Doenças neurológicas

Disfunção cognitiva canina - O que é, sintomas e tratamento

 
Carla Moreira
Por Carla Moreira, Médica veterinária. 23 abril 2024
Disfunção cognitiva canina - O que é, sintomas e tratamento
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Com o envelhecimento, o cão sofre declínio das suas capacidades orgânicas, e como consequência, há declínio em sua capacidade cognitiva cerebral. A cognição está relacionada com a capacidade do cachorro em adquirir e processar informações a partir do conhecimento preexistente. Problemas de cognição são observados quando o animal apresenta alterações de comportamento, de aprendizado e distúrbios do sono.

A disfunção cognitiva canina é uma doença neurodegenerativa progressiva dos cães idosos, com alterações que levam ao declínio cognitivo, similar ao que é observado na doença de Alzheimer em humanos. Com a evolução da medicina veterinária e dos diversos tratamentos, os cães tendem a viver mais tempo. Por isso, a maioria dos tutores irá enfrentar todo esse processo de envelhecimento com seu animal. Pensando nisso e para ajudar o tutor nessa missão, o PeritoAnimal fez este artigo sobre disfunção cognitiva canina, com informações e dicas sobre a doença e suas opções terapêuticas. Boa leitura!

Índice
  1. O que é a disfunção cognitiva canina?
  2. Sintomas da disfunção cognitiva canina?
  3. Tratamentos para a disfunção cognitiva canina
  4. Quais as raças mais propensas a desenvolver a disfunção cognitiva canina?

O que é a disfunção cognitiva canina?

O envelhecimento é um processo multifatorial que promove um declínio nas funções da maioria dos órgãos e tecidos do corpo do animal. O envelhecimento cerebral pode provocar mudanças anatômicas e/ou fisiológicas, ambas afetando o comportamento do cachorro.

A Síndrome da Disfunção Cognitiva Canina (SDCC) é uma doença neurodegenerativa crônica e progressiva, que acomete animais idosos, acarretando alterações em todo o seu organismo, principalmente no sistema nervoso, cursando com sinais clínicos, majoritariamente comportamentais.

É uma doença pouco diagnosticada, pois os tutores evitam descrever as alterações observadas no cachorro por acreditar que os sintomas apresentados são normais do envelhecimento. Infelizmente, é uma doença que não tem cura e sua evolução é inevitável. No entanto, quanto mais cedo for diagnosticada, maior o tempo de vida do cachorro, que poderá se beneficiar dos tratamentos disponíveis, retardando a evolução da doença. As alterações de comportamento do animal afetado pode influenciar na relação entre o pet e seu tutor, sendo de fundamental importância o estabelecimento da terapia.

Sintomas da disfunção cognitiva canina?

Os sintomas de cães com disfunção cognitiva canina são majoritariamente comportamentais, sendo muito sutis em fases iniciais da doença, agravando-se com sua progressão. As mudanças comportamentais e da rotina diária são as mais importantes, incluindo desorientação, alterações na interação com as pessoas e outros animais, alterações do ciclo do sono, problemas de higiene e eliminação e alteração nos níveis de atividade, além de ansiedade e alterações de aprendizagem e memória.

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Tratamentos para a disfunção cognitiva canina

O tratamento da disfunção cognitiva canina tem o objetivo de proporcionar melhor qualidade de vida para o animal, além de tentar reduzir a evolução da doença. Uma vez que a doença não tem cura, as intervenções terapêuticas visam minimizar as alterações comportamentais presentes e proporcionar uma melhoria na interação animal e tutor.

A alteração do ambiente é extremamente benéfica para o cachorro acometido pela doença, pois facilita sua vida diária. O enriquecimento ambiental pode ser feito com um aumento do número de comedouros e vasilhas com água nos lugares de maior acesso e repouso, facilitando a alimentação. Materiais antiderrapantes podem ajudar muito os animais com dificuldades de locomoção, assim como o uso de rampas de acesso. O contato com pessoas e animais também ajuda a estimular o olfato, a audição e a visão, além dos benefícios da interação social. Animais com dificuldades visuais podem se beneficiar com o uso de tapetes com cores e texturas diferentes, marcando a mudança de um ambiente para outro.

