Gravidez psicológica em cadelas - Causas e o que fazer
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A pseudogestão, gravidez psicológica ou lactação nervosa pode ser definida como um grupo de sintomas observado em cadelas não gestantes, que acontece de seis a quatorze semanas após o estro (cio).
A cadela mimetiza comportamentos pré, peri e pós-parto. Alguns estudiosos no assunto afirmam que a pseudogestação é uma condição fisiológica apresentada pela cachorrinha que não foi castrada, sendo denominada, neste caso, de pseudogestação fisiológica. Não apresenta predisposição entre faixas etárias, raças e porte físico, não importando também se a fêmea já deu cria ou não. Mas o que fazer se a cachorrinha apresentar esses sintomas? Existe tratamento? Continue lendo esse artigo do PeritoAnimal para saber mais sobre a gravidez psicológica em cadelas.
Quais fatores podem influenciar o aparecimento da gravidez psicológica?
Acredita-se que todas as cadelas desenvolvam pseudogestação, sendo um fenômeno fisiológico normal da espécie, porém, algumas fêmeas apresentam sintomas perceptíveis pelos tutores. Ainda não há conclusão se fatores relacionados ao ambiente ou à nutrição influenciam no aparecimento da síndrome.
Alguns estudos apontam que esse conjunto de alterações comportamentais e fisiológicas seja uma característica evolutiva herdada pelo cão doméstico, que, quando em matilhas, permitia que a fêmea dominante pudesse caçar enquanto seus filhotes eram amamentados por outras fêmeas.
Saiba mais sobre a origem do cachorro neste outro artigo.
Como acontece o cio da cadela? E quando pode ocorrer a pseudogestação?
O ciclo estral (chamado de ciclo menstrual nos primatas) da cadela, conhecido popularmente como “cio”, possui diversas fases, que apresentam mudanças gradativas no comportamento e na fisiologia do animal. A duração de cada fase pode variar de acordo com a raça e com o indivíduo, o que dificulta a identificação do momento ideal para a reprodução. Vamos ver cada fase separadamente:
1. Proestro
O proestro é a primeira fase do ciclo, durando, em média, 9 dias. Nesse momento, o macho apresenta interesse pela fêmea, no entanto, ela não aceita a monta. A fêmea rejeita qualquer investida realizada pelo macho, podendo se tornar agressiva com rosnados e até desferir ataques.
O hormônio estrogênio predomina nessa fase, sendo responsável pelas mudanças físicas e comportamentais, que irão preparar a fêmea para a cópula. A vulva começa a aumentar de tamanho, fica edemaciada e ocorre sangramento serossanguinolento (aparência de “sangue aguado”). Em fêmeas de raças pequenas, esse sangramento pode passar despercebido, sem que o tutor repare qualquer anormalidade na sua cachorrinha.
Geralmente, o tutor que não quer que a cadela reproduza fica preocupado com essa fase, mas será na próxima que a fêmea aceitará a monta do macho. Um erro muito comum é prender a cachorrinha enquanto está sangrando e liberá-la quando o sangramento acaba, deixando-a perto do macho justamente na fase em que o acasalamento será possível.
2. Estro
É a segunda fase, durando cerca de 9 dias, podendo variar para mais ou para menos. O comportamento da fêmea é caracterizado pela aceitação da monta pelo macho. A ovulação ocorre nesse momento, não necessitando de estímulo físico para que haja a liberação dos óvulos.
Em algumas cadelas, ainda pode haver sangramento vaginal. A fêmea libera vários óvulos e, caso copule com mais de um macho, poderão nascer filhotes de pais diferentes.
3. Diestro
Essa fase dura cerca de 56 a 58 dias em cadelas gestantes e 60 a 75 dias em não-gestantes. O início é caracterizado pela recusa do macho por parte da fêmea. Existe uma predominância do hormônio chamado progesterona e o corrimento vaginal pode ter aparência mucoide ou mucopurulenta. O perfil hormonal de cadelas prenhas e não prenhas será semelhante, sendo considerada pseudogestante até que haja confirmação ou negação da condição gestacional.
Nesse momento, podem aparecer os sintomas da gravidez psicológica nas cadelas, devido à variação na quantidade de progesterona (alta no início do diestro, com diminuição gradativa) e aumento da prolactina, levando ao crescimento das glândulas mamárias.
