Por que gatos não podem comer ração de cachorro?
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Se você convive com cães e gatos no mesmo ambiente, sabe bem como é difícil separar as rações de cada um. Os cachorros querem comer a ração dos gatos e vice-versa. Mas por que não podemos dar a mesma ração para os dois? Por que os gatos não podem comer ração de cachorro?
Se você também tem essas dúvidas, continue lendo este artigo do PeritoAnimal no qual também explicaremos a diferença da ração de gato e de cachorro e as necessidades nutricionais dos gatos. Boa leitura.
Por que gatos não podem comer ração de cachorro?
Por muito tempo, os gatos foram tratados como pequenos cães, sem considerarem as peculiaridades da espécie. Ao longo da evolução, o gato se manteve estritamente carnívoro, enquanto os cães tornaram-se onívoros, com necessidades nutricionais distintas, além da diferença anatômica e fisiológica. Vamos entender melhor algumas diferenças entre essas espécies, para depois compreendermos a importância de cada um comer a sua dieta específica.
Diferenças entre os sistemas digestórios dos cães e dos gatos
Em relação ao sistema digestório, temos algumas diferenças importantes entre essas duas espécies. Os gatos possuem 30 dentes, desenhados para rasgar e cortar o alimento, enquanto os cães possuem 42 dentes. O estômago do gato é proporcionalmente menor que o do cão, praticamente a metade do tamanho, explicando porque os felinos se alimentam várias vezes ao dia, em pequenas quantidades, enquanto os cães conseguem comer poucas vezes e em uma quantidade bem maior.
A mucosa gástrica nos gatos é mais uniforme do que nos cães, e é dividida em duas áreas: uma chamada de glandular (mais proximal e com maior número de glândulas) e outra região aglandular (possui uma quantidade menor de glândulas). O intestino dos gatos é proporcionalmente menor e a microflora intestinal também é menos numerosa quando comparada à dos cachorros. O ceco (parte do intestino grosso) nos cães possui um tamanho moderado, tendo uma forma parecida com um espiral, enquanto nos gatos, é uma estrutura extremamente pequena, aparentando um formato de vírgula.
Necessidades nutricionais dos gatos
Gatos são criaturas estritamente carnívoras, ou seja, possuem uma alta demanda proteica (de carne). As proteínas são formadas por unidades menores, os aminoácidos, que são produzidos pelo próprio corpo ou precisam estar presentes na dieta.
Para os gatos, existe um aminoácido considerado essencial, que é produzido em pequena quantidade por essa espécie, chamado de taurina. Os cães produzem a sua própria taurina, enquanto os gatos precisam ingerir esse aminoácido para um adequado funcionamento do coração, do sistema reprodutivo, do sistema neurológico e da retina. Esse nutriente está presente somente em tecidos animais, como carnes, aves e peixes; os mariscos constituem uma fonte extremamente rica de taurina. Ao contrário do gato, o cão não necessita de taurina dietética, portanto, os gatos não devem ser alimentados com rações destinadas para cães, correndo o risco de ficarem deficientes nesse aminoácido.
Quanto às necessidades nutricionais, em relação às proteínas, os gatos possuem maior necessidade desse nutriente, devido a sua grande demanda por nitrogênio ou proteína total. Isso ocorre devido ao metabolismo específico destes animais, que têm necessidades nutricionais diferentes dos cães, com maior exigência do aminoácido arginina, da vitamina B6 e da niacina (respectivamente, cerca de duas, três e quatro vezes maiores em relação aos cães); ingestão de vitamina A pré-formada na dieta e dificuldade em digerir carboidratos.
Em relação à síntese dos ácidos graxos (resultantes da quebra das gorduras), os gatos têm sua capacidade limitada para a conversão em ácido linoleico e aracdônico. Os cães possuem duas enzimas que, a partir do ácido linoleico, sintetizam o ácido araquidônico e o gama-linolênico; e nos gatos, essas enzimas possuem pouca atividade, sendo necessário o fornecimento de apenas ácido linoleico para cães, e quanto aos gatos, é necessária a adição de ácido linoleico e aracdônico. A deficiência desses ácidos resulta em lesões de pele, queda e opacidade de pelos e prurido, predispondo o animal a infecções secundárias.
Resumindo, os gatos não podem comer ração de cachorro porque ela não contempla as necessidades de nutrientes dos felinos.
Qual a diferença entre ração de gato e de cachorro?
