Problemas de comportamento

Como tirar o medo de um cachorro?

 
Eduarda Piamore
Por Eduarda Piamore, Técnica em psicologia, educação e adestramento canino e felino. 30 março 2023
Como tirar o medo de um cachorro?
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Os cachorros são muito sensíveis e podem experimentar diferentes emoções ao longo de suas vidas que expressarão principalmente através de sua linguagem corporal. Uma delas é o medo que cumpre um papel chave para a preservação do seu bem-estar, mas quando temos um cachorro medroso excessivamente diante dos diferentes estímulos do dia a dia, isto indica uma baixa auto confiança que não deve passar despercebida pelos tutores. Isto porque foi comprovado que a insegurança, o medo excessivo e a ansiedade crônica reduzem a expectativa de vida dos cachorros ao deixá-los mais suscetíveis a numerosas doenças, assim como prejudicam sua qualidade de vida por impedir que eles interajam com outros indivíduos e ambientes.

E agora você deve estar se perguntando como tirar o medo de um cachorro. Te convidamos a seguir lendo este artigo do PeritoAnimal para descobrir alguns conselhos valiosos para aumentar a segurança dos nossos melhores amigos.

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Índice

  1. Medo e insegurança nos cachorros são a mesma coisa?
  2. Cachorro medroso: causas
  3. Como fazer um cachorro se sentir mais seguro?
  4. Como tirar o medo de um cachorro?

Medo e insegurança nos cachorros são a mesma coisa?

Não! Mesmo que possam estar relacionados, o medo e a insegurança em cachorros não são a mesma coisa. O medo é uma das emoções básicas que os cachorros sentem e é fundamental para sua sobrevivência, pois faz parte dos mecanismos de defesa que lhes permitem estar atentos e reagir em circunstâncias de perigo iminente, seja para escapar ou se defender.

Por isso, o medo é natural e até um cachorro seguro de si e com um comportamento equilibrado pode ter medo. A diferença chave é que, ao ter sido corretamente socializado e ter tido a possibilidade de desenvolver sua confiança, este cachorro contará com um maior número de recursos para gerir suas emoções e lidar com esta situação negativa de uma melhor forma, entendendo que somente deve recorrer a recursos extremos, como a agressividade, em contextos extremos (por exemplo, quando sua integridade é claramente ameaçada por ações de outro indivíduo).

Já um cachorro inseguro é aquele que não teve as mesmas oportunidades de desenvolver sua confiança ou a "perdeu" progressivamente devido à exposição sistemática ou contínua a fatores ou contextos de medo, estresse ou isolamento. Em consequência, se torna mais propenso a um comportamento excessivamente medroso que excede os limites do "natural e esperado" no comportamento dos cachorros.

Cachorro medroso: causas

Geralmente, temos um cachorro com medo excessivo e muito inseguro devido a: experiências vividas, à socialização e sua herança genética.

Herança genética

Com relação à herança genética, é importante levar em conta que algumas raças de cachorros são naturalmente mais medrosas que outras, mas sua predisposição ao medo pode variar diante dos diferentes fatores de medo não social nos cachorros, como os ruídos fortes, a altura e o medo do desconhecido ou de estranhos. Neste sentido, o tamanho e a composição corporal parecem ser um ponto chave na resposta do cachorro diante do medo, em especial diante dos três primeiros fatores, já que os cachorros de pequeno porte podem ser mais medrosos que os de porte grande.

Consulte este outro artigo sobre nomes de raças de cachorro.

Socialização

Estudos confirmam que além da bagagem genética que cada cachorro "carrega" desde seu nascimento, as interações com outros indivíduos, a educação que recebe e os ambientes que se expõe são determinantes para a resposta de um cachorro em contextos de medo ou estresse, pois se relacionam diretamente com uma maior ou menor grupo de desenvolvimento da confiança nos cachorros. Neste sentido, um cachorro que não aprendeu a interagir de forma harmônica com outros indivíduos, estímulos e ambientes ao lingo de um processo adequado de socialização, tende a se mostrar medroso diante de situações novas e/ou inesperadas que, em definitivo, podem fazer parte do dia a dia de um cachorro comum sem gerar maiores sobressaltos.