A prolactina também influencia o comportamento materno, sendo típico o ato de lamber os restos de produtos do parto, aquecer os filhotes com a aproximação do corpo para manter a temperatura adequada, estimular a primeira mamada e ficar agressiva com a aproximação de estranhos (defende os filhotes).
4. Anestro
Pode ser definido como um momento de pausa reprodutiva. É uma fase mais longa, durando cerca de 150 dias (5 meses), sendo o período entre um “cio” e outro. A duração pode ser influenciada pela idade, raça, estado de saúde do animal, estação do ano, dentre outros fatores. Apesar da baixa quantidade de progesterona produzida nesse momento, o útero continua ativo.
Quais os sintomas da gravidez psicológica em cadelas?
Os principais sintomas da pseudogestação em cadelas são comportamentais, como “arrumação do ninho”, adoção de objetos (bonecos e bichos de pelúcia) ou de filhotes de outras fêmeas, com excessivo carinho, proteção e defesa, além do aumento da agressividade. Ocorre ainda lambedura constante da região mamária (o que estimula uma maior produção de leite), aumento das mamas, produção e secreção de leite, ganho de peso e, em alguns caso, anorexia.
Como tratar a gravidez psicológica em cadelas?
Deve-se ter em mente que a gravidez psicológica é uma condição fisiológica das cadelas, pois todas passam por essa fase do ciclo reprodutivo. No entanto, algumas fêmeas apresentam maior produção ou sensibilidade à prolactina, mostrando os sintomas de forma mais severa.
Na maioria dos casos, a sintomatologia desaparece sozinha, sem necessidade de tratamento. Nos casos mais acentuados, o tutor pode utilizar um colar elizabetano para evitar que o animal fique lambendo as mamas e estimulando a produção de leite. Pode ser usado, ainda, um creme com arnica em sua composição, para que a cachorrinha se sinta desconfortável com o cheiro e pare de lamber as mamas.
Caso ocorram comportamentos maternos exacerbados, o animal deve ser estimulado a fazer exercícios físicos, para desviar a atenção dos objetos adotados. Em casos mais graves, pode ser usado um tranquilizante, prescrito pelo veterinário.
O tratamento medicamentoso inclui fármacos como a metergolina (Contralac), que atua inibindo a secreção de prolactina, interrompendo a produção de leite pelas glândulas mamárias. Lembrando que a medicação pode causar vômitos, diarreia e agitação, sendo necessário ajustar a dose ou interromper o tratamento. O veterinário saberá dizer qual o melhor tratamento para cada animal.
Devo castrar minha cadela?
Se não for a sua intenção utilizar a cadela para reprodução, o indicado é que seja feita a esterilização. Esse é o único tratamento definitivo para a gravidez psicológica. Além disso, a castração evitará as complicações dessa síndrome, que incluem: distensão mamária, retenção de leite (empedramento), dermatites na região das mamas, mastite (inflamação da glândula mamária) e tumor de mama.
A castração deve ser vista como um ato de amor, pois controla o crescimento populacional de cães e evita o desenvolvimento de várias doenças, como infecção no útero e neoplasias, além de prolongar a vida do seu amigo.
Neste outro artigo falamos mais sobre os benefícios da castração em canina.
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- Martins, L. R., Lopes, M. D. Pseudociese canina. Rev. Bras. Reprod. Anim., v. 29, n. 3/4, p. 137-141, 2005. Disponível em: <http://www.cbra.org.br/pages/publicacoes/rbra/download/pag%20137%20v29n3-4.pdf>. Acesso em 11/07/2022.
- Silva, L. D. M., Lima, D. B. C. Aspectos da fisiologia reprodutiva da cadela. Anais do IX Congresso Norte e Nordeste de Reprodução Animal, 2018. Disponível em: <http://www.cbra.org.br/portal/downloads/publicacoes/rbra/v42/n3-4/p135-140%20(RB750).pdf>. Acesso em: 11/07/2022.
- Guido, F.C.L. Avaliação de parâmetros fisiológicos em cadelas (Canis familiares – Linnaeus, 1758) submetidas à ovariosalpingohisterectomia eletiva nas diferentes fases do ciclo estral, nos períodos pré e trans-operatórios. Dissertação de mestrado, Universidade Federal Rural de Pernambuco, 2006. Disponível em: <http://www.tede2.ufrpe.br:8080/tede2/bitstream/tede2/5617/2/Fabiani%20Coutinho%20Lordao%20Rodrigues.pdf>. Acesso em: 11/07/2022.