Gato comer lagartixa faz mal? O que acontece?
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Muito se discute se o gato doméstico moderno pode ser considerado um animal domesticado. Alguns estudiosos do assunto afirmam que o mais correto a se dizer seria que os felinos domésticos estão em um longo processo de domesticação devido as suas peculiaridades comportamentais estarem fortemente ligadas ao seu passado primitivo, bem como sua fácil adaptabilidade ao meio onde vivem[1].
Uma das heranças deixadas para o gato atual é o instinto de caça muito aguçado, motivo pelo qual estão sempre procurando pequenos animais para praticar suas habilidades. Dentre essas caças, temos as lagartixas, aparentemente inofensivas. Na verdade elas podem transmitir um trematódeo aos felinos, causando a platinosomose ou também conhecida como doença da lagartixa.
Se o seu gatinho costuma caçar lagartixas e você quer conhecer os riscos disso e o que fazer nessas situações, vamos explicar neste artigo do PeritoAnimal se gato comer lagartixa faz mal e o que acontece. Boa leitura.
O que fazer se meu gato comer uma lagartixa?
Geralmente, os gatos bem alimentados não comem a lagartixa que caçam, apenas brincam e treinam suas habilidades de caçadores. No entanto, caso o bichano coma o pequeno réptil, você não precisa se desesperar. Leve o seu amigo gato para consultar com o médico veterinário de sua confiança e explique a situação. Ele prescreverá o melhor vermífugo para o caso e o protocolo de administração mais adequado.
Em alguns casos, podem ser solicitados exames laboratoriais para que seja verificado o funcionamento do fígado e da vesícula biliar do bichano. Sempre que possível, evite que o gato tenha contato com lagartixas e outros répteis de jardins.
Neste outro artigo explicamos se lagartixa tem veneno, como muitos acreditam.
O que é a doença da lagartixa em gatos e seus sintomas
As lagartixas são hospedeiras intermediárias de um trematódeo que parasita o fígado dos felinos, o Platynosomum fastosum. A platinosomose, que ficou conhecida como doença da lagartixa, tem distribuição mundial, sendo mais comumente observada em áreas de clima tropical ou subtropical, sendo que no Brasil há relatos de casos em Pernambuco, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Rio de Janeiro.
O ciclo de vida do Platynosomum fastosum necessita de três hospedeiros intermediários. O primeiro é o caracol da terra (Subulina octona), o segundo são isópodos terrestres (besouros ou percevejos) e o terceiro são as lagartixas (Anolis cristatellus, A. equestris, A. sagrei, A. carolinensis) ou sapos (Bufo marinus, Bufo terrestrus). Além desses hospedeiros, alguns pássaros insetívoros podem estar envolvidos.
Os felinos domésticos e selvagens representam os hospedeiros definitivos do ciclo de vida do parasita que causa a platinosomose, eliminando no ambiente os ovos desse trematóide através das fezes. Nos gatos, os parasitas habitam preferencialmente o fígado e a vesícula biliar, mas também podem atingir o intestino delgado, pâncreas, pulmões e outros tecidos, ocasionando quadros clínicos diversos.
O acesso dos gatos a jardins, quintais e áreas livres são essenciais para a infecção e são o ponto sensível na prevenção dessa doença, pois, segundo alguns estudos, animais de vida livre têm 42% de chance de contaminação, em felinos semiconfinados as chances são 28,6% e confinados é de 7,1%.
Sintomas da doença da lagartixa
Os gatos parasitados pelo Platynosomum fastosum podem apresentar ou não sintomas, dependendo da gravidade da infecção. Caso a carga parasitária seja pequena, menos de 125 parasitas adultos, frequentemente o gato não apresenta sintomas. No entanto, em infestações maciças, a sintomatologia pode variar bastante.
Os animais podem apresentar:
- Falta de apetite
- Letargia
- Emagrecimento
- Desenvolvimento anormal dos pelos.
A doença pode evoluir para icterícia (pele e mucosas amareladas), vômito, diarreia com muco, fezes com coloração clara a esbranquiçada, anemia, fígado aumentado e ascite (líquido na cavidade abdominal), evoluindo para a morte do animal.
