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Meu cachorro se coça muito, mas não tem pulga - Causas

 
Carla Moreira
Por Carla Moreira, Médica veterinária. Atualizado: 19 março 2024
Meu cachorro se coça muito, mas não tem pulga - Causas
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O prurido é uma sensação desagradável que causa o impulso de coçar, lamber, morder ou arranhar a própria pele, sendo o sinal mais comum para uma grande diversidade de doenças dermatológicas no cachorro. Quando o animal se arranha com gravidade, causando dor, há uma diminuição da sensação de coceira por um curto período, após o qual esta voltará com mais intensidade.

É muito importante que o tutor fique sempre atento ao estado da pele e dos pelos do seu cachorro, pois a presença, localização e intensidade da coceira são critérios que muito auxiliam o veterinário no diagnóstico e tratamento da doença causadora do incômodo.

O ato de se coçar continuamente é algo que incomoda não só o cão, mas o seu tutor também. Algumas doenças causam tanto comichão que impedem o animal até mesmo de dormir e se alimentar. E por que meu cachorro se coça muito, mas não tem pulga? Neste artigo, explicaremos as causas de prurido em cachorros.

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Índice

  1. Meu cachorro se coça muito, mas não tem pulgas. O que pode ser?
  2. Sintomas de pulgas em cães
  3. O que dar para o cachorro quando estiver se coçando muito?

Meu cachorro se coça muito, mas não tem pulgas. O que pode ser?

Várias são as causas de coceira em cães, desde parasitas até reações alérgicas. Vamos detalhar as etiologias mais comuns:

1. Dermatite alérgica à picada de pulga (DAPP)

A dermatite alérgica à picada de pulga (DAPP) é uma doença de pele comum em cães sensibilizados às proteínas da saliva da pulga por meio de picadas repetidas ou intermitentes. Geralmente é sazonal, sendo que no verão a doença é mais comumente percebida pelo tutor, devido à exacerbação da coceira. Em algumas áreas e quando a infestação ocorre em ambientes fechados, a DAPP pode não ser sazonal. Pode atingir animais de qualquer raça, sendo mais comum em raças atópicas, afetando animais com idade entre 3 e 6 anos, mas pode ser observada em qualquer idade[1].

Geralmente as áreas afetadas são: região lombossacral, base da cauda, parte interna das coxas, abdome e flancos, com lesões resultantes do ato de se coçar (arranhões, crostas, seborreia, áreas sem pelos, escurecimento e engrossamento da pele).

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Imagem: Reprodução/HVP

2. Carrapatos

Os carrapatos podem parasitar cães, gatos, seres humanos e outros animais domésticos. O carrapato marrom (Riphicephalus sanguineus) é o mais encontrado nos cachorros, mas existem vários outros tipos. Esses parasitas são vistos nos ambientes onde o cão costuma ficar, como pisos acimentados ou de madeira, escondendo-se em frestas de paredes e tetos. Dificilmente os carrapatos são encontrados na grama, porém é possível em casos de grandes infestações.

As fêmeas ficam cheias de sangue em seu interior, parecendo grãos de feijão, enquanto os machos mantêm seu tamanho. Após sugarem o sangue, as fêmeas descem do cão e procuram um lugar seguro para a postura dos ovos, sendo que, cada fêmea pode colocar até 4 mil ovos.

Os carrapatos que acometem os cães passam por quatro estágios evolutivos durante o seu ciclo de vida – ovo, larva, ninfa e adulto (macho e fêmea) –, sendo que alguns eventos ocorrem sobre o animal parasitado, enquanto a maioria das etapas se desenvolve no ambiente. Após um período de incubação no ambiente, surge a eclosão do ovo com a liberação da larva. Esta procura o animal e permanece por alguns dias para realizar a hematofagia (alimentar-se de sangue); em seguida, abandona o animal e retorna para o ambiente para realizar a troca de pele (ou ecdise) e originar a ninfa.

A ninfa procura o animal também para realizar a hematofagia por alguns dias e retorna para o ambiente para realizar a troca de pele (ou ecdise) e originar o adulto, que pode ser macho ou fêmea. O adulto, por sua vez, procura o animal para realizar a hematofagia e a cópula. A fêmea, após a cópula, suga grande quantidade de sangue e se torna ingurgitada. A fêmea ingurgitada se desprende do animal e realiza a postura dos ovos no ambiente[2]. Todas as formas citadas alimentam-se de sangue do cachorro, além de transmitirem doenças infecciosas graves como a babesiose e a erlichiose (doenças do carrapato).

