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Cirrose em cachorros - Causas, sintomas e tratamento

 
Cristina Pascual
Por Cristina Pascual, Veterinária. 21 março 2022
Cirrose em cachorros - Causas, sintomas e tratamento
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A cirrose consiste em uma fibrose hepática avançada caracterizada pela perda da arquitetura hepática normal. Geralmente, ocorre como consequência de lesões crônicas no fígado somadas à falha de regeneração deste órgão pelo organismo. Embora se trate de um processo degenerativo, crônico e irreversível, é importante instaurar um tratamento adequado para evitar a progressão da fibrose e tratar as complicações associadas a este processo.

Se quiser conhecer mais sobre a cirrose em cachorros, suas causas, sintomas e tratamento, te recomendamos que nos acompanhe neste artigo do PeritoAnimal, onde explicaremos os aspectos mais importantes deste problema hepático, incluindo o diagnóstico.

Índice

  1. O que é a cirrose em cachorros
  2. Causas da cirrose em cachorros
  3. Sintomas da cirrose em cachorros
  4. Diagnóstico da cirrose em cachorros
  5. Tratamento da cirrose em cães

O que é a cirrose em cachorros

A cirrose consiste em uma fibrose avançada do fígado onde a arquitetura hepática normal é perdida. Trata-se de um processo degenerativo, crônico e irreversível do fígado, causado pela soma de dois fatores:

  • Lesões crônicas no fígado: geralmente causadas por doenças hepáticas ou por intoxicações que afetam o fígado.
  • Falha no mecanismo da regeneração: o fígado é um órgão com um grande poder de regeneração, tanto que é capaz de se regenerar por completo a partir de apenas 30% do seu tamanho. Quando este mecanismo de regeneração falha, a cirrose aparece.

As tentativas do fígado de regenerar seus hepatócitos causam uma proliferação anômala destas células, que se associam formando nódulos desestruturados e sem função, conhecidos como nódulos de regeneração.

Por outro lado, o parênquima danificado do fígado é substituído por tecido conjuntivo, aparecendo assim uma fibrose severa que compromete ainda mais a estrutura e a função hepática. Por vezes, é estimulada também a proliferação anormal do sistema biliar, causando hiperplasia biliar.

Por consequência podem ser observadas, a nível microscópico, as seguintes características:

  • Nódulos de regeneração: com perda da estrutura lobular típica do fígado.
  • Fibrose severa.
  • Hiperplasia biliar (nem sempre.

A nível macroscópico, as características que podem ser observadas nos casos de cirrose hepática no cachorro, são:

  • Diminuição do tamanho do fígado.
  • Consistência firme: pelo depósito de tecido conjuntivo.
  • Superfície nodular: pela formação de nódulos de regeneração.
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Causas da cirrose em cachorros

Entre os motivos que podem causar cirrose em cachorros, estão:

  • Tratamentos anticonvulsivos: fundamentalmente associados à administração de fenobarbital, um potente hepatóxico.
  • Hepatite crônica: no cão, a hepatite crônica pode ser causada por agentes infecciosos (como adenovírus canino tipo 1, Ehrlichia canis ou Leishmania infantum), tóxicos como o cobre, aflatoxinas e medicamentos.
  • Intoxicações por alcaloides vegetais: muito mais frequentes em animais herbívoros que em carnívoros. Saiba mais sobre o assunto neste artigo sobre os Animais herbívoros: exemplos e curiosidades.
  • Obstrução biliar ou colestase crônica.
  • Congestão passiva hepática secundária: de onde deriva a Insuficiência Cardíaca Congestiva. Saiba mais sobre as doenças cardíacas em cães e gatos neste outro artigo do PeritoAnimal que te recomendamos.

Sintomas da cirrose em cachorros

Nas fases iniciais do processo da cirrose canina, os cães podem ser assintomáticos ou apresentar sintomas clínicos inespecíficos como vômitos, diarreia, poliúra, polidipsia, anorexia, perda de peso, apatia e/ou depressão.

Uma vez superada a capacidade de reserva funcional do fígado, apareceram sintomas clínicos sugestivos de doença hepática. Num geral, a alteração estrutural e funcional do fígado cirrótico conduzem a uma insuficiência hepática caracterizada pelo seguinte quadro clínico:

