Nistagmo em cães - Devo me preocupar?
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Quando viramos nossas cabeças para o lado, é normal que os olhos também se mexam. Esse movimento rítmico e involuntário dos olhos é conhecido como nistagmo e permite a estabilização das imagens na nossa retina, mantendo nosso equilíbrio. Não só os humanos possuem essa capacidade, mas os animais também.
No entanto, nem sempre esses movimentos são normais, como por exemplo, quando a cabeça estiver parada. Diversos fatores podem ocasionar essa alteração visual, que pode ocorrer por meio de movimentos horizontais, verticais e rotacionais. Geralmente, essa anormalidade vem acompanhada de outros sinais indicativos de disfunção do sistema nervoso do animal. Para um diagnóstico precoce, o tutor deve ficar atento ao comportamento do seu amigo peludo. Quer saber mais sobre essa alteração neurológica? Então não perca este artigo do PeritoAnimal no qual explicamos as causas, sintomas e tratamento para o nistagmo em cães!
O que é nistagmo?
O nistagmo é definido como oscilações rítmicas involuntárias dos olhos. No nistagmo fisiológico (normal), quando a cabeça se movimenta para um lado, as células pilosas dos receptores vestibulares desse lado são estimuladas, fazendo com que os olhos se movam devagar na direção oposta, seguindo-se um movimento rápido para a direção do movimento da cabeça, passando a ocupar uma posição mais centralizada. Esta fase rápida ocorre quando a tensão nos músculos extraoculares atinge o seu limite, provocando um movimento corretivo dos olhos na direção do movimento da cabeça. Este movimento ocorre devido à fixação do olhar num ponto durante um breve momento, antes de se fixar rapidamente na nova posição. A fase lenta deste reflexo envolve os receptores vestibulares no labirinto membranoso, e a fase rápida envolve os núcleos vestibulares no tronco cerebral[1].
Já o nistagmo patológico é um movimento involuntário do globo ocular e envolve componentes lentos e rápidos. A direção do nistagmo é tipicamente definida pela direção da fase rápida (que indica o lado da lesão vestibular), podendo ser horizontal, vertical ou rotatória, além de poder modificar ao mudar a posição da cabeça. Quando há lesão de um lado do sistema vestibular, ocorre um desequilíbrio na atividade neural dos núcleos vestibulares, porque o sistema vestibular do lado normal continua a suprir os núcleos vestibulares com estímulos constantes. Esse desequilíbrio é interpretado pelo tronco encefálico como rotação ou movimento do corpo, o que origina o nistagmo, mesmo com o corpo ou a cabeça parados. Pode haver nistagmo tanto horizontal como rotatório, todavia, o nistagmo vertical identifica a doença como sendo de origem no sistema nervoso central[2].
Sintomas de nistagmo em cães
O nistagmo é um sintoma, e não uma doença em si. Essa manifestação pode indicar que existe uma doença no sistema vestibular. Quando o animal é posicionado com a cabeça reta, em sua posição normal, os olhos apresentam movimentos rápidos, que podem ser horizontais, verticais ou rotatórios.
O que é a síndrome vestibular canina?
A síndrome vestibular canina é um conjunto de sinais clínicos que surgem devido a alterações no sistema vestibular. O sistema vestibular é um sistema sensorial que permite o controle do equilíbrio corporal do animal, sendo responsável por manter o corpo em um posicionamento correto em relação à gravidade. Ele está envolvido na manutenção da posição da cabeça no espaço e na manutenção do posicionamento dos olhos, pescoço, tronco e membros em relação à cabeça[1].
Essas desordens vestibulares são comuns em cães, podendo gerar sintomas como nistagmo patológico, estrabismo posicional, inclinação de cabeça, andar em círculos, paresia (perda parcial dos movimentos) e ataxia (dificuldade ou incapacidade de se manter a coordenação motora). Animais com a doença aguda podem apresentar também vômito associado ao desequilíbrio. Esses sintomas citados são comuns à síndrome vestibular central e periférica[2].
O que pode causar nistagmo em cães?
O nistagmo em cães geralmente está associado à síndrome vestibular, que pode ter várias causas:
1. Anomalias congênitas
As anomalias congênitas ocorrem mais em gatos que em cachorros, esporadicamente em ninhadas de gatos de raça pura, como siamês, birmanês e persa. Os sinais vestibulares podem se iniciar desde o nascimento até o animal atingir algumas semanas de idade. A surdez, por exemplo, pode acompanhar os sinais vestibulares (inclinação da cabeça, ataxia e andar em círculos), podendo ser uni ou bilateral.
2. Hipotireoidismo
O hipotireoidismo pode apresentar sinais agudos ou crônicos, incluindo letargia, fraqueza generalizada, perda de peso e pelo em mau estado, embora possam estar presentes apenas sinais vestibulares, como inclinação da cabeça, estrabismo posicional, nistagmo e andar em círculos.
