a infecção e pode se prolongar por muito tempo, até mesmo durante toda a vida do gato.
No entanto, em menos de 20% desses gatos soropositivos, o vírus sofre uma mutação, adquirindo a capacidade de infectar células defensivas chamadas macrófagos e, assim, se espalhar por todo o organismo do felino, dando origem à doença da PIF. No desenvolvimento dessa doença, o estado do sistema imunológico celular do gato é fundamental, de modo que:
- Se o sistema imunológico celular estiver forte, a doença não se desenvolve;
- Se o sistema imunológico celular estiver parcialmente suprimido, a PIF se desenvolve na forma seca;
- Se o sistema imunológico celular estiver muito suprimido, a PIF se desenvolve na forma úmida.
Como é a contaminação por peritonite infecciosa felina?
Por afetar o sistema digestivo, a PIF é transmitida principalmente de forma indireta através das fezes ou qualquer objeto contaminado por elas, especialmente caixas de areia, onde o vírus pode permanecer ativo por até sete semanas.
Por outro lado, o vírus pode ser transmitido diretamente através da saliva e, inclusive, já há um caso de contágio transplacentário. Como mencionamos, é uma doença altamente contagiosa, portanto é fundamental isolar o gato doente dos demais, caso haja vários gatos convivendo em um lar.
A peritonite infecciosa felina é contagiosa para humanos?
Não, a PIF não pode ser transmitida para humanos. É um vírus que circula exclusivamente entre gatos, portanto as pessoas não podem contraí-lo.
Sintomas da peritonite infecciosa felina
A sintomatologia comum à forma seca e à forma úmida da PIF são sintomas inespecíficos: febre, depressão, anorexia variável, palidez das mucosas ou icterícia, emagrecimento progressivo e atraso no crescimento dos gatinhos.
Sintomas da PIF seca
Na forma seca da PIF, ocorre uma hipersensibilidade do tipo IV, caracterizada pela formação de infiltrados piogranulomatosos frequentemente ao redor dos vasos sanguíneos. Esses piogranulomas produzirão sinais clínicos variáveis, dependendo do órgão afetado, por exemplo:
- Nos rins, produzirão sinais clínicos de doença renal;
- No fígado, insuficiência hepática;
- Nos pulmões ou pleura, dificuldade respiratória e sinais respiratórios;
- No intestino, cólon, ceco e nódulos linfáticos ileocólicos, irá provocar vômitos ou diarreia;
- No cérebro, sinais neurológicos como convulsões, alteração do estado mental, alterações no comportamento, déficits em pares cranianos, sinais vestibulares, hiperestesia, ataxia, tetraparesia e reações posturais anormais.
Também podem aparecer sinais cutâneos, como pápulas eritematosas que não coçam no tronco e pescoço, edema subcutâneo, síndrome de fragilidade cutânea e nódulos no pescoço e extremidades anteriores. Nas articulações, pode ocorrer sinovite generalizada, e o olho também pode ser afetado com uveíte anterior, coriorretinite, hifema, hipópio, precipitados ceráticos e descolamento da retina.
Outros sinais clínicos que podem ser observados em gatas com PIF seca são abortos e metrites.
Sintomas da PIF úmida
Na PIF úmida, ocorre uma infiltração de macrófagos infectados nos tecidos que rodeiam os vasos sanguíneos e, posteriormente, ocorre o depósito de complexos imunes nos vasos, juntamente com a ativação do complemento, resultando em vasculite, danos ao endotélio vascular e saída de soro e proteínas albuminas dos capilares. É a forma mais severa e com pior prognóstico da doença.
Caracteriza-se pela formação de efusões indolores compostas por um líquido amarelado pálido com proteínas albuminas, geralmente da seguinte forma:
- Acúmulo de líquido na cavidade abdominal (ascite) na grande maioria dos gatos;
- Pleura (pleurite) em até 40% dos gatos.
Também pode aparecer edema no queixo, no escroto e derrame pericárdico que leva à insuficiência cardíaca.
A icterícia é mais comum do que na forma seca devido à insuficiência hepática ou a uma anemia hemolítica mediada pelo sistema imunológico e pela interferência dos elevados níveis de fator de necrose tumoral alfa, que interferem com os transportadores de bilirrubina dentro e fora das células hepáticas. Os sinais neurológicos e oculares da forma seca também podem ocorrer nesse caso.
Diagnóstico da peritonite infecciosa felina
O mínimo a ser feito diante de um gato com sinais de PIF é um exame de sangue, no qual, se positivo, será observada leucocitose com linfopenia e neutropenia (aumento de glóbulos brancos e redução no número de linfócitos e neutrófilos), juntamente com uma anemia não regenerativa própria de um processo inflamatório crônico. Entretanto, isso é muito inespecífico e pode ser compatível com várias das doenças mais comuns nos gatos.
