Curiosidades do mundo animal

Canídeos – Tipos, características, dieta, habitat e reprodução

 
Nick A. Romero H.
Por Nick A. Romero H., Biólogo e educador ambiental. 20 outubro 2023
Canídeos – Tipos, características, dieta, habitat e reprodução

Os canídeos fazem parte da família Canidae, que apresenta uma ampla variedade de espécies. Estes animais possuem sentidos altamente desenvolvidos e têm uma longa história de relação com os seres humanos, uma vez que entre eles se encontram alguns dos principais animais de estimação para nós: os cães domésticos.

Neste artigo do PeritoAnimal iremos fornecer mais informações sobre este grupo para que você possa conhecer sua diversidade, características, formas de alimentação, locais de habitat e modos reprodutivos. Portanto, convidamos você a continuar lendo para saber tudo sobre canídeos – tipos, características, dieta, habitat e reprodução.

Índice
  1. Classificação de canídeos
  2. Evolução dos canídeos
  3. Características dos canídeos
  4. Tipos de canídeos
  5. Onde vivem os canídeos?
  6. O que os canídeos comem?
  7. Como os canídeos se reproduzem?
  8. Estado de conservação dos canídeos

Classificação de canídeos

A família Canidae está dividida em três subfamílias: Hesperocyoninae, Borophaginae e Caninae. No entanto, as duas primeiras estão extintas, de modo que atualmente só existe a última, onde todos os canídeos vivos estão agrupados.

Como é comum na taxonomia para certos grupos, houve algumas divergências. A seguir, apresentamos a classificação dos canídeos[1,2] mais aceita:

Classe: Mammalia (Mamíferos)

Ordem: Carnívoros

Subordem: Caniformia

Família: Canidae

Subfamília: Caninae

Gêneros:

  • Atelocynus;
  • Canis;
  • Cerdocyon;
  • Chrysocyon;
  • Cuon;
  • Lycalopex;
  • Lycaon;
  • Nyctereutes;
  • Otocyon;
  • Speothos;
  • Urocyon;
  • Vulpes.

No total, esses gêneros somam 35 espécies e uma importante variedade de subespécies, dentro das quais existem parentescos que são controversos. Os canídeos atuais apresentam diferenças do ponto de vista físico, preferências de habitat e comportamentos.

Evolução dos canídeos

As relações evolutivas dos canídeos têm sido repletas de controvérsias e incertezas em alguns casos, uma vez que, por exemplo, não há total clareza sobre certos parentescos. Além disso, no caso dos lobos e dos canídeos da América do Sul, existem dúvidas sobre se formam um grupo monofilético, ou seja, se todos evoluíram a partir de um grupo comum. No mais, a filogenia de certas espécies é indeterminada.

Os canídeos estão presentes atualmente em todos os continentes, exceto na Antártida. No entanto, o registro fóssil indica que os primeiros membros da família Canidae tiveram sua origem no Eoceno na América do Norte e permaneceram até o final do Mioceno, momento em que ocorreu sua migração através do Estreito de Bering para a Europa e Ásia. Posteriormente, no Velho Mundo, os canídeos divergiram para uma ampla variedade de espécies, adquirindo diferentes tipos de hábitos, por exemplo. Na América, também ocorreu a radiação desses animais. Estima-se que, de forma geral, a história evolutiva dos canídeos teve três grandes radiações, duas no norte da América e uma na Eurásia[3].

Características dos canídeos

Conforme mencionado anteriormente, diferentes espécies possuem características distintas. No entanto, existem certas características comuns dos canídeos que podemos mencionar, como, por exemplo:

  • Suas adaptações favorecem mais a resistência do que a velocidade;
  • Possuem um olfato e audição altamente desenvolvidos, enquanto a visão é menos desenvolvida em comparação com os dois anteriores;
  • Anatomicamente, caracterizam-se por terem um peito profundo e focinhos longos;
  • Geralmente, têm patas moderadamente alongadas;
  • Normalmente, possuem cinco dedos nas patas dianteiras e quatro nas traseiras, embora haja algumas exceções;
  • São animais digitígrados, ou seja, caminham apoiados em seus dedos e não na articulação do calcanhar;
  • Suas garras não são retráteis, ao contrário de vários tipos de felinos;
  • Os machos têm o osso báculo bem desenvolvido;
  • A região facial do crânio é alongada;
  • Possuem de 38 a 42 dentes. Os caninos são grandes, mas não especializados; os molares são usados para triturar e os carnassianos são bastante fortes;
  • Costumam ter pelos em todo o corpo, embora a densidade varie entre os grupos, assim como a coloração;
  • O tamanho e o peso também variam conforme a espécie;
  • Os hábitos de congregação mudam dependendo do tipo de canídeo.
Canídeos – Tipos, características, dieta, habitat e reprodução - Características dos canídeos

