Curiosidades do mundo animal

Gato cego pode voltar a enxergar?

 
Carla Moreira
Por Carla Moreira, Médica veterinária. 15 maio 2023
Gato cego pode voltar a enxergar?
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Gatos são criaturas encantadoras, tanto no comportamento quanto na beleza, começando pela exuberância de seus olhos. A visão do gato possui peculiaridades que lhe dão vantagens como caçadores, além de possibilitar a comunicação com seus tutores, por meio da observação do tamanho da pupila, por exemplo. Segundo alguns pesquisadores, as pupilas estão diretamente associadas à situação que o gato está vivenciando e sua intensidade (tensos, relaxados, curiosos), devendo também ser considerada a luminosidade do ambiente.

No entanto, assim como os humanos, os gatos podem apresentar uma grande variedade de doenças nos olhos, como inflamações, infecções, traumas, tumores e doenças hereditárias. Muitas dessas patologias podem levar o animal à cegueira, tanto temporária quanto permanente. Nem sempre é uma tarefa fácil para o tutor identificar que seu gato está cego, pois o bichano possui uma capacidade sensacional de se adaptar aos obstáculos do ambiente, com excelente noção de espaço. Isso tudo ocorre por causa dos seus “bigodinhos”, também chamados de vibrissas, sua audição acurada e seu olfato bem desenvolvido.

Mas um gato pode ficar cego de repente? O que pode causar a perda da visão no gato? Como o tutor pode identificar que seu gato está ficando cego? Neste artigo do PeritoAnimal, falaremos sobre esse assunto, descrevendo as principais causas de cegueira nos gatos e responderemos: um gato cego pode voltar a enxergar? Boa leitura.

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Índice
  1. O que é a cegueira repentina em gatos?
  2. O que pode fazer o gato perder a visão?
  3. Como fica o olho do gato quando está ficando cego?
  4. Como reverter a cegueira do gato?

O que é a cegueira repentina em gatos?

A cegueira repentina em gatos é uma condição que pode ser causada por diversos fatores, como doenças, deficiência de aminoácidos ou até uso excessivo de medicamentos. É importante que os tutores de gatos reconheçam os sintomas da cegueira repentina para levá-los ao veterinário imediatamente para uma avaliação completa e diagnóstico preciso. Com tratamento adequado, um gato que ficou cego pode ter uma melhora significativa na sua condição visual e qualidade de vida.

Mas vale destacar que a perda da visão de um gato pode ser algo gradual ou repentino, tudo dependendo de sua causa. Nem sempre é fácil perceber que o gato está ficando cego, sendo importante o tutor observar a rotina do bichano para que alterações comportamentais sejam percebidas logo no início da doença.

O que pode fazer o gato perder a visão?

Um gato que ficou cego aparentemente do nada pode, na verdade, estar com um problema de saúde. Podemos listar os principais:

1. Glaucoma

O glaucoma é uma doença progressiva, com a morte das fibras de mielina do nervo óptico e perda gradual da visão. A doença consiste em um evento inicial ou uma série de eventos que evoluem para a obstrução do sistema de drenagem do humor aquoso. Diante disso, há um aumento na pressão intraocular, causando a morte de células da retina e degeneração do nervo óptico, e que por fim, culminam com a atrofia e a perda visual do felino.

O tratamento do glaucoma tem como principal objetivo preservar a visão. O uso de colírios proporciona alívio temporário, mas não consegue controlar a pressão intraocular por muito tempo, sendo recomendável a intervenção cirúrgica. Nestes casos, o gato que ficou parcialmente cego pode voltar a enxergar.

2. Hipertensão Arterial Sistêmica

A hipertensão arterial sistêmica (HAS) em felinos ocorre principalmente como doença secundária e sua principal consequência são lesões em órgãos importantes como rins, coração, cérebro e olhos. Um gato que fica cego de repente, ou a chamada cegueira súbita, é a principal queixa dos tutores de felinos que sofrem da doença, pois o descolamento de retina é bastante comum. O tratamento para a HAS pode fazer com que pontos da retina descolados se reimplantem ao local original, mas a recuperação da visão é rara[1], ou seja, o gato cego por este motivo dificilmente voltará a enxergar.

3. Descolamento de retina

Antes que a luz alcance os fotorreceptores (receptores de luz), ela precisa passar por todas as estruturas transparentes do globo ocular. Inicialmente, os raios luminosos passam pela primeira camada transparente do olho, a córnea, então atravessam as câmaras anterior e posterior, preenchidas pelo humor aquoso e separadas por um diafragma, a íris, então a luz atinge o cristalino e depois o humor vítreo, finalmente chegando na retina. Cada uma dessas estruturas deve estar saudável para permitir que a luz alcance a retina, onde será necessário um conjunto de reações para que a visão seja formada.