Até o início do século XX, a alimentação dos animais de estimação se restringia aos restos da comida de seu tutor. Com o início da produção de rações comerciais, as opções nos mercados foram se ampliando, e hoje, a grande maioria dos tutores de cães e gatos só alimentam seus animais com rações comerciais, com pouco uso de dietas caseiras.
As rações comerciais são divididas por fases da vida do bichano: gatos em crescimento, gatos adultos e gatos idosos.
Dieta para gatos em crescimento
Para que o gatinho tenha um crescimento normal, é necessário garantir uma dieta bem equilibrada. Gatos em crescimento necessitam mais de alimentos ricos em proteína do que os gatos adultos. Isso ocorre devido à formação dos novos tecidos nessa fase de crescimento. A proteína do alimento deve ser de alta qualidade e de fácil digestão, para garantir a liberação de todos os aminoácidos essenciais para o crescimento e desenvolvimento.
Os gatos apresentam um comportamento alimentar diferente dos cães principalmente na fase de crescimento. A sua alimentação consiste no consumo de pequenas quantidades de alimento ao longo do dia. Sendo assim, quanto mais ativo for o gatinho, mais frequente será sua alimentação, podendo ser fornecida como dieta livre.
Dieta para gatos adultos
Diferente dos cães, os gatos não são animais vorazes, pois alimentam-se de forma mais regular, várias vezes ao dia e em pequenas porções, mantendo um peso ideal. Podem ser considerados adultos aos 10 ou 12 meses de idade, estabilizando seu peso por volta dos 18 meses. A fase adulta vai dos 12 meses aos 8 anos, sendo necessária uma dieta suficientemente rica em nutrientes para permitir que o animal supra as suas exigências nutricionais ao se alimentar. As exigências nutricionais diárias de gatos castrados são reduzidas em 24 a 33% quando comparada as de gatos inteiros. Essas reduções nutricionais se dão pela diminuição da taxa metabólica, pois os gatos castrados não diminuem as suas atividades.
Dieta para gatos idosos
Os animais idosos necessitam dos mesmos nutrientes que necessitavam nas outras fases, porém, em proporção e quantidades diferentes, alguns mais e outros menos, como a energia metabolizável (em menor quantidade). A proteína também deve ser fornecida em menor quantidade e deve ser de qualidade elevada, para garantir melhor digestibilidade. A recomendação aos tutores é que continuem fornecendo a mesma quantidade de ração aos gatos quando atingirem o terço final da vida, porém esses alimentos devem ser de alta digestibilidade, principalmente as proteínas e os lipídios.
Não perca este outro artigo em que apresentamos um guia completo sobre a alimentação dos gatos.
Faz mal gato comer a ração de cachorro?
Gatos que comem somente ração de cachorro poderão desenvolver deficiências nutricionais sérias, como a falta de proteína e outros nutrientes. Além disso, a deficiência de aminoácidos essenciais, como a taurina, pode resultar em problemas cardíacos, como a miocardiopatia dilatada, problemas reprodutivos, neurológicos e cegueira (degeneração de retina).
A falta de ácido linoleico e aracdônico resultarão em problemas de pele nos gatos adultos. Em filhotes, ocorrem problemas de crescimento, degeneração gordurosa do fígado e deposição de gordura nos rins. Por isso, podemos afirmar que sim, faz mal gato comer ração de cachorro.
Meu gato comeu ração de cachorro, o que fazer?
Dar uma beliscadinha na ração do cachorro não causará problemas ao bichano, mas isso não pode virar um hábito. Uma boa solução é tentar separar os comedouros e impedir o acesso do gato ao pratinho do cachorro, garantindo saúde e bem-estar a todos os bichinhos da casa.
Agora que você já sabe por que os gatos não podem comer ração de cachorro, não perca o vídeo abaixo no qual reforçamos este tema:
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- Fernandes, R.A. Diferenças nutricionais entre cães e gatos adultos. Centro Universitário FMU, 2009. Disponível em https://arquivo.fmu.br/prodisc/medvet/raf.pdf. Acesso em 28/07/2022.
- Neto, R.F. et al. Nutrição de cães e gatos em suas diferentes fases de vida. Colliquium Agrarae, v.13, 2017. Disponível em http://journal.unoeste.br/suplementos/agrariae/vol13nr2/NUTRI%C3%87%C3%83O%20DE%20C%C3%83ES%20E%20GATOS%20EM%20SUAS%20DIFERENTES%20FASES%20DE%20VIDA.pdf. Acesso em 28/07/2022.