Problemas renais em gatos: tipos, sintomas e tratamentos
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As doenças renais são um problema de saúde frequente em nossos gatos, especialmente naqueles de idade avançada, e afetam de forma negativa sua saúde e qualidade de vida. Os rins são órgãos indispensáveis para filtrar as toxinas do sangue, manter o equilíbrio eletrolítico e regular a pressão arterial. Por isso, quando ocorrem doenças nesses órgãos, há um considerávelimpacto na saúde dos felinos. Embora a doença renal crônica seja a mais comum, existem diferentes condições que podem comprometer a função renal. Se quer saber mais sobre as problemas renais em gatos, seus sintomas e possíveis tratamentos, continue lendo este artigo do PeritoAnimal.
1. Doença renal aguda
A doença renal aguda é um dano súbito aos rins, que perdem a capacidade de filtrar o sangue adequadamente. Com a filtração comprometida, as toxinas se acumulam no organismo do gato. Esse quadro desencadeia uma série de desequilíbrios perigosos, afetando a pressão arterial, a composição do sangue, seu volume e o equilíbrio ácido-base, causando sérios riscos à saúde.
São várias as causas que podem provocar uma insuficiência renal aguda, entre elas:
- Sepse;
- Pielonefrite;
- Hipercalcemia;
- Leptospirose;
- Glomerulonefrite;
- Insuficiência cardíaca congestiva;
- Coagulação intravascular disseminada;
- Fármacos nefrotóxicos (AINEs, aminoglicosídeos);
- Intoxicação por plantas ou por etilenoglicol;
- Lúpus eritematoso sistêmico;
- Linfoma renal e outros tumores.
Tratamento
Para tratar a doença renal aguda em gatos, é fundamental restabelecer o fluxo sanguíneo adequado para o rim, controlar a acidose metabólica, melhorar a perfusão sanguínea e corrigir os desequilíbrios eletrolíticos. Isso se consegue por meio do uso de fluidoterapia em caso de desidratação. Em caso de acidose metabólica, pode-se empregar bicarbonato ou soro ringer com lactato. Igualmente, é importante controlar os níveis de potássio quando estiverem alterados, utilizando bicarbonato de sódio ou gluconato de cálcio, conforme melhor reação do gato.
Também deve-se controlar a náusea e os vômitos com medicamentos como metoclopramida, cimetidina ou maropitant. Nos casos em que a função renal estiver gravemente danificada, pode ser necessária a diálise peritoneal ou a hemodiálise para realizar a filtração dos resíduos.
2. Doença renal crônica
A doença renal crônica consiste em uma perda gradual da funcionalidade dos rins, seja por envelhecimento ou por dano progressivo dos néfrons, que são os encarregadas de filtrar a urina no glomérulo renal. À medida que vão sendo perdidos, os néfrons restantes se "sobrecarregam", o que faz com que pouco a pouco também se deteriorem, piorando a doença. Isso gera acúmulo de toxinas no organismo, aumento da pressão arterial, desequilíbrios eletrolíticos e uma significativa piora na saúde e na qualidade de vida dos nossos pequenos felinos.
Sintomas
Trata-se de uma doença frequente em gatos, especialmente naqueles com mais de sete anos. Entre os principais sintomas da doença renal crônica na espécie felina estão a poliúria e a polidipsia (bebem e urinam mais do que o normal), anemia, anorexia, vômitos e letargia.
Tratamento
Os medicamentos mais utilizados em gatos com insuficiência renal crônica são:
- Anlodipino, um anti-hipertensivo para tratar a hipertensão;
- Benazepril, um inibidor da enzima de conversão da angiotensina, que ajuda a reduzir a perda de proteínas na urina (proteinúria);
- Fluidoterapia em casos de desidratação;
- Eritropoietina, se a contagem de glóbulos vermelhos for inferior a 20%;
- Estimulantes de apetite ou alimentação forçada em caso de anorexia;
- Controle da hiperfosfatemia por meio de ração renal ou quelantes de fósforo;
- Antieméticos, se houver vômitos.
3. Pielonefrite
A pielonefrite felina é outra das doenças que pode afetar os rins dos nossos gatos e consiste em uma infecção bacteriana da pelve renal e do parênquima do rim. A principal causa da pielonefrite é uma infecção ascendente de bactérias,, como Escherichia coli, Staphylococcus, Enterococcus, Proteus ou Klebsiella, que viajam da bexiga através dos ureteres até chegar ao rim.
Sintomas
Os sinais clínicos costumam incluir febre intermitente, apatia, letargia, anorexia, urina turva ou com sangue, aumento da sede e da micção, vômitos e dor na região lombar ou abdominal.