A terapia com medicamentos deverá ser acompanhada pelo veterinário, que terá o cuidado de realizar exames laboratoriais periódicos. O principal objetivo do tratamento farmacológico é restaurar as concentrações de neurotransmissores e evitar o avanço do processo neurodegenerativo.

A selegilina é um fármaco aprovado e utilizado em cães desde 1998, tendo sua eficácia evidente após duas a seis semanas após o início do tratamento. Seu uso ainda pode ser preventivo em cães relativamente saudáveis, pois alguns estudos demonstraram que a dose de 1mg/kg pode prolongar a vida de cães entre os 10 e 15 anos.

Outras medicações podem ser utilizadas de acordo com os sintomas do cachorro, como por exemplo, o uso de anti-histamínicos com efeito sedativo a curto prazo para cães com alterações nos padrões de sono. Alguns fármacos encontram-se em estudo, como os utilizados para a doença de Alzheimer em humanos. Os medicamentos adequados devem ser prescritos pelo veterinário. Nunca medique seu pet por conta própria! Pode ser muito perigoso para ele.

Dietas formuladas para cães idosos podem ser benéficas em alguns casos, pois possuem várias combinações de compostos como antioxidantes, ácido α-lipoico, L-carnitina, alguns minerais (cobre, zinco, manganês), triglicerídeos de cadeia média, ômega 3 e 6, dentre outros.

Quais as raças mais propensas a desenvolver a disfunção cognitiva canina?

A disfunção cognitiva canina não possui predisposição de sexo ou raça, entretanto, com a diferença entre o tempo de alcance da terceira idade entre as raças (raças menores envelhecem mais tardiamente que as raças maiores), a doença é mais observada em cães de porte pequeno1.

Este artigo é meramente informativo, no PeritoAnimal.com.br não temos capacidade para receitar tratamentos veterinários nem realizar nenhum tipo de diagnóstico. Sugerimos-lhe que leve o seu animal de estimação ao veterinário no caso de apresentar qualquer tipo de condição ou mal-estar.

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Referências
  1. Marcondes, A.M.C, Farias, A.C.M. Síndrome de Disfunção Cognitiva Canina: uma revisão de literatura. Unisul, 2023. Disponível em file:///C:/Users/carlamoreira/Downloads/S%C3%8DNDROME%20DE%20DISFUN%C3%87%C3%83O%20COGNITIVA%20CANINA%20UMA%20REVIS%C3%83O%20DE%20LITERATURA%20(2)-1.pdf. Acesso em 08/04/2024.
Bibliografia
  • Schimanski, L. et al. Síndrome da disfunção cognitiva em cães – do diagnóstico ao tratamento. Investigação, 18(6):28-34, 2019. Disponível em file:///C:/Users/carlamoreira/Downloads/3293-Texto%20do%20artigo-12270-1-10-20200218%20(1).pdf. Acesso em 12/03/2024.
  • Fagundes, T.S, Mazzotti, G.A. Disfunção Cognitiva Canina. MedVep – Revista Científica de Medicina Veterinária – Pequenos Animais e Animais de Estimação, 2016. Disponível em chrome-extension://efaidnbmnnnibpcajpcglclefindmkaj/https://medvep.com.br/wp-content/uploads/2020/06/Disfun%C3%A7%C3%A3o-Cognitiva-canina.pdf. Acesso em 13/03/2024.
  • Schmidt, H. O processo cognitivo na espécie canina. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Faculdade de Veterinária, 2017. Disponível em: file:///C:/Users/carlamoreira/Downloads/001051132.pdf. Acesso em 13/03/2024.
  • Pereira, R.M.C. A Síndrome da Disfunção Cognitiva Canina. Relatório Final de Estágio. Mestrado Integrado em Medicina Veterinária. Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar. Universidade do Porto, 1016. Disponível em file:///C:/Users/carlamoreira/Downloads/138847.pdf. Acesso em 08/04/2024.
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