Testes em animais - O que são, tipos e alternativas

Testes em animais - O que são, tipos e alternativas

Os testes em animais são um assunto bastante debatido e, se nos aprofundarmos um pouco na história recente, veremos que isso não é algo novo. Está muito presente no âmbito científico, político e social.

Desde a segunda metade do século XX, se debate sobre o bem-estar animal, não só de animais de laboratório, mas também de animais domésticos ou da indústria pecuária.

Neste artigo do PeritoAnimal, faremos uma pequena revisão da história sobre os testes em animais começando com sua definição, os tipos de experimentos com animais existentes e as possíveis alternativas.

O que são testes em animais

Os testes em animais são experimentos realizados a partir da criação e utilização de modelos animais para fins científicos, cujo objetivo geralmente é estender e melhorar a vida humana e de outros animais, como animais de estimação ou gado.

A pesquisa com animais é obrigatória no desenvolvimento de novos fármacos ou terapias que serão usados ​​em humanos, de acordo com o Código de Nuremberg, depois das barbáries que foram cometidas com humanos na Segunda Guerra Mundial. De acordo com a Declaração de Helsinque, a pesquisa biomédica em humanos "deve ser baseada em testes de laboratório devidamente conduzidos e em experimentação em animais".

Tipos de experimentos com animais

Existem muitos tipos de experimentos com animais, que variam de acordo com o campo de pesquisa:

  • Pesquisa agroalimentar: estudo de genes com interesse agronômico e desenvolvimento de plantas ou animais transgênicos.
  • Medicina e veterinária: diagnóstico de doenças, criação de vacinas, tratamento e cura de doenças, etc.
  • Biotecnologia: produção de proteínas, biossegurança, etc.
  • Meio ambiente: análise e detecção de contaminantes, biossegurança, genética populacional, estudos de comportamentos migratórios, estudos de comportamentos reprodutivos, etc.
  • Genômica: análise das estruturas e funções dos genes, criação de bancos genômicos, criação de modelos animais de doenças humanas, etc.
  • Farmácia: engenharia biomédica para diagnóstico, xenotransplante (criação de órgãos em porcos e primatas para transplante em humanos), criação de novos medicamentos, toxicologia, etc.
  • Oncologia: estudos de progressão tumoral, criação de novos marcadores tumorais, metástases, predição de tumores, etc.
  • Doenças infecciosas: estudo de doenças bacterianas, resistência a antibióticos, estudos de doenças virais (hepatite, mixomatose, HIV...), parasitárias (Leishmania, malária, filariose...).
  • Neurociência: estudo de doenças neurodegenerativas (Alzheimer), estudo do tecido nervoso, mecanismos de dor, criação de novas terapias, etc.
  • Doenças cardiovasculares: cardiopatias, hipertensão, etc.

História dos testes em animais

O uso de animais em experimentos não é um fato atual, essas técnicas são realizadas desde muito antes da Grécia Clássica, especificamente, desde a Pré-história, e prova disso são os desenhos do interior dos animais que podem ser observados nas cavernas, feitos pelos antigos Homo sapiens.

Início dos testes em animais

O primeiro pesquisador a trabalhar com experimentos em animais que se tem registro foi Alcmeão de Crotona, que em 450 a.C. cortou um nervo óptico, provocando cegueira em um animal. Outros exemplos de experimentadores antigos são Alexandria Herophilus (330-250 a.C.) que mostrou a diferença funcional entre nervos e tendões usando animais, ou Galeno (130-210 d.C.) que praticava técnicas de dissecção, mostrando não só a anatomia de certos órgãos, mas também também suas funções.

A Idade Média

A Idade Média representa um atraso para a ciência devido a três causas principais, de acordo com os historiadores:

  1. A queda do Império Romano Ocidental e o desaparecimento do conhecimento contribuído pelos gregos.
  2. A invasão de bárbaros procedentes de tribos asiáticas muito menos desenvolvidas.
  3. A expansão do cristianismo, que não acreditava em princípios corporais, e sim espirituais.

A chegada do Islã à Europa não serviu para aumentar os conhecimentos médicos, já que eram contrários à realização de autópsias e necropsias, mas graças a eles foram recuperadas todas as informações perdidas dos gregos.