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3. Alergias

3.1 Dermatite atópica

A dermatite atópica canina, ou atopia canina, é uma doença de caráter genético e inflamatório, na qual o cachorro torna-se sensível a antígenos ambientais, causando coceira intensa. Algumas raças são predispostas ao desenvolvimento do quadro, como shar pei, lhasa apso, pug, dálmata, golden retriever, labrador e bulldog inglês, mas nada impede que acometa cães mestiços.

Alguns alérgenos foram identificados como desencadeadores de atopia no cão:

  • Bolores
  • Pólens
  • Tecidos mortos da epiderme humana
  • Sementes de gramíneas
  • Penas
  • Poeira doméstica (mistura de resíduos de pele humana, pelos de animais, ácaros, bolores, produtos de decomposição, partículas de alimentos e substâncias inorgânicas).

Os cães entram em contato com os alérgenos por via percutânea, inalatória ou gastrointestinal. A absorção através da pele ocorre devido a uma disfunção da barreira lipídica, facilitando a penetração dos agentes causadores da alergia. O resultado é um prurido em áreas sem lesão, ocorrendo principalmente na face, pavilhão auricular, pés e olhos, levando o cachorro a lamber as patas, esfregar a face no chão e coçar os olhos da forma que conseguir, contribuindo para a contaminação bacteriana e o surgimento de feridas.

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Imagem: ateuves.es

3.2 Dermatite alérgica de contato

Caracteriza-se por uma reação de contato prolongado do alérgeno com a pele do animal, podendo ser uma substância que não cause reação imediata, mas tardiamente. Os causadores da alergia são variados, sendo descritos os produtos de limpeza utilizados no ambiente. Geralmente apresenta lesões na região do abdome e patas, locais que entram em contato com o alérgeno, podendo evoluir para um prurido generalizado.

O cachorro tende a coçar a cabeça e os olhos, esfregando-se em móveis e objetos, causando lesões no focinho e na região ao redor dos olhos. Esses machucados podem sofrer contaminação bacteriana, piorando o quadro do animal.

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3.3 Hipersensibilidade alimentar

A hipersensibilidade alimentar é uma doença pruriginosa localizada ou generalizada, não sazonal, que normalmente acomete orelhas, membros, região axilar ou inguinal, face, pescoço e períneo, podendo ocorrer lesões secundárias por automutilação, decorrente da coceira extrema. É comum vermos cães com hipotricose (poucos pelos) e alopecia (ausência de pelos) na face, principalmente na região nasal e periocular. Assim, o cachorro vai se coçar muito mesmo sem pulgas.

A resposta alérgica ocorre frente a diferentes constituintes alimentares, podendo desencadear alterações nos diversos sistemas orgânicos, sendo mais comum na pele. Vários testes podem ser realizados na tentativa de se detectar o antígeno causador do distúrbio, sendo muito utilizada a dieta hipoalergênica nesses casos.

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4. Sarnas

As sarnas, infecção causada por ácaros, apresentam como sintoma principal a coceira intensa, além de lesões de pele com pequenas crostas hemorrágicas e perda de pelos em todo o corpo do animal. A doença é caracterizada por uma exagerada produção de gordura na pele, dando um aspecto e odor desagradáveis ao cachorro.

O animal costuma se lesionar ao se coçar, apresentando feridas por todo o corpo. A sarna sarcóptica ou escabiose é uma zoonose (doença transmitida ao homem pelos animais), podendo ser propagada pelo contato direto ou por objetos que tiveram contato com o animal infectado.

Após o diagnóstico realizado pelo veterinário, será necessário o tratamento com acaricida (medicamento que combata o ácaro) associado à terapia para a coceira intensa (corticoides, antialérgicos, banhos antissépticos). O tratamento apresenta resultados rápidos e animadores, com total restabelecimento do animal em cerca de duas ou três semanas.

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Sintomas de pulgas em cães

O sintoma mais clássico de pulgas em cães é a coceira. Caso o animal seja alérgico a alguma proteína presente na saliva da pulga, a coceira pode se tornar insuportável. Além disso, animais com pulgas tendem a mordiscar a base da cauda e a região lombar.