Tratamento
O tratamento indicado no caso de pielonefrite são os antibióticos, os quais devem ser ajustados de acordo com a cultura e o antibiograma. A duração do tratamento deve ser prolongada, de 4 a 6 semanas no mínimo, para garantir que a infecção seja erradicada por completo. Além disso, pode ser necessária a fluidoterapia em caso de desidratação e o uso de anti-inflamatórios se houver dor ou inflamação renal significativa.
4. Glomerulonefrite
A glomerulonefrite felina é uma doença renal em gatos caracterizada pela inflamação e dano dos glomérulos renais, que são os filtros do rim onde se encontram os néfrons e que são responsáveis por limpar o sangue e reter proteínas essenciais para o organismo.
Geralmente, a glomerulonefrite em gatos é consequência de uma resposta anômala do sistema imunológico, o que provoca o depósito de complexos imunes (antígeno-anticorpo) nos glomérulos, causando dano e inflamação. Isso pode ser desencadeado por doenças inflamatórias crônicas, transtornos autoimunes, infecções crônicas ou neoplasias.
Sintomas
Os sinais clínicos costumam ser silenciosos no início, mas à medida que a doença avança podem aparecer proteinúria ou perda de proteínas pela urina, perda de peso e massa muscular, anorexia, letargia, ascite e edemas por hipoalbuminemia, hipertensão arterial e outros sinais associados à doença renal crônica.
Tratamento
O tratamento da glomerulonefrite inclui o controle da proteinúria por meio de inibidores da enzima conversora de angiotensina, como o benazepril, ou bloqueadores dos receptores de angiotensina II, como a telmisartana. Além disso, é fundamental tratar a causa subjacente da glomerulonefrite e manejar a doença renal crônica se já estiver presente.
5. Cálculos renais
Os cálculos ou nefrólitos renais em gatos são depósitos duros de minerais que se formam dentro dos rins e podem causar danos graves ao órgão afetado. Embora os nefrólitos renais sejam menos frequentes que os de vesícula, também podem aparecer devido a alterações na concentração da urina ou em seu pH, a dietas com excesso de minerais, a baixa ingestão de água ou a predisposição genética.
Entre os felinos, os cálculos mais comuns são os de oxalato de cálcio, que são duros, não se dissolvem e predominam no rim, e os de estruvita, que contêm fosfato de amônico magnesiano e costumam se formar com mais frequência na bexiga.
Sintomas
Os cálculos renais podem provocar sintomas como dor abdominal ou lombar, hematúria, vômitos, micção frequente ou dificultosa, letargia e até anorexia.
Tratamento
O tratamento dos cálculos renais depende em grande medida do tipo de cálculo:
- Os cálculos de estruvita podem ser dissolvidos por meio de dieta renal;
- Os cálculos de oxalato de cálcio costumam requerer cirurgia, seja por nefrotomia ou ureterotomia em caso de obstrução grave do fluxo de urina. Em centros especializados, também pode ser realizada uma intervenção chamada litotrícia, que consiste na fragmentação dos cálculos por meio de laser ou ultrassom.
Além disso, é importante aumentar a hidratação do gato, controlar a dor e fornecer suporte renal nos casos em que a função do rim estiver gravemente comprometida.
6. Doença renal policística
A doença renal policística é uma condição hereditária e progressiva na qual se formam múltiplos cistos cheios de líquido dentro do tecido renal. Esses cistos aumentam de tamanho até substituir o tecido funcional do rim afetado, provocando perda de funcionalidade e, em muitos casos, o desenvolvimento de doença renal crônica. A doença ocorre devido a uma mutação no gene PKD1, que é transmitida de maneira autossômica dominante. Portanto, se um dos progenitores possuir a mutação, os filhotes podem herdá-la. As raças com maior frequência desta mutação são os gatos persas, os exotic shorthair, os himalaios e os british shorthair.
Sintomas
Os gatos com doença renal policística podem permanecer assintomáticos durante muitos anos, até que se desenvolva a doença renal crônica. Nesse momento, podem aparecer sinais clínicos como poliúria e polidipsia, vômitos, pelagem em mau estado, letargia, perda de apetite, proteinúria, anemia ou hipertensão.
Tratamento
Não existe cura para a doença renal policística, por isso o tratamento é sintomático e tem como objetivo retardar a progressão da doença. Este tratamento inclui o uso de suplementos de ômega-3, vitaminas do complexo B, fluidoterapia, dietas renais baixas em fósforo e proteínas, controle da hipertensão com anlodipino se necessário, manejo da dor em caso de cistos dolorosos e redução da proteinúria por meio de fármacos como o benazepril.
7. Neoplasia renal
A neoplasia ou tumor renal é outra das doenças que podem afetar os rins dos gatos e, embora pouco frequente, é particularmente grave. Pode ser primária ou secundária/metastática, quando o tumor se origina em outro órgão.