A realização de exames sorológicos em busca do coronavírus felino não tem utilidade, pois muitos gatos são positivos e não apresentam a doença. A probabilidade de um gato ter PIF aumenta quando:
- A relação albumina/globulina é inferior a 0,4;
- O teste de Rivalta é positivo, todavia, também pode ser positivo em exsudatos sépticos e linfomas. No entanto, é um bom teste para descartar a doença, com 97% de confiabilidade.
Se houver sinais neurológicos, deve-se coletar uma amostra de líquido cefalorraquidiano, onde será observado aumento de proteínas (50-350 mg/dl) e de células (100-100.000 células nucleadas/ml).
Para o diagnóstico do tipo de peritonite infecciosa felina, segue-se o seguinte procedimento:
- Diagnóstico de PIF úmida: deve-se coletar uma amostra do líquido da ascite ou pleurite, que deve ser viscoso, amarelado-avermelhado, sem bactérias, com muitas proteínas (superiores a 35 mg/ml) e poucas células (menos de 5.000/ml). O melhor teste para o diagnóstico da forma úmida é a realização de imunofluorescência para procurar o vírus no líquido das efusões;
- Diagnóstico de PIF seca: em muitos casos, o diagnóstico é feito quando o gato, infelizmente, já faleceu, coletando amostras de seus órgãos. No animal vivo, devem ser realizados testes invasivos para a coleta de biópsias. Em ambos os casos, o diagnóstico mais confiável é obtido por meio da técnica de imuno-histoquímica com coloração do antígeno do coronavírus a partir dessas amostras.
Tratamento para a peritonite infecciosa felina
A peritonite infecciosa felina tem cura? Infelizmente, até o momento, a PIF continua sendo uma doença com prognóstico muito negativo e que não tem cura, embora tenham havido casos de remissão, especialmente da forma seca.
O tratamento baseia-se em um tratamento sintomático que consiste em:
- Alimentação rica em proteínas;
- Administração de enzimas proteolíticas;
- Complexos vitamínicos (A, B, C, E);
- Drenagem de efusões pleurais, se a capacidade respiratória estiver comprometida;
- Fluidoterapia para reposição de líquidos;
- Injeção de dexametasona na cavidade abdominal ou torácica (1 mg/kg a cada 24 horas até que o derrame pare, até sete dias; se houver derrame em ambas as cavidades, a dose por cavidade deve ser dividida);
- Antibióticos;
- Prednisolona e ciclofosfamida para diminuir a gravidade dos complexos imunes e a vasculite, deprimindo o sistema imunológico humoral;
- Interferon ômega de origem felina (FelFN-w) como potencializador da resposta imunológica celular.
Nos últimos anos, a expectativa de encontrar uma cura para esta doença aumentou, pois vários estudos têm sido realizados para avaliar a eficácia e a segurança de numerosos princípios ativos, a maioria em células, embora outros já estejam sendo testados em gatos. Entre eles, dois medicamentos estão demonstrando boa eficácia e segurança no tratamento da PIF: o inibidor de protease 3C GC376 e o análogo de nucleosídeo GS-441524. No entanto, ainda são necessários mais estudos antes que estejam disponíveis comercialmente para essa espécie.
Expectativa de vida de um gato com PIF
O prognóstico da PIF é muito negativo. Infelizmente, a maioria dos gatos morre semanas ou meses após receberem o diagnóstico. Além disso, se desenvolverem a forma úmida da doença, um grande número deles costuma ser sacrificado dentro de 10 dias, a fim de evitar o prolongamento do sofrimento do animal.
A peritonite infecciosa felina é uma doença que mata cerca de 0,3% a 1,4% dos gatos em todo o mundo, sendo a principal causa infecciosa de morte em gatos jovens, e representa uma ameaça adicional para os felinos selvagens em perigo de extinção.
Caso a doença seja diagnosticada, os cuidados com um gato com PIF são os descritos anteriormente, destinados ao tratamento sintomático, o que requer o estabelecimento de uma dieta adequada e o seguimento das orientações estabelecidas pelo veterinário.
Como prevenir a PIF em gatos?
Uma vez que a peritonite infecciosa felina é uma mutação do coronavírus felino, é fundamental tentar prevenir o contágio por este último. No caso, não há uma vacina para a peritonite infecciosa felina, mas há uma vacina para o coronavírus felino. No entanto, é importante destacar que é muito difícil controlar essa doença por meio da vacinação, pois ela é administrada quando os gatos já têm entre 16 e 19 semanas, momento em que muitos gatos já tiveram contato com o vírus.
Novamente, enfatizamos a importância de isolar o gato infectado com PIF dos demais gatos, caso haja vários convivendo no mesmo lugar.
Este artigo é meramente informativo, no PeritoAnimal.com.br não temos capacidade para receitar tratamentos veterinários nem realizar nenhum tipo de diagnóstico. Sugerimos-lhe que leve o seu animal de estimação ao veterinário no caso de apresentar qualquer tipo de condição ou mal-estar.
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