Tipos de canídeos

Estes animais formam um grupo diverso de diferentes gêneros, o que resulta em diferentes tipos de canídeos:

Gênero Atelocynus

A única espécie deste gênero é o cachorro-do-mato-de-orelhas-curtas (Atelocynus microtis), classificada em diferentes gêneros, mas que foi finalmente identificada como independentemente. Ele tem uma cabeça grande, pernas relativamente curtas com membranas interdigitais. Além disso, apresenta colorações escuras com diferentes padrões entre os indivíduos. É nativo de alguns países da América do Sul.

Gênero Canis

Este gênero é muito variado e talvez um dos mais conhecidos, pois inclui diferentes tipos de canídeos comuns para nós, como lobos, cães, coiotes, chacais e dingos. Eles costumam ter tamanhos de médio a grande, com algumas exceções, principalmente nos cães domésticos. Possuem dentes fortes e bem desenvolvidos, orelhas e caudas curtas em relação ao tamanho do corpo. A coloração e a pelagem são muito variadas.

Não deixe de ler também nosso artigo sobre tipos de lobos e suas características.

Gênero Cerdocyon

Este gênero inclui um tipo de canídeo conhecido como graxaim-do-mato (Cerdocyon thous), que é uma espécie nativa da América do Sul. Sua aparência é semelhante à das raposas, incluindo uma combinação de cores como cinza, avermelhado, preto e branco. É um animal de porte pequeno a médio.

Gênero Chrysocyon

O lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) é a única espécie que pertence a este gênero. É nativo da América do Sul e é considerado o maior de toda a região, com até 1,3 metros de comprimento e quase um metro de altura. Seu longo pelo é de coloração avermelhado-dourada.

Gênero Cuon

Conhecido como cão-selvagem-asiático (Cuon alpinus), é nativo de vários países da região e a única espécie deste gênero. Caracteriza-se por ter um tamanho médio de até cerca de 45 cm de comprimento e 50 cm de altura. Seu focinho é incomumente grosso, e a coloração do pelo varia dependendo da área em que habita, podendo ser vermelho-oxidado, cinza-pardo ou de um tom vermelho uniforme.

Gênero Lycalopex

Este gênero inclui alguns animais conhecidos como raposas, embora não sejam os únicos a receberem esse nome comum. Existem seis espécies e todas são endêmicas da América do Sul:

  • Raposa-colorada (Lycalopex culpaeus);
  • Raposa-de-darwin (Lycalopex fulvipes);
  • Raposa-cinzenta-argentina (Lycalopex griseus);
  • Graxaim-do-campo (Lycaolepx gymnocercus);
  • Raposa-do-deserto-peruana (Lycaolepx sechurae);
  • Raposa-do-campo (Lycalopex vetulus).

As cores da pelagem, o peso e o tamanho variam conforme a espécie. Nesse sentido, podem ser cinzas com preto ou amarelo, avermelhados ou cinza-pardos, com pesos variando de 1,8 a 14 kg.

Gênero Lycaon

Neste gênero, encontramos apenas um tipo de canídeo, o mabeco (Lycaon pictus). Seu nome científico significa "lobo pintado ou adornado", o que corresponde à sua pelagem, que possui coloração negra, marrom, avermelhada e branca, com a peculiaridade de que o padrão é único em cada animal. Ele mede um pouco mais de um metro de comprimento e pode pesar entre 18 e 36 kg.

Gênero Nyctereutes

O cão-guaxinim (Nyctereutes procyonoides) é outro tipo de canídeo e o único deste gênero. É nativo da Ásia e é um animal peculiar, com características que o fazem parecer um cruzamento entre uma pequena raposa e um guaxinim. A cor do corpo varia de amarelo a marrom, em alguns casos, com combinações de preto e branco no rosto. Ele mede até cerca de 68 cm de comprimento, com um peso que varia de 4 a 10 kg.

Gênero Otocyon

A raposa-orelhas-de-morcego (Otocyon megalotis) é um canídeo nativo de algumas regiões da África e é a única espécie deste gênero. Sua característica marcante são suas enormes e notáveis orelhas, que medem mais de 10 cm, que dão o porquê de seu nome. Outra peculiaridade está em sua dentição, já que este animal possui um número maior de dentes do que outros animais mamíferos. Sua pelagem é amarelo-marrom, combinada em algumas áreas com tons claros e pretos.

