Vaca doente - sinais de dor em bovinos

Vaca doente - sinais de dor em bovinos

Os animais comunicam de várias maneiras e muitas vezes estão tentando dizer algo que não sabemos reconhecer.

A dor é uma forma de comunicação e um mecanismo de proteção do organismo animal que devemos tentar entender. Com a crescente preocupação pelo bem-estar animal, a medicina veterinária de bovinos desenvolveu novas formas de identificar e atenuar a dor destes animais de grande porte.

Neste artigo do PeritoAnimal, vamos explicar-lhe os principais sinais de dor em bovinos para que possa reconhecer e atuar o mais rápido possível quando desconfiar que tem uma vaca doente.

Fisiopatologia da dor em bovinos

A dor é definida como uma experiência sensorial e emocional desagradável que está associada a lesões reais ou potenciais, sendo encarada como uma forma de doença incapacitante[1] e um grave problema de bem-estar.

Ela serve como um mecanismo de proteção do corpo e a identificação da sua causa pode minimizar as consequências e garantir o bem-estar nos animais de produção.

Os grandes animais como touros, bois e vacas possuem um limiar da dor mais alto que os cachorros e os gatos [2,3] e, por isso, pode ser mais demorado e difícil identificar a dor nestes animais.

Conforme a fisiologia da dor, ela pode ser classificada de acordo com:

  • Duração: aguda (momentânea ou súbita) ou crônica (persistente após uma lesão ou algo fisiológico)
  • Localização: localizada ou generalizada
  • Profundidade: superficial (por exemplo na pele) ou profunda (músculos, osso, articulações)
  • Origem: origem somática ou visceral (proveniente das vísceras ou órgãos), neuropática (do sistema nervoso) e psicogênica (de origem mental)

Como reconhecer quando um animal está com dor?

As respostas de um organismo à dor envolvem estados:

  • Hormonais: aumento do cortisol, adrenalina, noradrenalina, hormonas associados ao estresse e que podem ser medidas através de sangue, saliva e urina.
  • Metabólicos: aumento da frequência cardíaca e/ou respiratória (se visualiza o animal arfando), febre e olhos muito abertos e com pupila dilatada (midríase).
  • Comportamentais: em ruminantes, uma das formas de mensurar a resposta à dor é através da avaliação de comportamentos. Este fator é uma avaliação observável que pode ser medida e que vai depender de vários fatores, a linhagem genética, sexo, peso, saúde geral e meio ambiente[4].

As dores agudas normalmente podem ser mais fáceis de identificar, pois os sintomas são mais evidentes, como é o caso de:

  • expressões faciais alteradas
  • vocalizações
  • inquietação
  • tremores
  • rigidez nos membros
  • maqueira (claudicação)
  • lambedura compulsiva de uma região do corpo
  • dificuldade em engolir (disfagia)
  • dificuldade em urinar (disúria)
  • comportamentos anormais como abanar cabeça, escoicear o abdômen ou morder estruturas, fuga ou agressividade para com seres humanos e outros bovinos

Estes sintomas variam conforme a localização e intensidade da dor.

Já as dores crônicas de uma vaca doente, moderadas e persistentes podem ser mais difíceis de visualizar e identificar, pois o animal pode apresentar:

  • Febre
  • Ranger dentes (bruxismo)
  • Alterações do ciclo de sono
  • Alteração da postura (curvatura da coluna), da posição das orelhas e da cabeça
  • Diminuição ou aumento da ingestão de alimentos e água (que se traduz em perda ou aumento de peso)

Estes fatores são mais complicados de avaliar pois os bovinos, sendo animais de produção, são encarados e tratados como um rebanho, o que torna muito difícil acompanhar as rotinas de um só animal e descobrir se ele está dormindo ou comendo bem. Nesse caso, é necessário estar atento aos sinais que são mais visíveis, e caso, suspeite de que uma vaca está doente, você deve isolar o animal e observá-lo nos parâmetros acima descritos e, se se confirmarem as suspeitas, deve chamar o seu médico veterinário.

Especificamente sobre as vacas leiteiras, podemos enumerar sintomas de doenças em bovinos como:

  • Febre
  • Depressão
  • Redução da atividade e da interação com ambiente e outros animais
  • Diminuição da ingestão de alimentos, água e perda de peso
  • Sensibilidade ao toque
  • Diminuição produção de leite
  • Claudicações
  • Alteração da postura (curvatura da coluna, agachar ou posição da cabeça)
  • Aumento da frequência cardíaca (FC) e respiratória (FR)

Como vimos, os ruminantes perante um estado de dor podem alterar a sua postura, hábitos e rotinas, podendo mesmo se tornar agressivos devido à dor, todavia, é importante referir que a ausência destes e outros sinais óbvios não indica que animal não está a sentir dor.

Atualmente existe um sistema de avaliação de dor que se baseia na observação de comportamentos anormais e na pontuação total atribuída a esses comportamentos. Ou seja, quantos mais comportamentos anormais mais pontuação o bovino vai ter e maior é o seu nível de dor. Este sistema, ainda em desenvolvimento, é uma tentativa de tornar universal a avaliação da dor em ruminantes.

Leia o nosso artigo com as doenças mais comuns em bovinos.

Tratamento

Um pré-requisito para poder aliviar a dor é saber reconhecê-la, mas, como vimos, isso é uma tarefa difícil. No entanto, com dedicação e persistência e vários estudos, cada vez é mais fácil identificar as causas de dor em gado bovino.

Existem muitos fármacos para tratar a dor e aliviar o desconforto dos animais: os anti-inflamatórios não esteroides (AINES) e os opioides são dos grupos de fármacos mais utilizados, sendo que estes últimos ainda são muito discutidos devido aos efeitos secundários graves que originam.

Com a sua ajuda, através da descrição pormenorizada dos sintomas do animal, e com o exame e avaliação do médico veterinário de ruminantes, será possível aliviar a dor e desconforto dos animais, garantindo o seu bem-estar.

Este artigo é meramente informativo, no PeritoAnimal.com.br não temos capacidade para receitar tratamentos veterinários nem realizar nenhum tipo de diagnóstico. Sugerimos-lhe que leve o seu animal de estimação ao veterinário no caso de apresentar qualquer tipo de condição ou mal-estar.

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Referências
  1. Luna, S. P. L. (2008) Dor, Senciência e Bem-Estar em Animais. Ciênc. Vet. Tróp., Recife, v.11, p. 17-21
  2. Kolb, E. (1984) Fisiologia Veterinária. 4.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan
  3. Kamerling, S. G. (2006) O Sistema Sensorial Somático. Em: REECE, W. O. Dukes, Fisiologias dos Animais Domésticos. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, p. 769-781
  4. Almeida T. P., et al. (2006) Classificação dos Processos Dolorosos em Medicina Veterinária. Veterinária em Foco, v.3, n.2, p. 107-118.
Bibliografia
  • Almeida T. P., et al. (2006) Classificação dos Processos Dolorosos em Medicina Veterinária. Veterinária em Foco, v.3, n.2, p. 107-118.
  • Gleerup, K. B; Andersen, P.H.; Munksgaard, L.; Forkman, B. (2015) Pain evaluation in dairy cattle, Applied Animal Behaviour Science, Volume 171, P. 25-32
  • Stiwell. (2006) Mecanismos da Dor. Em: G. Stiwell (Ed.), Manual da Dor em Bovinos (pp. 9-19). Porto Salvo: Pfizer.