Nos gatos, pode ocorrer o adenocarcinoma renal, um tumor primário que pode invadir a veia cava ou fazer metástase em nódulos linfáticos, fígado e pulmões, e o linfoma renal, que é o tumor mais frequente, embora costume ser secundário a outro linfoma sistêmico. Este pode afetar ambos os rins e causar doença renal aguda. Além destes, também podem ocorrer sarcomas, hemangiossarcomas, fibrossarcomas e metástases de tumores de pulmão ou mama, entre outros.
Sintomas
Os sintomas podem ser confundidos com os da doença renal crônica, exceto em casos de dor ou massa palpável, assim como a hematúria, que é a presença de sangue na urina.
Tratamento
O tratamento dos tumores renais dependerá do tipo de tumor, da gravidade e do estado geral do nosso companheiro felino. No caso do adenocarcinoma renal, a remoção do rim afetado é o tratamento indicado, desde que o outro rim seja funcional. No caso do linfoma renal, costuma-se empregar principalmente a quimioterapia.
Por outro lado, nos tumores metastáticos ou naqueles que são bilaterais e muito avançados, o tratamento será paliativo, centrando-se no controle da dor, no suporte renal e na correta hidratação e nutrição do gato.
Perguntas frequentes sobre doenças renais em gatos
Para finalizar, responderemos algumas perguntas que os tutores de gatos com doenças renais costumam fazer, ou que surgem naqueles que conhecem o impacto delas em nossos pequenos felinos.
Por que os gatos sofrem de doenças renais?
Os gatos são especialmente suscetíveis a sofrer doenças renais devido a uma combinação de fatores fisiológicos, anatômicos, genéticos e de estilo de vida. Inicialmente, nossos pequenos felinos descendem do gato selvagem do deserto, um felino que quase não bebia água e a obtinha de suas presas. Esta característica persiste de certa forma nos gatos domésticos, que não costumam beber muita água, apesar de se alimentarem principalmente com ração seca.
Além disso, os rins dos gatos, assim como os de seus ancestrais do deserto, são muito eficientes para concentrar a urina e economizar água. No entanto, essa capacidade de concentração os torna mais vulneráveis a danos renais cumulativos, infecções urinárias e formação de cálculos.
Por outro lado, também podem intervir fatores genéticos, como no caso da doença renal policística em gatos de raças como persa, himalaia ou british shorthair, enquanto outras raças podem ter maior predisposição a glomerulopatias ou à formação de cálculos urinários.
Doenças renais em gatos podem ser prevenidas?
As doenças renais são muito difíceis de prevenir, especialmente aquelas associadas a fatores genéticos ou aos tumores. No entanto, parece possível reduzir o risco e retardar o aparecimento de algumas doenças mediante medidas de prevenção e cuidado. Uma das mais importantes é assegurar uma hidratação adequada, oferecendo sempre água limpa e fresca, água em movimento por meio de fontes para gatos ou usando petiscos, leite (sem lactose) ou alimento úmido desenhados para aportar hidratação.
Outra medida é manter nossos gatos ativos, evitando o sedentarismo, e realizar check-ups veterinários anuais, especialmente a partir dos 7 anos. Esses controles devem incluir análises de sangue e urina para avaliar parâmetros como a densidade urinária, a creatinina, a ureia e, de forma especialmente importante, a SDMA.
Qual é o prognóstico e a qualidade de vida dos gatos com doenças renais?
O prognóstico e a qualidade de vida dos pequenos felinos que sofrem de doenças renais dependerá de vários fatores, como a doença em questão e sua gravidade, a idade e o estado geral do gato, as comorbidades e as complicações que apresentem. Por exemplo, não é a mesma coisa uma doença renal crônica progressiva, que é irreversível, e uma doença renal aguda, que pode ser reversível se for identificada a tempo.
No entanto, quando a doença renal crônica é manejada corretamente, os gatos afetados podem viver meses e até anos com uma qualidade de vida adequada. O prognóstico será melhor ou pior conforme a fase da doença e as complicações presentes. Da mesma forma, se o gato tiver doenças concomitantes, o prognóstico é mais reservado, já que sua saúde fica mais comprometida, assim como em casos de tumores graves que afetam ambos os rins.
Por isso, é fundamental levar seu gato para consultas de rotina no veterinário. Esse acompanhamento é a melhor forma de detectar precocemente qualquer problema renal e agir a tempo. Fique atento também aos sinais que mencionamos e, ao notar qualquer um deles, procure o veterinário rapidamente. Isso é crucial para reduzir o risco de complicações e melhorar o prognóstico do seu felino.
Este artigo é meramente informativo, no PeritoAnimal.com.br não temos capacidade para receitar tratamentos veterinários nem realizar nenhum tipo de diagnóstico. Sugerimos-lhe que leve o seu animal de estimação ao veterinário no caso de apresentar qualquer tipo de condição ou mal-estar.
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