Por que a girafa tem um pescoço tão comprido?

Quando vemos uma girafa com um pescoço que pode medir até 2 metros, podemos pensar que sua anatomia interna é totalmente diferente da de outros artiodáctilos ou ungulados, ordem a que pertencem esses animais. No entanto, estudos ^[1] mostraram que as girafas, assim como outros mamíferos (com exceção de três gêneros), têm sete vértebras cervicais. Portanto, seu pescoço comprido não afetou, pelo menos estruturalmente, sua coluna.

As principais diferenças que a girafa tem em suas vértebras têm a ver com certos orifícios transversais e alongamento significativo dos centros vertebrais, o que finalmente explica por que esses animais têm um pescoço tão comprido. Nesse sentido, e apesar de opiniões divergentes, as girafas possuem uma espinha dorsal com o mesmo número de unidades estruturais, mas claramente mais alongada.

Isso quer dizer que mais da metade da coluna vertebral da girafa está composta por vértebras cervicais alongadas. Enquanto as outras vértebras da coluna têm comprimento semelhante ao de outros animais ungulados.

Neste sentido, o pescoço da girafa é um aspecto adaptativo deste animal que o torna único e apesar das várias teorias explicando este resultado evolutivo, estima-se que as limitações ambientais devam ter desempenhado um papel importante na configuração desta estrutura peculiar.

Talvez você possa se interessar por este outro artigo em que explicamos como as girafas dormem.

O debate sobre o por quê de as girafas terem pescoços tão compridos não é nada recente. Pelo contrário, séculos se passaram desde que começou. Um dos primeiros a postular ideias sobre esse fato foi o francês Jean-Baptiste de Lamarck (1744-1829), que dizia que esses animais antes tinham o pescoço curto, mas que o esticavam constantemente para tentar se alimentar das folhas mais altas árvores. Assim, desenvolveram esse novo fenótipo, que era uma característica adquirida promovida pelo meio ambiente e também hereditária. No entanto, as ideias de Lamark foram descartadas pela comunidade científica da época.

Posteriormente, Charles Darwin (1809-1882), retomou as ideias evolutivas de Lamark e estabeleceu que foi por meio de um processo conhecido como seleção natural que esse fato ocorreu. Darwin explicou que girafas com pescoços mais longos sobressaíram àquelas com pescoço mais curto, podendo continuar se alimentando quando as folhas mais baixas das árvores se exaurissem e herdassem essa característica de seus descendentes. Isso então explica o favorecimento do traço pescoço longo como um evento de seleção natural, ligado à competição por comida.

Embora as ideias de Darwin, juntamente com o avanço científico atual, não tenham sido completamente descartadas quanto ao fato do pescoço longo das girafas, outras hipóteses mais recentes também surgiram. Uma está ligada de forma semelhante à seleção natural, mas, neste caso, relacionada ao aspecto sexual. De acordo com isso, os machos desse grupo desenvolvem um duelo conhecido como necking, que consiste em se confrontar usando o pescoço como arma, para que se empurrem com força, apoiando um pescoço contra o outro. O macho que vence esse confronto obtém sucesso reprodutivo com a fêmea, o que poderia explicar o favorecimento do desenvolvimento, permanência e herança do traço pescoço longo no grupo. Ou seja, as fêmeas escolheriam não só a girafa macho com o maior pescoço, mas também o mais forte.

Diante das questões levantadas, há posições que expressam a não exclusão de ambos os mecanismos acima mencionados. Em outras palavras, a seleção para a competição por comida e aspecto sexual pode ter originado e favorecido conjuntamente o desenvolvimento dos longos pescoços da girafa.

Embora ainda faltem estudos que comprovem a relação evolutiva, pesquisas recentes ^[2] codificaram a sequência genética de girafas e encontraram a presença de genes que têm impacto no desenvolvimento esquelético e cardiovascular desses animais. Portanto, se eles sofreram algumas pequenas mudanças, pode ser a explicação de por que esses mamíferos se tornaram os mais altos do mundo terrestre.

Outra ideia proposta é que as girafas que habitam as quentes savanas africanas não são melhores reguladoras do calor corporal do que outros animais desse habitat. Portanto, o pescoço pode ter evoluído para favorecer esse aspecto, pois ao direcioná-lo para o sol, consegue gerar uma sombra sobre o próprio corpo, o que permite diminuir a incidência solar sobre ele, regulando assim a temperatura de sua estrutura física. Nesse sentido, essa hipótese estaria ligada a um aspecto evolutivo relacionado à termorregulação do animal.

Sem dúvida, uma das maiores vantagens do pescoço comprido das girafas é poder se alimentar das folhas que ficam nas partes mais altas das árvores, de forma que esse alimento seja de alguma forma exclusivo desses animais. Outro aspecto que favorece esses animais é que, por serem tão altos, podem detectar com mais facilidade a presença de predadores na área e se preparar para se proteger. Por exemplo, na presença de leões que são um dos seus principais predadores quando adultos.

Em relação às desvantagens, podemos citar que justamente sua característica peculiar de altura os torna um animal facilmente identificável a certa distância, de modo que seus predadores não requerem muito esforço para encontrá-los. Nesse sentido, seu tamanho dificulta sua ocultação. Além disso, as girafas requerem um sistema anatômico e fisiológico altamente eficiente para se manterem adequadamente, o que implica na necessidade de uma grande quantidade de alimentação diária e um grande esforço do corpo, principalmente nas condições ambientais em que vivem.

Agora que você já sabe as possíveis razões que explicam por que a girafa tem um pescoço tão comprido, não perca o vídeo a seguir sobre alguns dos animais da África:

Se deseja ler mais artigos parecidos a Por que a girafa tem um pescoço tão comprido?, recomendamos-lhe que entre na nossa seção de Curiosidades do mundo animal.