Gênero Speothos

Conhecido comumente como cachorro-vinagre (Speothos venaticus), é uma espécie que habita do Panamá à Argentina, embora também tenha presença incerta em vários países. É o único de seu gênero e é um animal pequeno, medindo até cerca de 75 cm de comprimento e pesando até 7 kg. A pelagem é marrom e escurece em direção à cauda e patas, enquanto perto da garganta forma-se um círculo de pelos claros ou brancos.

Gênero Urocyon

Dentro deste gênero de canídeos, encontram-se duas espécies conhecidas como raposa-cinzenta (Urocyon cinereoargenteus) e raposa-das-ilhas (Urocyon littoralis). O primeiro está presente do Canadá até a Venezuela, enquanto o segundo é endêmico dos Estados Unidos. A raposa-cinzenta pesa de 2 a 9 kg e é caracterizada por apresentar uma combinação de cores branca, preta, vermelha e cinza. Por outro lado, a raposa-das-ilhas é bem pequena, pesando em média de 2 kg, com coloração branca acinzentada com áreas de cor de canela ou amarelo e branco.

Gênero Vulpes

Este é o gênero das raposas verdadeiras e aqui estão presentes 12 espécies diferentes, sendo elas:

  • Raposa-de-bengala (V. bengalensis);
  • Raposa-afegã (V. cana);
  • Raposa-do-cabo (V. chama);
  • Raposa-das-estepes (V. corsac);
  • Raposa-do-himalaia (V. ferrilata);
  • Raposa-do-árctico (V. lagopus);
  • Raposa-anã (V. macrotis);
  • Raposa-pálida (V. pallida);
  • Raposa-de-rüppel (V. rueppellii);
  • Raposa-veloz (V. velox);
  • Raposa-vermelha (V. vulpes);
  • Feneco (V. zerda).

Seus tamanhos variam de 5 a 11 kg. Elas são caracterizadas por terem caudas longas e peludas. Possuem um padrão triangular de cor negra entre os olhos e o nariz, além disso, a ponta da cauda tem uma cor diferente do restante do corpo. A distribuição varia conforme a espécie e podem estar presente em diversos continentes.

Saiba mais sobre os diferentes tipos de raposas neste artigo.

Canídeos – Tipos, características, dieta, habitat e reprodução - Tipos de canídeos

Onde vivem os canídeos?

Como vimos até agora, os canídeos formam um grupo bastante diverso, que, embora compartilhem diferentes características comuns, também possuem muitas diferenças. Nesse sentido, o habitat é uma delas, já que esses mamíferos podem viver em diferentes tipos de ecossistemas, desde florestas tropicais, savanas e regiões áridas e até árticas.

Por exemplo, o cachorro-do-mato-de-orelhas-curtas vive na Floresta Amazônica; os lobos, dependendo da espécie, habitam desde regiões áridas, florestas, pradarias até zonas árticas; os coiotes vivem em desertos, pradarias e tanto em encostas de montanhas quanto em florestas; enquanto as raposas verdadeiras são espécies de canídeos que vivem em diversos tipos de habitats, desde desertos até zonas árticas.

O que os canídeos comem?

Os canídeos estão incluídos na ordem dos carnívoros, pois dependem desse tipo de dieta para se nutrirem adequadamente. No entanto, muitos deles não são estritamente carnívoros, visto que podem ser onívoros, embora a carne seja a sua principal fonte de alimento. Além disso, é comum que muitos deles sejam carniceiros, especialmente quando há escassez de presas.

Os animais que fazem parte dos canídeos são caçadores e, em certos casos, os principais predadores do habitat em que vivem. Geralmente, eles tendem a se apoiar mutuamente na caça, realizando essa atividade em grupo ou com sua matilha.

Como os canídeos se reproduzem?

Todos os canídeos têm reprodução sexuada e são mamíferos placentários. As formas reprodutivas dos canídeos variam dependendo do grupo, mas podemos mencionar alguns aspectos comuns que geralmente os distinguem de outros mamíferos. Nesse sentido, geralmente são muito territorialistas, especialmente quando têm crias. Também tendem a ser monogâmicos, e alguns mantêm o mesmo parceiro até que um deles morra.