Quando o descolamento de retina é extenso ou total, o sinal clínico predominante é a perda da visão. Aumento da pressão sistólica, aumento da pressão intraocular e sinais clínicos do glaucoma, como a buftalmia (distensão do globo ocular), são alterações comumente associadas ao descolamento de retina

4. Coriorretinite

A coriorretinite é a inflamação da coroide e da retina, que pode ser causada por vírus, fungos, bactérias e protozoários. A coroide corresponde ao revestimento interno do olho, localizado na parte posterior do bulbo ocular, desde a margem dos músculos ciliares ao nervo óptico. O processo inflamatório causa a produção de líquido entre as camadas da retina, provocando perda da sua função, podendo chegar a pequenos descolamentos.

A inflamação causada por protozoários é a mais importante, tendo como principal agente o Toxoplasma gondii, que acomete principalmente os gatos. A doença é uma zoonose, podendo ser transmitida para os humanos. A coriorretinite, quando não tratada, pode resultar em perda parcial ou total da visão.

5. Uso de enrofloxacina

A enrofloxacina é um antimicrobiano do grupo das fluorquinolonas, sendo muito utilizado em cães e gatos. Em sua dose original e recomendada (2,5mg/kg, por via oral, a cada 12 horas) o medicamento é eficaz e bem tolerado em gatos. No entanto, o uso indiscriminado da droga, associado a quantidades superiores à recomendada, fez com que surgissem casos de degeneração de retina irreversível e cegueira em gatos[2].

6. Deficiência do aminoácido taurina

Os aminoácidos são unidades formadoras de proteínas, podendo ser essenciais ou não essenciais. Quando o próprio corpo consegue produzir o aminoácido, ele é chamado de não essencial, e caso não seja sintetizado pelo indivíduo, será um aminoácido essencial (deverá ser incluído na dieta).

No entanto, a taurina é um aminoácido livre (não forma proteína), encontrado somente em tecidos de origem animal, como músculos, vísceras e cérebro. A deficiência de taurina causa problemas no coração, na visão e no sistema reprodutivo. Gatos com deficiência de taurina apresentam degeneração central de retina, com perda gradual da visão, falhas reprodutivas, cardiomiopatia dilatada, perda da audição e problemas no sistema imunológico.

Como fica o olho do gato quando está ficando cego?

As características do olho do gato quando ele está ficando cego vão depender da doença causadora. Em alguns casos, o olho pode não apresentar alterações visíveis para o tutor. Assim, a perda de visão pelo gato pode ser identificada de diferentes maneiras:

  1. Pode ser percebida a deficiência visual pela alteração do comportamento do gato, como se bater em móveis, ficar mais quieto ou até mesmo tornar-se agressivo.
  2. Em casos de tumores, pode haver uma alteração na coloração do olho do gato.
  3. Também é perceptível uma falta de resposta pupilar à luz. Quem vive com um gato em casa, certamente já percebeu que sua pupila fica com o formato de fenda quando recebe muita luz e fica circular quando o gato está em algum lugar com pouca luminosidade. A falta dessa mudança de tamanho das pupilas pode ser um sinal de cegueira no gato.

Como reverter a cegueira do gato?

Como você viu, um gato cego pode voltar a enxergar em algumas situações, dependendo da causa e se o problema for identificado de maneira precoce. Mas, infelizmente, nem sempre a perda da visão no gato pode ser revertida. Por exemplo, o descolamento de retina, se não tratado precocemente, será irreversível. Por isso é tão importante perceber os sinais de que o gato não está enxergando bem e levá-lo ao médico veterinário especialista o mais breve possível.

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Referências
  1. Santos Jr., M.B. Hipertensão arterial sistêmica em felinos. Universidade Federal de Goiás, Escola de Veterinária e Zootecnia, 2013. Disponível em https://files.cercomp.ufg.br/weby/up/67/o/2013_Marcelo_Borges_seminario1corrig.pdf. Acesso em 11/05/2023.
  2. Cavalcante, L.F.H., Gouvêa, A.S., Marques, J.M.V. Degeneração retiniana em gatos associada ao uso de enrofloxacina – artigo de revisão. Acta Veterinaria Brasilica, v.3, n.2, p.62-68, 2009. Disponível em file:///C:/Users/carlamoreira/Downloads/admin,+AVB1198%20(2).pdf. Acesso em 11/05/2023.
Bibliografia
  • Scholten, A.D. Particularidades Comportamentais do Gato Doméstico. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Faculdade de Veterinária, 2017. Disponível em https://lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/170364/001050568.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em 11/05/2023.
  • Barbacovi, P.H. Eletrorretinografia na oftalmologia veterinária. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Faculdade de Veterinária, 2018. Disponível em https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/182611/001077121.pdf. Acesso em 11/05/2023.
  • Silva, T.C. Glaucoma em cães e gatos. Revisão de literatura e estudo retrospectivo. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Faculdade de Veterinária, 2017. Disponível em file:///C:/Users/carlamoreira/Downloads/001051622.pdf. Acesso em 11/05/2023.
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