Como é feito o diagnóstico da platinosomose?
Seu gato comeu uma lagartixa e tem apresentado alguns sintomas que se encaixam no que você leu aqui? Alguns exames podem ser solicitados pelo médico veterinário para que se descubra se o agente causador da doença é o Platynosomum fastosum, como hemograma, exames bioquímicos (como a dosagem de enzimas hepáticas), análise da urina, ultrassonografia e coproparasitológico (exame de fezes).
A platinosomose felina tem cura?
Sim, a platinosomose tem cura! O sucesso do tratamento dependerá do grau de lesão do fígado, ducto biliar e vesícula biliar, como também da precocidade do diagnóstico e tratamento.
Como tratar a doença da lagartixa em gatos?
O tratamento deve ser iniciado com o uso de medicamentos anti-helmínticos (vermífugos), sendo o praziquantel o mais eficaz contra o Platinosomum fastosum, agindo no tegumento do parasita. O remédio deverá ser utilizado durante 2 ou 3 dias seguidos, sendo necessário repetir o tratamento após 12 semanas. Lembrando que a terapia medicamentosa deverá ser prescrita pelo médico veterinário, para que não haja risco de agravamento da doença.
O uso de antibióticos pode ser necessário, pois algumas bactérias podem causar infecções ascendentes provenientes do duodeno, produzindo inflamação da vesícula biliar e/ou do fígado. Podem ser associados ao tratamento oxidantes como a S-adenosilmetionina, que age como protetor hepático. Em animais com obstrução do ducto biliar pode ser realizado um procedimento cirúrgico denominado colecistoduodenostomia, onde a bile é escoada da vesícula para o trato gastrointestinal.
Além desses tratamentos, alguns animais precisarão de hidratação intravenosa e alimentação forçada por alguns dias (pode ser necessário utilizar uma sonda), a fim de que seja evitada a lipidose hepática (”fígado gorduroso”).
Fezes de lagartixa são perigosas para pets?
Quanto à platinosomíase, o perigo maior é a ingestão da lagartixa inteira pelo gato. No entanto, as fezes desses répteis podem ser um veículo para a transmissão de Salmonella sp., uma bactéria que pode sobreviver cerca de 9 meses no meio ambiente, principalmente se houver condições de umidade e temperaturas favoráveis para a sua multiplicação. Pode persistir no solo, água e partículas fecais.
A salmonelose é uma doença caracterizada por gastroenterite em pessoas adultas saudáveis, podendo evoluir para a forma sistêmica, particularmente em crianças, idosos e imunossuprimidos. Por isso, tanto os bichanos quanto os tutores, devem evitar o contato com as fezes das lagartixas.
Agora que você viu que o gato comer lagartixa pode causas uma série de complicações, é melhor não dar chance para a aproximação dos felinos e estes répteis. Por isso, recomendamos o seguinte artigo sobre como espantar lagartixas.
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- Scholten, A.D. Particularidades Comportamentais do Gato Doméstico. Universidade do Rio Grande do Sul, 2017. Disponível em https://lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/170364/001050568.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em 06/10/2022.
- De Paula, C.L. Platinosomíase em felinos domésticos: um diferencial para obstrução biliar. Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Botucatu, 2010. Disponível em https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/120431/paula_cl_tcc_botfmvz.pdf?sequen. Acesso em 06/10/2022.
- Almeida, E.K.C. Platinosomose em Felinos. Centro Universitário do Planalto Central Apparecido dos Santos – UNICEPLAC, 2021. Disponível em https://dspace.uniceplac.edu.br/bitstream/123456789/1847/1/Emily%20Kathllen%20Costa%20de%20Almeida.pdf. Acesso em 06/10/2022.
- Carvalho, A.C.B. Salmonella sp. em répteis de companhia. Universidade de Lisboa, Faculdade de Medicina Veterinária, 2016. Disponível em file:///C:/Users/carlamoreira/Downloads/Salmonella%20sp.%20em%20R%C3%A9pteis%20de%20companhia.pdf. Acesso em 06/10/2022.