Problemas da pele

Gato com ferida exposta: como tratar?

 
Carla Moreira
Por Carla Moreira, Médica veterinária. 24 outubro 2023
Gato com ferida exposta: como tratar?
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Manter um gato sem ferimentos nem sempre é uma tarefa fácil, ainda mais se o bichano tiver livre acesso à rua. Os felinos possuem um comportamento territorialista e reprodutivo bastante competitivo, o que gera uma infinidade de combates entre os machos da espécie.

Além dos ferimentos resultantes das brigas, o instinto de caçador dos gatos faz com que o animal caminhe muito, desbravando e dominando o território. No entanto, durante essas caminhadas, podem ocorrer acidentes, como atropelamentos, quedas, ferimentos e até mesmo maus tratos. O cuidado com essas lesões pode ser crucial para a sobrevivência do animal, evitando infecções e mutilações sem reversão.

Alguns tipos de feridas cicatrizam rapidamente, outras podem demorar meses para que a pele fique íntegra novamente. Tudo isso depende de vários fatores, como o sistema imunológico do animal, infecções bacterianas, parasitas e cuidados com a ferida. Mas o que define uma ferida aberta? Como cuidar dela? Como evitar que o gato fique lambendo as lesões? Se você ficou curioso para saber essas dicas, não deixe de ler este artigo do PeritoAnimal! Boa leitura!

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Índice
  1. Como tratar feridas expostas em gatos?
  2. Por que feridas ficam expostas e não cicatizam?
  3. Meu gato precisa usar cone para não lamber a ferida?
  4. Como acontece a cicatrização das feridas?

Como tratar feridas expostas em gatos?

As feridas expostas podem levar dias, e até meses, para cicatrizar. Sempre procure a ajuda de um veterinário antes de medicar o seu pet, pois tratamento sem orientação pode ser perigoso.

Inicialmente, a ferida deverá ser bem higienizada, com o uso de antissépticos (clorexidine, por exemplo), água oxigenada de 10 volumes e soro fisiológico. A limpeza deverá ser feita de forma suave, para não causar dor ao animal ou agravar a lesão. Devem ser retiradas sujeiras e crostas, para que o medicamento penetre na ferida.

Após a limpeza, deverá ser aplicada pomada com antibiótico, para que a ferida fique úmida e limpa. Dependendo do ambiente, o ferimento deverá ficar fechado, para que se não caiam sujidades ou pousem moscas. A presença de insetos pode se tornar um problema grave em ambientes com animais com feridas expostas. O uso de analgésicos é bem válido nesta fase, para dar conforto ao animal.

O curativo deverá ser refeito duas ou três vezes ao dia, nunca ficando sujo ou molhado. A ferida deverá ficar aberta após os 3 primeiros dias, caso não haja mais risco de contaminação externa. Aqui, deverá ser ponderada a vantagem e a desvantagem de deixar a ferida sem proteção. Todo tecido necrosado deverá ser retirado da ferida, liberando suas bordas para a cicatrização. O uso de pomadas antibióticas pode ser continuado, caso esteja ajudando na cicatrização.

Por que feridas ficam expostas e não cicatizam?

Feridas expostas são lesões onde ocorreu ruptura da pele, deixando o local desprotegido. Esse tipo de ferida cicatrizará por segunda intenção, ou seja, o corpo fará uma contração da ferida, aproximando suas bordas e o tecido lesionado será regenerado ou substituído por tecido conjuntivo cicatricial.

Algumas feridas podem ter suas bordas retiradas, serem bem limpas e suturadas, para que haja uma cicatrização mais rápida. Mas isso dependerá de vários fatores como: tempo de exposição dos tecidos lesionados, contaminação bacteriana e possibilidade de contração do tecido para fechamento da ferida.

Quando a ferida não quer cicatrizar, podemos suspeitar de alguns problemas:

  • Infecção (feridas contaminadas não fecham, pois o corpo precisa drenar as secreções, além disso, as bactérias podem produzir enzimas que não permitam a regeneração do tecido);
  • Parasitas (como larvas de moscas – miíase), o corpo não produz os fatores de cicatrização necessários.

