Caudectomia em cães: o que é e por que é proibida no Brasil



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Ao contrário do que algumas pessoas ainda acreditam, a cauda é um órgão extremamente importante para o cachorro. Estamos tão acostumados com a falta de cauda nos cães de algumas raças que até achamos estranho quando encontramos um exemplar com o rabinho balançando. Raças como poodle, rottweiler e doberman já foram consagrados como cães sem caudas, sendo esta característica considerada como um padrão da raça.
No entanto, a retirada da cauda do cachorro, ou a caudectomia, tem um custo alto para o animal, que terá seu equilíbrio e comunicação prejudicados, além de poder desenvolver sequelas que o farão sentir dor para o resto de sua vida. Atualmente, a caudectomia em cães é proibida no Brasil pelo Conselho Federal de Medicina Veterinária, sendo considerada uma prática ilegal e uma mutilação em animais saudáveis.
Mas como essa prática era realizada? Quais os prejuízos para os cães? Por que foi proibida no Brasil? Essas e outras dúvidas dos tutores de cães são comuns, pois nem sempre eles têm conhecimento sobre o procedimento e das consequências que ele pode gerar. Neste artigo, o PeritoAnimal explicará como a caudectomia é feita, qual a sua função e por que foi proibida no Brasil. Fique atualizado!
O que é caudectomia?
A caudectomia é o procedimento cirúrgico no qual as vértebras caudais do cão são retiradas, sendo permitida atualmente somente por questões de saúde. O procedimento deve ser realizado exclusivamente pelo médico veterinário e com o uso de anestesia, e somente ocorrerá caso o profissional julgue ser de extrema importância para a saúde e bem-estar do animal.
Em termos anatômicos, a cauda dos cães é uma estrutura complexa, composta por vértebras caudais, músculos, nervos, vasos sanguíneos e tecido conjuntivo. As vértebras caudais são uma continuação da coluna vertebral, variando em número de acordo com a raça e o indivíduo, podendo chegar a mais de 20 vértebras, e sua amputação para fins estéticos é proibida em nosso país.
Os músculos da cauda são responsáveis pelos movimentos e pela manutenção da postura e são inervados pelos nervos caudais, que emergem do segmento sacral da medula espinhal. A vascularização da cauda é fornecida pelas artérias caudais, que se originam da artéria sacral mediana, e pelas veias caudais, que drenam para a veia cava caudal.
O suprimento sanguíneo é essencial para a nutrição e oxigenação dos tecidos da cauda. E a pele da cauda é revestida por pelos e contém glândulas sebáceas e sudoríparas. A derme e a hipoderme contêm tecido conjuntivo, incluindo fibras colágenas e elásticas, que fornecem suporte e flexibilidade à estrutura.

Faz mal cortar a cauda do cachorro?
A caudectomia não é recomendada e pode afetar a vida do seu cachorro em diferentes aspectos. Ao cortar a cauda do cão, ocorre uma limitação de sua capacidade de comunicação, tanto com pessoas como com outros animais. A movimentação da cauda é um instrumento de linguagem corporal e pode indicar felicidade, nervosismo, agressividade ou medo, o que pode ser visualmente identificado pelo tutor, evitando mal-entendidos.
Além disso, a cauda auxilia no equilíbrio durante a corrida, funcionando como um contrapeso, principalmente nas curvas rápidas e terrenos irregulares. A ausência da cauda pode levar o cachorro a desequilíbrios e quedas durante a prática de exercícios.
O corte da cauda possui uma história. Antigamente, acreditava-se que a caudectomia fosse realizada por razões funcionais e de saúde, sendo a estética secundária. Uma das razões mais plausíveis era a prevenção de lesões nos cães de trabalho, em especial aqueles usados para caça, pastoreio e como cães de guerra. O corte da cauda evitava ferimentos durante suas atividades. No entanto, o tempo foi passando e o corte de cauda passou a ser uma questão estética, para que o animal ficasse em harmonia com o padrão de raças específicas.
Considerando que a cauda dos cães é uma extensão de sua coluna vertebral, atuando muito além de uma simples parte de seu corpo sem função importante, ela é de grande utilidade para que o animal expresse suas emoções e comportamento, além de desempenhar um papel essencial no equilíbrio e mobilidade.

Por que a caudectomia é proibida no Brasil?
A crescente conscientização sobre as necessidades e direitos dos animais tem levado a uma análise crítica sobre o costume de cortar a cauda dos cães de certas raças. Indo nessa direção, o Conselho Federal de Medicina Veterinária elaborou a Resolução CFMV 877, de 15 de fevereiro de 2008, proibindo a realização de procedimentos cirúrgicos estéticos em animais, incluindo a caudectomia, a cordectomia (retirada das cordas vocais), a conchectomia (corte das orelhas) e a onicectomia (retirada das garras em felinos), quando realizados com finalidade exclusivamente estética. Esses procedimentos só podem ser realizados se forem por motivos de saúde do animal, devendo existir a indicação do médico veterinário.
Essa legislação objetiva proteger os animais, evitando que sintam dor e sofram desnecessariamente, apenas para fins estéticos. Poucas pessoas sabem, mas o corte de cauda nos cachorros pode trazer danos psicológicos e físicos no animal, prejudicando sua qualidade de vida. Uma caudectomia pode apresentar como complicação uma cicatrização inadequada, formação de tecido cicatricial excessivo, abertura dos pontos, tornando-se um foco de infecção para o resto do corpo. Além disso, alguns animais podem ficar com dor crônica ou perda da sensibilidade no local da cirurgia. Alguns cães desenvolvem neuroma de amputação, uma condição dolorosa causada pela proliferação de tecido nervoso no local da amputação, também conhecida como dor no membro fantasma.
E se o leitor observar bem, algumas raças como o poodle e o rottweiler, ficam muito mais bonitos e elegantes com suas caudas, além de mais comunicativos e ágeis. Desse modo, podemos ver que a caudectomia vai muito além da parte estética, colocando o cachorro em risco de complicações e sofrimento.
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- Mothé, G.B. et al. Perspectiva anatômica e ética da caudectomia em cães. Research, Society and Development, v.13, n.6, 2024. Disponível em file:///C:/Users/carlamoreira/Downloads/46023-Article-477486-1-10-20240603.pdf. Acesso em 07/02/2024.
- Resolução 877, de 15 de fevereiro de 2008. Conselho Federal de Medicina Veterinária. Disponível em http://ts.cfmv.gov.br/manual/arquivos/resolucao/877.pdf. Acesso em 07/02/2025.