  • Ascite: dilatação abdominal por presença de líquido livre no abdômen. Quando o fígado não é capaz de manter os níveis de albumina no sangue, uma diminuição da pressão oncótica é causada, originando a ascite. Você pode encontrar aqui mais informação sobre A ascite em cães: causas e tratamento.
  • Icterícia: coloração amarelada das mucosas, causada por excesso de bilirrubina (pigmento de cor amarela) que se instaura pelos tecidos. Nos cães, geralmente é inicialmente detectado ao nível da esclera.
  • Encefalopatia hepática: é um quadro neurológico causado pelo acúmulo de substâncias neuro tóxicas não metabolizadas pelo fígado no sangue, principalmente o amoníaco. Os sintomas observáveis nestes cães incluem a alteração do nível de consciência (letargia, estupor e coma), fraqueza ou ataxia, pressão da cabeça contra a parede ou solo, anda em círculos e convulsões. Aqui você pode ler mais sobre a Encefalopatia hepática em cães: sintomas e tratamentos.
  • Shunts portossistêmicos adquiridos: consiste na formação de vasos que conectam de forma anômala a veia porta com a veia cava. Ocorre como consequência da hipertensão portal secundária à cirrose.
  • Tendência para sangramento: causada como consequência da diminuição na síntese de fatores de coagulação, função plaquetária e absorção de vitamina K.
  • Fotossenssibilização: acontece quando as substâncias fotossensíveis não são inativadas no fígado e se instauram na pele, dando lugar a um processo inflamatório e necrótico da epiderme.
  • Síndrome hepatocutânea: caracterizada pela aparição de lesões nas junções mucocutâneas e almofadas das patas dos cães. Causada por uma alteração na maturação epidérmica secundária ao déficit de aminoácidos essenciais que acontece durante falha hepática.
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Diagnóstico da cirrose em cachorros

O diagnóstico da cirrose em cachorros deve partir do seguinte protocolo:

  • História clínica e exame geral: é preciso prestar atenção especialmente à presença de sintomas clínicos associados a falha hepática, descritos no parágrafo anterior.
  • Análise sanguínea com perfil hepático: é preciso medir valores como proteínas totais, albumina, enzimas hepáticas (ALT, GGT e fosfatase alcalina), amoníaco, glicose e ácidos biliares.
  • Ultrassonografia abdominal: pode-se observar uma imagem sugestiva ou compatível com cirrose, caracterizada pela presença de nódulos hiperecogênicos (de cor esbranquiçada na imagem da ultrassonografia) que se correspondam aos nódulos de regeneração típicos deste processo. Além disso, esta imagem é compatível também com a presença de tumor de fígado, motivo pelo qual a ultrassonografia não permite o diagnóstico definitivo.
  • Radiografia abdominal: a finalidade da radiografia é fornecer informação sobre o tamanho do fígado, já que a ultrassonografia geralmente dá uma ideia de algo subjetivo. Na cirrose, o tamanho do fígado estará diminuído.
  • Biópsia e análise histopatológica: a amostra pode ser colhida de forma percutânea (com agulhas de biópsia) ou por cirurgia (por laparotomia ou laparoscopia). Na análise histopatológica, o diagnóstico definitivo da cirrose é obtido mediante a detecção de instauração de tecido conjuntivo (fibrose) que impede a regeneração dos nódulos.

Tratamento da cirrose em cães

Embora a cirrose seja um processo irreversível, é importante estabelecer um tratamento adequado para evitar a progressão da fibrose e controlar os sintomas e complicações associados a este processo. O tratamento da cirrose em cães é baseado nos seguintes pontos:

  • Impedir a progressão da fibrose: é possível administrar antifibróticos como a colchicina, ainda que não hajam estudos que demonstrem sua eficácia.
  • Manejo dietético: um bom manejo nutricional é fundamental para manter a condição corporal dos cães com doenças hepáticas. Deve-se adotar uma dieta muito digestível, rica em carboidratos de fácil assimilação e baixa em gordura. Somente será preciso restringir os níveis de proteínas em cães que apresentem encefalopatia hepática. Nos casos de intoxicação por cobre, o nível de cobre também deverá ser restringido.
  • Tratamento das complicações: nos animais com ascite devem ser administrados diuréticos como a furosemida ou a espironolactona; em casos de ascite severa deve ser realizada uma abdominocentese para evacuar o líquido abdominal. Nos cães com encefalopatia hepática deve-se evitar a produção e absorção de toxinas no intestino através do uso de laxantes (como a lactulose) e antibióticos orais.
  • Tratamento de suporte: de formato complementar, podem ser administrados hepatoprotetores e antioxidantes como o ácido ursodeoxicólico, a vitamina E ou a silimarina.

Agora que você já sabe as causas e tratamentos para a cirrose em cachorros, recomendamos a leitura deste outro artigo sobre a fosfatase alcalina alta em cães.

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Este artigo é meramente informativo, no PeritoAnimal.com.br não temos capacidade para receitar tratamentos veterinários nem realizar nenhum tipo de diagnóstico. Sugerimos-lhe que leve o seu animal de estimação ao veterinário no caso de apresentar qualquer tipo de condição ou mal-estar.

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Bibliografia
  • Davidson M.G., Else J.H., Lumdsen J.H. (1998). Manual of Small Animal Clinical Pathology. British Small Animal Veterinary Association.
  • Mira, G.A. Hepatopatías en caninos y felinos. Facultad de ciencias veterinarias. Universidad de Buenos Aires.

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