Transfusão de sangue em cães - Para que serve e efeitos colaterais

A transfusão sanguínea em cães é utilizada em várias situações:

• Para aumentar a capacidade de transporte de oxigênio;
• Melhorar a coagulação sanguínea;
• Corrigir a diminuição das proteínas no sangue;
• Repor o volume sanguíneo do corpo;
• Repor a imunidade de filhotes que não receberam o colostro da mãe.

Todos os animais que necessitarem de transfusão sanguínea deverão antes realizar a tipagem sanguínea ou teste de compatibilidade sanguínea entre o receptor e o doador, pois sangues incompatíveis podem gerar reações que coloquem em risco a vida do cachorro.

Em alguns casos, o cachorro pode precisar apenas de um componente do sangue, como as plaquetas, por exemplo, células responsáveis pela coagulação do sangue. A transfusão de hemácias é a mais comum, auxiliando na reposição dessas células que possuem a função de carrear o oxigênio para os diversos órgãos do corpo. A necessidade de transfusão é verificada com a análise de exames, utilizando parâmetros clínicos e laboratoriais.

Geralmente, a primeira transfusão realizada não apresentará reações graves, pois o receptor ainda não terá produzido anticorpos contra o tipo sanguíneo transfundido. No entanto, uma segunda transfusão, sem a realização da tipagem, pode ser fatal, mostrando a importância de se utilizar sangues compatíveis.

Quais são os tipos de transfusão?

A transfusão sanguínea pode ser de sangue total ou fracionada de hemocomponentes, ou seja, de apenas um ou mais componentes do sangue, como hemácias, plaquetas e proteínas. Na transfusão de sangue total, não há separação dos componentes do sangue, que é transfundido para o receptor em sua totalidade de componentes.

A transfusão de hemocomponentes pode ser utilizada quando o cachorro precisa apenas de uma parte específica do sangue. Por exemplo, um cachorro com problemas de coagulação pode precisar apenas de plaquetas, células responsáveis pela coagulação sanguínea. Nesse caso, as plaquetas serão separadas do sangue total e transfundidas para o cachorro. Os outros componentes do sangue poderão ser aproveitados em outros pacientes, com deficiências de outros componentes, como proteínas. No entanto, a utilização segura dos componentes sanguíneos requer o conhecimento dos grupos sanguíneos, para minimizar o risco de reações transfusionais, incluindo o teste de compatibilidade e triagem de cães doadores sadios

Para que a transfusão seja indicada, o cachorro deverá passar por uma avaliação do veterinário, que analisará a situação clínica do animal e parâmetros laboratoriais, como eritrograma, leucograma, quantidade de proteínas, volemia (quantidade de sangue no corpo), dentre outros. Algumas doenças causam anemia, como a erlichiose (doença do carrapato), sendo necessária a transfusão sanguínea. Hemorragias por acidentes ou por falta de fatores de coagulação também podem requerer a transfusão como terapia de emergência.

Em qualquer caso, a decisão de se realizar a transfusão deverá ser do profissional competente, e precisará ser realizada em local com estrutura para tal, como uma clínica ou hospital veterinário. A tipagem sanguínea deverá ser realizada previamente no doador e no receptor, para evitar reações transfusionais.

Embora a transfusão sanguínea seja considerada uma terapia capaz de salvar vidas, ela pode resultar em reações transfusionais que poderão causar a morte do animal. Mesmo com a realização do teste de compatibilidade e da tipagem sanguínea, ainda assim podem ocorrer reações transfusionais. Embora as reações mais comuns sejam consideradas leves e autolimitantes, que incluem febre transitória, vômito e edema facial, o cachorro que recebe terapia por hemocomponentes deve ser monitorado frequentemente.

As reações podem ser divididas em imunológicas e não-imunológicas, e com relação ao tempo, de imediatas e tardias, como descreveremos abaixo:

1. Reações transfusionais imunológicas imediatas: Essas reações ocorrem nas primeiras 48 horas após a transfusão. A hemólise imunomediada aguda é a reação de maior risco para o paciente e ocorre devido à incompatibilidade entre doador e receptor ou à pré-sensibilização por transfusão anterior ou prenhez. Quando falamos em pré-sensibilização, estamos dizendo que o cachorro já foi exposto a antígenos eritrocitários diferentes (proteínas de células sanguíneas diferentes das que seu corpo produz), produzindo anticorpos contra esses antígenos. Alguns estudos indicam que ocorra uma sensibilização das fêmeas durante a gestão pela exposição aos antígenos dos eritrócitos dos fetos, o que leva as fêmeas que já tiveram muitas gestações serem excluídas da lista de doadores de sangue.
2. Reações transfusionais imunológicas tardias: São as reações que se iniciam após 48 horas da transfusão de um hemocomponente e ocorrem devido à resposta imune de memória induzida por transfusão prévia. Estas reações não podem ser previstas com teste de reação cruzada.
3. Reações transfusionais não-imunológicas imediatas: Nesse caso, a morte das hemácias não é causada por reação imunológica do receptor, ocorrendo por causas osmóticas, mecânicas ou térmicas durante a coleta, armazenamento ou administração do sangue.
4. Reações transfusionais não-imunológicas tardias: Neste caso, entram as doenças infecciosas transmitidas por meio da transfusão de componentes sanguíneos. Esse problema pode ser minimizado por meio de testes prévios e periódicos para doenças endêmicas na região nos doadores. Além disso, esses doadores não devem viajar e nem ter contato com outros animais recém introduzidos no ambiente.

Os cães possuem 8 grupos sanguíneos, identificados como antígenos eritrocitários caninos (DEA). A transfusão dos tipos sanguíneos incompatíveis DEA 1.1 e 1.2 pode resultar em hemólise. Felizmente, são raros os anticorpos pré-formados contra estes determinantes.

No Brasil a tipagem sanguínea não é uma prática comum nas clínicas e hospitais veterinários. E o que se tem feito para diminuir os riscos de reação transfusional é a realização do teste de compatibilidade.

Imagem: Apicella, C. Transfusão sanguínea em cães. Centro Universitários das Faculdades Metropolitanas Unidas, 2009.

Este artigo é meramente informativo, no PeritoAnimal.com.br não temos capacidade para receitar tratamentos veterinários nem realizar nenhum tipo de diagnóstico. Sugerimos-lhe que leve o seu animal de estimação ao veterinário no caso de apresentar qualquer tipo de condição ou mal-estar.

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