Em alguns casos, a possibilidade de reprodução é um privilégio para o casal alfa que lidera a matilha. Além disso, eles costumam cavar tocas ou usar tocas abandonadas para que a fêmea possa dar à luz. Uma vez que nascem, os pais cuidam dos filhotes por mais de um ano. Vale destacar que as ninhadas costumam ser numerosas e os filhotes são totalmente dependentes dos pais e até mesmo do grupo familiar que ajuda nos cuidados e na alimentação. Normalmente, as fêmeas têm apenas um cio durante o período reprodutivo, e a gestação em espécies menores dura cerca de 50 dias, enquanto nas maiores dura cerca de 60 dias ou um pouco mais do que isso.

Exemplos de comportamento reprodutivo

Para entender melhor as características reprodutivas mencionadas, vejamos alguns exemplos:

  • Lobos, por exemplo, são monogâmicos e apenas o casal alfa se reproduz. Assim, o resto da matilha pode se reproduzir caso deixe de fazer parte dela e forme seu próprio grupo;
  • O chacal-dourado (Canis aureus) apresenta um traço interessante em sua dinâmica reprodutiva, sendo estritamente monogâmico. Além disso, em seu grupo há um ou dois membros ajudantes que, embora sejam sexualmente maduros, não se reproduzem, mas permanecem com os pais para ajudar nos cuidados com a nova ninhada;
  • Por fim, podemos mencionar que no grupo das raposas verdadeiras encontramos espécies que podem ter mais de um parceiro reprodutivo.
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Estado de conservação dos canídeos

Muitas espécies de canídeos se encontram em algum estado de risco de extinção segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza. As ameaças estão geralmente relacionadas à caça direta desses animais, bem como à perda de habitat. Vários grupos foram considerados perigosos e prejudiciais para animais domésticos, mas isso está associado à diminuição das presas naturais, como nos lobos, que são forçados a atacar o gado devido a essa situação.

Vamos conhecer alguns exemplos de casos específicos do estado de conservação dos canídeos:

  • Raposa-vermelha (V. vulpes): quase ameaçado;
  • Lobo-etíope (Canis simensis): em perigo;
  • Lobo-vermelho (Canis rufus): em perigo crítico;
  • Cão-selvagem-asiático (Cuon alpinus): em perigo;
  • Raposa-de-darwin (Lycalopex fulvipes): em perigo;
  • Mabeco (Lycaon pictus): em perigo;
  • Raposa-das-ilhas (Urocyon littoralis): quase ameaçado;
  • Cachorro-vinagre (Speothos venaticus): quase ameaçado;
  • Lobo-guará (Chrysocyon brachyurus): quase ameaçado;
  • Cachorro-do-mato-de-orelhas-curtas (Atelocynus microtis): quase ameaçado.

Infelizmente, não são só os canídeos que estão em risco de extinção. Conheça neste artigo outros animais em perigo de extinção no planeta.

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Referências
  1. Don E. Wilson & DeeAnn M. Reeder (editores). (2005). Mammal Species of the World. A Taxonomic and Geographic Reference (3.a ed.). Disponible en: http://www.departments.bucknell.edu/biology/resources/msw3/browse.asp?id=14000691
  2. Fuentes, J. y Muñoz, J. (2012). Filogenia de los cánidos actuales (Carnívora: Canidae) mediante análisis de congruencia de caracteres bajo parsimonia. Revista Actualidades Biológicas. Disponible en: http://www.scielo.org.co/scielo.php?pid=S0304-35842012000100007&script=sci_arttext
  3. Garrido, G. y Arribas, A. (2008). Generalidades sobre los carnívoros del Villafranquiense superior en relación con el registro fósil de Fonelas P-1. Disponible en: https://web.archive.org/web/20130927194322/http://www.igme.es/internet/museo/investigacion/paleontologia/Fonelas/ficheros%20pdf/6%20Fonelas%20P-1%20Generalidades%20carnivoros%20Villafranquiense.pdf
Bibliografia
  • Fahey, B. y P. Myers 2000. Canidae. Animal Diversity Web. Disponible en: https://animaldiversity.org/accounts/Canidae/
  • Leite-Pitman, M.R.P. & Williams, R.S.R. (2011). Atelocynus microtis. The IUCN Red List of Threatened Species 2011: e.T6924A12814890. https://dx.doi.org/10.2305/IUCN.UK.2011-2.RLTS.T6924A12814890.en
  • UICN (2021). Lista Roja de Especies Amenazadas de la UICN. Disponible en: https://www.iucnredlist.org.

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