Para cães com DAPP, basta uma picada de pulga para que a reação alérgica se desenvolva. Considerando que o ciclo biológico da pulga ocorre mais no ambiente doméstico do que no próprio hospedeiro, nem sempre é possível ver o parasita no cachorro. Por esse motivo, acontece de o tutor não achar pulgas no seu amigo peludo, mas a coceira ser decorrente deste parasita.

Cerca de 5% das pulgas são encontradas no animal, enquanto aproximadamente 95% ficam no ambiente, ou seja, quando o tutor localiza um parasita no corpo do cachorro, significa que a infestação está muito intensa. É aconselhável sempre utilizar tratamento mensal no animal e no ambiente.

Como identificar fezes de pulgas

Quando a infestação é intensa, podem ser observadas fezes de pulgas na pele do cachorro, parecendo borra de café. Para ter certeza se realmente são fezes do parasita, o tutor pode pegar um pouco dessa “borra”, colocar em um recipiente e jogar um pouco de água oxigenada de 10 volumes, verificando se essa diluição ficará com aspecto de sangue vivo (as fezes das pulgas são sangue digerido).

Neste outro artigo mostramos como acabar com as pulgas dentro de casa.

O que dar para o cachorro quando estiver se coçando muito?

O tratamento deve ser primeiramente direcionado para a causa principal da coceira. Na maioria dos casos, o uso de corticoides pode ser de grande valia para aliviar a coceira do animal, mas deve ser utilizado com cautela e com a supervisão do veterinário. Antialérgicos e banhos antissépticos também ajudam a aliviar a o prurido.

Agora que você já sabe o que fazer se o cachorro estiver se coçando muito, mesmo sem pulga, recomendamos o vídeo a seguir em que falamos sobre o que pode ser quando o cão fica lambendo muito suas patas:

Este artigo é meramente informativo, no PeritoAnimal.com.br não temos capacidade para receitar tratamentos veterinários nem realizar nenhum tipo de diagnóstico. Sugerimos-lhe que leve o seu animal de estimação ao veterinário no caso de apresentar qualquer tipo de condição ou mal-estar.

Se deseja ler mais artigos parecidos a Meu cachorro se coça muito, mas não tem pulga - Causas, recomendamos-lhe que entre na nossa seção de Outros problemas de saúde.

Referências
  1. Oliveira, D.T. et al. Dermatite alérgica à picada de pulga: relato de caso. XVII Seminário Interinstitucional de Ensino, Pesquisa e Extensão, Unicruz-RS. Disponível em https://www.unicruz.edu.br/seminario/downloads/anais/ccs/dermatite%20alergica%20a%20picada%20de%20pulga%20relato%20de%20caso.pdf. Acesso em 16/09/2022.
  2. Moreira, M.A.B., Souza, S.L.P., Balestero, N.D. Pulgas e Carrapatos: profilaxia e conscientização. Boletim BayerVet, 2014. Disponível em https://s3-sa-east-1.amazonaws.com/vetsmart-contents/Documents/DC/Bayer/Pulgas_Carrapatos_Profilaxia_Conscientizacao.pdf. Acesso em 16/09/2022.
Bibliografia
  • Weis, M. Hipersensibilidade alimentar em cães – Revisão de Literatura. Monografia apresentada para obtenção do título de especialização em Clínica Médica de Pequenos Animais, Universidade Federal Rural do Semi-Árido – UFERSA, 2011. Disponível em: https://www.equalisveterinaria.com.br/wp-content/uploads/2018/12/HIPERSENSIBILIDADE-ALIMENTAR.pdf. Acesso em 16/09/2022.
  • Fundão, J.M., Almeida, T.O. Dermatite atópica canina, atualizações terapêuticas: Revisão de Literatura. Disponível em: https://multivix.edu.br/wp-content/uploads/2019/11/dermatite-atopica-canina-atualizacoes-terapeuticas-revisao-de-literatura.pdf. Acesso em: 16/09/2022.
  • VASCONCELOS, Jackson S. de, et al. Caracterização clínica e histopatológica das dermatites alérgicas em cães. Pesquisa Veterinária Brasileira, 2017, vol. 37, p. 248-256. Disponível em: <https://www.scielo.br/j/pvb/a/ctxjh7FyZzzzC6mB3SpGcLc/?format=pdf&lang=pt>. Acesso em 16 de setembro de 2022.
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