As fases da cicatrização são eventos entrelaçados e é possível haver um agente terapêutico que acelere uma fase, mas cause uma inibição de outra. Por isso, um medicamento utilizado no início do tratamento poderá não ser eficaz em uma fase posterior da cicatrização.

Se você notar uma ferida em seu gato, esse artigo sobre Feridas em gatos - Primeiros socorros pode te ajudar a identificar e tratar o machucado.

Meu gato precisa usar cone para não lamber a ferida?

O uso do colar elizabetano, também chamado de “cone”, vai depender da localização da ferida. Caso o gato alcance o ferimento com a língua, será necessário o uso do colar, para evitar que ele contamine a ferida com as bactérias da boca.

Geralmente os gatos se sentem extremamente desconfortáveis com o colar elizabetano, devido ao seu peso e ao fato de não enxergarem através dele. Para minimizar o problema, pode ser feito um colar com o uso de filme para radiografia. Caso você tenha uma radiografia antiga em casa, pode limpá-la com água sanitária e depois com detergente neutro para tirar o cheiro forte do cloro. Utilize um colar comprado em pet shop como modelo e faça o corte no filme. Depois é só graduar no pescoço do gatinho e colar as pontas com esparadrapo. Além de mais leve, ele permite que o gato enxergue tudo ao seu redor, ficando mais tranquilo.

Gato com ferida exposta: como tratar? - Meu gato precisa usar cone para não lamber a ferida?

Como acontece a cicatrização das feridas?

A pele é composta por duas partes: a epiderme (um epitélio superficial) e a derma (uma camada fibrosa resistente), que se encontram sobre um estrato de tecido conjuntivo frouxo (hipoderme). Essas três camadas têm um papel importante na proteção do corpo contra danos mecânicos, como um ferimento, e contra infecção bacteriana.

Uma ferida acontece quando essa barreira é quebrada, seja por algum fator extrínseco (feridas cirúrgicas, lesões acidentais), seja por fatores intrínsecos (lesões produzidas por infecção e as úlceras crônicas, causadas por alterações vasculares, defeitos metabólicos ou neoplasias).

A reparação da ferida inicia-se logo em seguida à lesão, com uma combinação de agentes físicos, químicos e celulares, para que o tecido seja reparado ou substituído por colágeno. A cicatrização envolve algumas fases, que serão descritas abaixo:

  1. Fase inflamatória: caso o ferimento alcance a epiderme, poderá ocorrer a ruptura de vasos sanguíneos, causando sangramento. Nesse momento, o corpo libera substâncias que são capazes de gerar uma contração dos vasos sanguíneos e linfáticos, reduzindo a hemorragia. Células responsáveis pela coagulação sanguínea (plaquetas) chegam ao local, formando um coágulo. Ocorre então a migração de células de defesa, sendo essa a melhor fase para limpeza e aplicação de antimicrobianos na ferida, favorecendo a defesa do animal.
  2. Fase de reparo ou proliferativa: nesta fase, ocorre uma invasão de células chamadas de fibroblastos, elevado acúmulo de colágeno e migração e formação de novos vasos sanguíneos dentro da ferida. Também ocorre a contração da ferida, aproximando duas bordas e facilitando a reparação pelas novas células epiteliais. Os curativos utilizados nesta etapa devem manter a superfície da ferida úmida e facilitar a formação de tecido de granulação e a epitelização.
  3. Fase de maturação e remodelamento: nesta fase, ocorre o remodelamento do tecido conjuntivo depositado na ferida. Ocorre também um aumento da elasticidade da ferida, que também ganha resistência.

Este artigo é meramente informativo, no PeritoAnimal.com.br não temos capacidade para receitar tratamentos veterinários nem realizar nenhum tipo de diagnóstico. Sugerimos-lhe que leve o seu animal de estimação ao veterinário no caso de apresentar qualquer tipo de condição ou mal-estar.

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Bibliografia
  • Simas, S.M. O tratamento de feridas cutâneas em cães e gatos. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2010. Disponível em https://lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/39023/000793034.pdf. Acesso em 16/10/2023.
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