Por exemplo, encontrar com cachorros desconhecidos durante um passeio, receber a visita de pessoas estranhas em seu lar ou conhecer um novo ambiente durante as férias com seus tutores. É por isso que os cachorros que não foram corretamente socializados são mais predispostos a um comportamento medroso.

Experiências vividas

Sobre as experiências vividas, é importante entender que não falamos somente de vivências traumáticas associadas a diferentes tipos de maus tratos físicos ou psicológicos que um cachorro pode sofrer. Mesmo que essas experiências possam contribuir para o desenvolvimento não somente de medo excessivo mas também de fobias, existem outras experiências traumáticas que podem reduzir a confiança de um cachorro e aumentar sua predisposição ao temor, como pode ser ter vivido muito tempo com uma doença que causava muita dor.

Além disso, o comportamento de um cachorro medroso e como certas fobias pode derivar de uma associação negativa diante de determinados estímulos ou objetos. Por exemplo, se seu cachorro teve uma experiência negativa ou tenha sido exposto a ruídos que produzem medo, pode ter desenvolvido um trauma ou uma fobia. Em ambos os casos, é possível que seu peludo associe o som de certos objetos, pessoas, animais ou ambientes, e tenha medo inclusive quando o som não está presente, mas a "fonte de ruído" sim. Alguns cachorros podem se esconder somente ao ver o secador ou o aspirador por associar esses utensílios com seus sons ruidosos.

Em casos extremos, quando um cachorro é separado prematuramente de sua mãe e seus irmãos para, logo, viver em estado de total isolamento em um ambiente pouco (ou nada) enriquecido, é possível que sofra a chamada "síndrome de privação sensorial", que o leva a desenvolver um pânico generalizado diante de praticamente qualquer estímulo na idade adulta.

Se você deseja saber mais sobre o comportamento de um cachorro medroso e as causas associadas, te recomendamos o artigo “10 sintomas de medo nos cachorros”. E a seguir, falaremos das estratégias que podemos aplicar para ajudar um cachorro a desenvolver sua confiança para gerir suas emoções, inclusive o medo, de uma menor maneira.

Como fazer um cachorro se sentir mais seguro?

Logicamente, não podemos mudar a informação genética de um cachorro, mas sim podemos trabalhar em outros fatores chave para sua resposta diante do medo, que são a socialização e suas experiências de vida, com o propósito de fortalecer sua confiança e prevenir uma conduta insegura e excessivamente medrosa. Por isso, como tirar o medo de um cachorro e fazê-lo se sentir mais seguro?

1. Respeite o desmame natural antes de adotar

Os dois primeiros passos para aumentar a segurança de um cachorro são: respeitar a idade do desmame antes de separar os filhotes de sua mãe e seus irmãos, e investir em sua socialização precoce. Vale a pena lembrar que, o processo de desmame começa na 3ª ou 4ª semana de vida dos filhotes, se recomenda que os filhotes permaneçam com sua mãe até os 2 ou 3 meses de vida.

2. Invista em sua socialização

O período de socialização do cachorro começa aproximadamente nas três semanas e finaliza nos três meses de vida. Durante este tempo, os filhotes primeiro aprendem junto de sua mãe e irmãos os códigos fundamentais de sua comunicação e conduta social, para logo reconhecer quais são as chamadas "espécies amigas". Por isso, é muito importante que seu melhor amigo comece a ser presenteado com diferentes estímulos, indivíduos e ambientes neste período para que possa assimilar mais facilmente como parte de sua vida e rotina e aprenda a se relacionar com eles de forma positiva.