No século IV, houve uma heresia dentro do Cristianismo em Bizâncio que causou a expulsão de parte da população. Essas pessoas se estabeleceram na Pérsia e criaram a primeira escola de medicina. No século VIII, a Pérsia foi conquistada pelos árabes e eles se apropriaram de todo o conhecimento, espalhando-o pelos territórios que conquistaram.

Também na Pérsia, no século X, nasceu o médico e pesquisador Ibn Sina, conhecido no Ocidente como Avicena. Antes dos 20 anos de idade, ele publicou mais de 20 volumes sobre todas as ciências conhecidas, nos quais aparece, por exemplo, um sobre como fazer uma traqueostomia.

Transição para a Idade Moderna

Mais tarde na história, durante o Renascimento, a realização de autópsias deu um impulso ao conhecimento da anatomia humana. Na Inglaterra, Francis Bacon (1561-1626) em seus escritos sobre experimentação afirmou a necessidade do uso de animais para o avanço da ciência. Na mesma época, muitos outros pesquisadores pareceram apoiar a ideia de Bacon.

Por outro lado, Carlo Ruini (1530 – 1598) veterinário, jurista e arquiteto, retratou toda a anatomia e esqueleto do cavalo, bem como a forma de curar algumas doenças desses animais.

Em 1665, Richard Lower (1631-1691) realizou a primeira transfusão de sangue entre cachorros. Depois, ele tentou fazer uma transfusão de sangue de cachorro para um ser humano, mas as consequências foram fatais.

Robert Boyle (1627-1691) demonstrou, por meio do uso de animais, que o ar é essencial para a vida.

No século XVIII, os testes com animais aumentaram consideravelmente e começaram a aparecer os primeiros pensamentos contrários e a consciência sobre a dor e o sofrimento dos animais. Henri Duhamel Dumenceau (1700-1782) escreveu um ensaio sobre a experimentação animal de um ponto de vista ético, no qual ele disse: “a cada dia morrem mais animais para saciar o nosso apetite do que são abatidos pelo bisturi dos anatômicos, que os que fazem com a finalidade útil de resultar na preservação da saúde e na cura de doenças”. Por outro lado, em 1760, James Ferguson, criou a primeira Técnica Alternativa ao uso de animais em experimentos.

A Idade Contemporânea

No século XIX, surgiram os maiores descobrimentos da medicina moderna por meio de testes em animais:

  • Louis Pasteur (1822 - 1895) criou vacinas do antraz em ovelhas, cólera em galinhas e raiva em cachorros.
  • Robert koch (1842 – 1919) descobriu a bactéria causadora da tuberculose.
  • Paul Erlich (1854 – 1919) estudou a meningite e a sífilis, sendo o promotor do estudo da imunologia.

A partir do século XX, com o surgimento da anestesia, houve um grande avanço da medicina com menos sofrimento para os animais. Ainda neste século, surgiram as primeiras leis de proteção aos animais de estimação, pecuária e experimentação:

  • 1966. Animal Welfare Act, nos Estados Unidos da América.
  • 1976. Cruelty to Animals Act, na Inglaterra.
  • 1978. Good laboratory Practice (emitido pela “Food and Drug Administration” FDA), nos Estados Unidos da América.
  • 1978. Ethical Principes and Guidelines for Scientific Experiments on Animals, na Suíça.

Devido ao crescente mal-estar geral da população que passou a se opor cada vez mais ao uso de animais em qualquer área, foi necessário criar leis a favor da proteção dos animais, para qualquer que seja seu uso. Na Europa, as seguintes leis, decretos e convenções foram promulgados:

  • Convênio Europeu sobre proteção dos animais vertebrados utilizados com fins experimentais e outros fins científicos (Estrasburgo, 18 de Março de 1986).
  • 24 de novembro de 1986, o Conselho da Europa publicou uma Diretiva relativa à aproximação das disposições legais, regulamentárias e administrativas dos Estados Membros a respeito da proteção dos animais utilizados para experimentação e outros fins científicos.
  • DIRETIVA 2010/63/UE DO PARLAMENTO EUROPEU E DO CONSELHO de 22 de setembro del 2010, relativa à proteção dos animais utilizados para fins científicos.

No Brasil, a principal lei que trata sobre o uso científico de animais é a Lei nº 11.794, de 8 de outubro de 2008, que revogou a Lei nº 6.638, de 8 de maio de 1979.[1]

Alternativas para os testes em animais

O uso de técnicas alternativas aos experimentos com animais não significa, em primeiro lugar, eliminar essas técnicas. Alternativas aos testes em animais surgiram em 1959, quando Russel e Burch propuseram os 3 Rs: substituição, redução e refinamento.