3. Otite média/interna
A causa mais comum de síndrome vestibular periférica em cães e gatos é a infeção da orelha interna, que se origina no canal auditivo externo, progride para a orelha média e finalmente acaba por afetar a orelha interna. A maioria das otites nos animais de companhia é causada por bactérias, apesar de alguns fungos também serem encontrados. As bactérias mais encontradas são Staphylococcus spp., Streptococcus spp., Proteus spp., Pseudomonas spp., Pasteurella spp. e Escherichia coli. Essas bactérias produzem toxinas que provocam inflamação no labirinto, ou as próprias bactérias podem invadir a região, provocando uma otite interna.
4. Síndrome vestibular idiopática
Trata-se de um conjunto de sinais clínicos de aparecimento agudo e que normalmente se manifesta em animais com mais de 5 anos, com média de idade entre os 12 e os 13 anos. Não existe ainda uma causa estabelecida, sendo os sintomas agudos ou hiperagudos, podendo ser precedidos por náuseas e vômitos.
5. Pólipos nasofaríngeos
Os pólipos nasofaríngeos são compostos por tecido fibroso vascularizado, revestido por epitélio, sendo mais comuns em gatos que em cachorros. Podem ter origem na cavidade timpânica ou na tuba auditiva e crescem progressivamente ocupando a nasofaringe, podendo atingir a orelha média.
6. Ototoxicidade
Existem medicamentos que podem causar otoxicidade, ou seja, afetam a função vestibular e/ou a audição. A toxicidade pode ocorrer com a administração tópica ou sistêmica. Os antibióticos aminoglicosídeos são os agentes que mais causam ototoxicidade.
7. Neoplasias
Os tumores mais comuns que causam secundariamente síndrome vestibular são os tumores do pavilhão auricular, canal auditivo externo e orelha interna, através da compressão ou da infiltração do labirinto ósseo ou dos componentes nervosos, ou indiretamente através do processo inflamatório que originam. Os tumores da bula timpânica ou do labirinto (fibrossarcomas, condrossarcomas, osteossarcomas) podem destruir estruturas na orelha interna. Os adenocarcinomas das glândulas ceruminosas, adenocarcinomas das glândulas sebáceas, carcinomas de origem desconhecida e carcinomas de células escamosas são os tumores de orelha mais comuns.
8. Traumas
Traumas na orelha média ou interna podem provocar sinais vestibulares periféricos, ocasionando sinais como escoriações e tumefação na face e hemorragia no canal auditivo do lado afetado.
Meu cachorro tem nistagmo. Devo me preocupar?
Caso seja nistagmo fisiológico, você não precisa se preocupar. Mas caso o nistagmo seja patológico ou você não saiba identificar se está normal ou não, o animal deverá ser levado a um médico veterinário para que seja realizado um exame neurológico. Quanto antes o problema for diagnosticado, maiores as chances de tratamento bem-sucedido.
Tratamento para nistagmo em cães
O tratamento do nistagmo deverá ser direcionado para a causa de base, ou seja, a doença causadora do nistagmo. Existem doenças do sistema nervoso central que acometem especificamente as vias vestibulares, entretanto, qualquer patologia que se desenvolva nas regiões adjacentes pode levar secundariamente à disfunção vestibular em decorrência de isquemia (diminuição ou interrupção da irrigação sanguínea), compressão ou infiltração.
Agora que você já sabe tudo sobre nistagmo em cães, não perca o vídeo a seguir no qual explicamos como os cachorros enxergam:
Este artigo é meramente informativo, no PeritoAnimal.com.br não temos capacidade para receitar tratamentos veterinários nem realizar nenhum tipo de diagnóstico. Sugerimos-lhe que leve o seu animal de estimação ao veterinário no caso de apresentar qualquer tipo de condição ou mal-estar.
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- Antunes, J.R. Síndrome vestibular periférica em gatos. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Faculdade de Veterinária, 2016. Disponível em https://lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/148181/001000739.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em 13/10/2022.
- Diogo, C.C., Camassa, J.A.A. Síndrome vestibular central de causa bacteriana em cães – revisão de literatura. Revista Científica de Medicina Veterinária, 2015. Disponível em http://faef.revista.inf.br/imagens_arquivos/arquivos_destaque/CB81tdSKMD2qK1h_2015-11-27-12-18-8.pdf. Acesso em 13/10/2022.
- Moraes, I. Nistagmo: entenda qual é esta disfunção que pode afetar os animais. Vida de Bicho, 2022. Disponível em https://revistacasaejardim.globo.com/Vida-de-Bicho/Saude/noticia/2022/05/nistagmo-entenda-qual-e-esta-disfuncao-que-pode-afetar-os-animais.html. Acesso em 11/10/2022.
- Baldini, J.D.A et al. Síndrome Vestibular Geriátrica em Canino. XIX Encontro Científico Cultural Interinstitucional, 2021. Disponível em https://www2.fag.edu.br/coopex/inscricao/arquivos/ecci_2021/13-10-2021--14-39-34.pdf. Acesso em 11/10/2022.