Assim mesmo, se você decidiu adotar um cachorro adulto ou não teve a oportunidade de socializar seu peludo quando ainda era um filhote, deve saber que com paciência e dedicação poderá socializar o mesmo nesta etapa de sua vida. No PeritoAnimal te damos os melhores conselhos para socializar um cachorro adulto corretamente.

3. Conquiste sua confiança

Paralelamente e desde a chegada do cachorro ao seu novo lar, é importante que dediques tempo a ganhar sua confiança. A qualidade do vínculo com seu tutor influencia (e muito!) na educação e no comportamento de um cachorro, porque se um peludo não tem a confiança de se expressar livremente em sua própria casa e/ou não pode se relacionar de forma amigável com seu próprio tutor, será muito mais fácil que se sinta suficientemente seguro para interagir com outros indivíduos e ambientes desconhecidos. Em definitivo, como pedir a um cachorro que não pode confiar em seu tutor a confiar em estranhos?

4. Utilize o reforço positivo

Por outro lado, é fundamental que escolha bem os métodos que utilizará para educar seu cachorro, pois serão determinantes para fortalecer ou debilitar tanto o seu vínculo como a confiança do seu peludo. O uso incorreto de punições, assim como o confinamento e castigo físico, somente contribuem para que seu cachorro tenha medo e se sinta confuso ou inseguro em relação à sua própria conduta. Nosso conselho é que aposte no reforço positivo para estimular sua aprendizagem e lhe ensinar as normas de boa convivência.

5. Certifique-se de que ele faça exercícios

Também é importante que ofereça ao seu cachorro um nível adequado de atividade física. Os passeios diários não somente o permitirão exercitar-se, mas também interagir com uma maior diversidade de indivíduos, estímulos e entornos. Por sua vez, um bom enriquecimento ambiental será fator chave para complementar a atividade física diária do seu peludo e sua estimulação mental, prevenindo uma série de problemas de comportamento relacionados com o estresse e o aborrecimento.

Como vimos, como fazer um cachorro se sentir mais seguro está totalmente relacionado com as atenções que lhes oferecemos e a forma que temos que interagir com ele.

Como tirar o medo de um cachorro? - Como fazer um cachorro se sentir mais seguro?

Como tirar o medo de um cachorro?

Não é possível nem recomendável eliminar completamente o medo de um cachorro, pois, como vimos, trata-se de uma emoção básica e fundamental para sua sobrevivência. No entanto, os conselhos que explicamos na sessão anterior te ajudarão a aumentar a confiança do seu cachorro e prevenir um comportamento excessivamente medroso diante de diferentes fatores.

Assim, os cachorros medrosos que possuem problemas mais complexos, como as fobias, as estereotipias e um pânico generalizado associado à síndrome de privação sensorial, podem necessitar um tratamento específico para superar as experiências traumáticas que o levaram a ter determinado comportamento. Neste caso, o melhor que pode fazer é buscar ajuda de um especialista em etologia canina para obter um diagnóstico mais preciso e, logo, estabelecer pautas de manejo compatíveis com as necessidades de seu melhor amigo.

Além disso, se recentemente você adotou um cachorro e identificou sinais de que foi mau tratado, te recomendamos a seguinte leitura para ajudá-lo a retomar a confiança perdida: “Como diminuir o medo de um cachorro que sofreu maus tratos?”.

Se deseja ler mais artigos parecidos a Como tirar o medo de um cachorro?, recomendamos-lhe que entre na nossa seção de Problemas de comportamento.

Bibliografia
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  • Hakanen, E.; Mikkola, S.; Salonen, M. et al. (2020). Active and social life is associated with lower non-social fearfulness in pet dogs. Sci Rep 10, 13774. Disponível em: <https://doi.org/10.1038/s41598-020-70722-7>. Acesso em 28 de março de 2023.
  • Dreschel, N. A. (2010). The effects of fear and anxiety on health and lifespan in pet dogs, Applied Animal Behaviour Science, Volume 125, Issues 3–4, Pages 157-162
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