As alternativas de substituição ao teste em animais são aquelas técnicas que substituem o uso de animais vivos. Russel e Burch diferenciaram entre substituição relativa, na qual o animal vertebrado é sacrificado para que se possa trabalhar com suas células, órgãos ou tecidos, e a substituição absoluta, onde vertebrados são substituídos por culturas de células humanas, de invertebrados e outros tecidos.

Em relação à redução, há evidências de que um mau desenho experimental e uma análise estatística errônea levam ao uso indevido de animais, com suas vidas sendo desperdiçadas sem qualquer utilidade. Deve-se usar o menor número possível de animais, portanto um comitê de ética deve avaliar se o projeto do experimento e as estatísticas de animais a serem usados estão corretos. Além disso, determinar se animais ou embriões filogeneticamente inferiores podem ser usados.

O refinamento das técnicas torna mínima ou inexistente a dor potencial que um animal pode sofrer. O bem-estar animal deve ser mantido acima de tudo. Não deve haver estresse fisiológico, psicológico ou ambiental. Para isso, anestésicos e tranquilizantes devem ser usados ​​durante possíveis intervenções, e deve haver enriquecimento ambiental no alojamento do animal, para que este possa ter sua etologia natural.

Entenda melhor o que é o enriquecimento ambiental no artigo que fizemos sobre enriquecimento ambiental para gatos. No vídeo abaixo, você confere dicas sobre como cuidar de um hamster, que infezlimente é um dos animais mais utilizados para testes de laboratório em todo o mundo. Muita gente adota o bicho como animal de estimação:

Prós e contras dos testes com animais

A principal desvantagem do uso de animais em experimentos é o uso em si dos animais, o dano potencial infligido a eles e a dor física e psíquica que podem sofrer. O descarte do uso total de animais experimentais não é possível atualmente, portanto, os avanços deve ser direcionados a reduzir seu uso e combiná-lo com técnicas alternativas, como programas de computador e o uso de tecidos, bem como cobrar que os políticos endureçam a legislação que regulamenta o uso desses animais, além de continuar criando comitês para garantir o manejo adequado desses animais e proibir técnicas dolorosas ou a repetição de experimentos já realizados.

Os animais usados ​​na experimentação são usados ​​por sua semelhança com os humanos. As doenças que sofremos são muito semelhantes às deles, por isso, tudo o que foi estudado para nós foi aplicado também à medicina veterinária. Todos os avanços médicos e veterinários não teriam sido possíveis (infelizmente) sem esses animais. Por isso, é preciso continuar investindo naqueles grupos científicos que defendem o fim, no futuro, dos testes em animais e, enquanto isso, continuar lutando para que os animais de laboratório não sofram nada.

Se deseja ler mais artigos parecidos a Testes em animais - O que são, tipos e alternativas, recomendamos-lhe que entre na nossa seção de Curiosidades do mundo animal.

Referências
  1. BRASIL. LEI Nº 11.794, DE 8 DE OUTUBRO DE 2008. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11794.htm>. Acesso em 7 de outubro de 2020.
Bibliografia
  • Brey, L. C., & Rodríguez, K. S. (2007). Aspectos éticos de la experimentación con animales. Bioética, 27, 1-3.
  • Dávila, A. G. (2008). Breve historia de la experimentación animal. Lecturas Singulares, (6).
  • Mainetti, J.A. (1989), Ética médica, Quirón, La Plata, Argentina.
  • Mrad de Osorio, A. (2006). Ética en la investigación con modelos animales experimentales. Alternativas y las 3 RS de Russel. Una responsabilidad y un compromiso ético que nos compete a todos. Revista Colombiana de Bioética, 1(1).
  • Mundial, A. M. (2008). Declaración de Helsinki de la Asociación Médica Mundial. Principios éticos para las investigaciones médicas en seres humanos. In Anales del Sistema Sanitario de Navarra (Vol. 24, No. 2, pp. 209-212).
  • Pelaez, J. H. (1988). Ética y experimentación médica. Acta Médica Colombiana, 13(6), 485-492.
  • Sánchez Álvarez, A. K. (2017). Redacción de una Normativa de Ética y Bienestar en Investigación con animales (Bachelor's thesis).