Quanto tempo o cachorro lembra da mãe?

A ainda jovem ciência que estuda a inteligência e o comportamento canino nos oferece fortes indícios de que os cães lembram de sua mãe, mas essa capacidade tem um componente temporal. Isso acontece porque o vínculo que une os filhotes à mãe – e vice-versa – vai mudando e, de certa forma, perde intensidade à medida que os filhotes se tornam independentes.

Como é o vínculo nas primeiras semanas?

O laço estabelecido é muito mais forte quando os filhotes são recém-nascidos e dependem da mãe para praticamente todas as suas necessidades fisiológicas e funções vitais, como:

• Alimentar-se;
• Limpar-se;
• Evacuar;
• Orientar-se no espaço-tempo.

Nas primeiras semanas de vida, os filhotes e sua mãe são um só ser ou um único organismo, e nem faz sentido pensar na existência dos filhotes separada da de sua progenitora.

O que acontece quando os filhotes crescem?

Essa situação muda à medida que os filhotes ganham mobilidade, força e habilidade graças ao desenvolvimento de seus sentidos, corpo e mente. Pouco a pouco, os cães dependem menos da mãe até que possam se virar sozinhos.

Dado importante: a ruptura progressiva do vínculo entre a cadela e seus filhotes faz parte do ciclo natural e necessário para a sobrevivência da espécie. Além disso, é fundamental que os filhotes permaneçam com a mãe pelo menos até completarem a idade do desmame, pois é com ela que aprenderão:

• Códigos básicos da comunicação canina;
• Limites durante as brincadeiras;
• Comportamentos sociais que evitarão distúrbios de conduta na vida adulta.

Se você precisa de conselhos sobre como realizar essa separação, confira: "Com que idade se pode separar os cachorros da mãe?".

A mãe e seus filhotes se reconhecem depois de um tempo?

Uma vez que a cadela e seus filhotes são considerados seres independentes, começa a fazer sentido nos perguntarmos se os cães reconhecem sua mãe e podem se lembrar dela. Como adiantamos, a resposta é sim: os cães lembram de sua mãe, e a mãe lembra de seus filhotes, mesmo que tenham se passado vários meses ou anos desde a separação.

Hoje, sabe-se que o olfato desempenha um papel crucial nessa memória afetiva dos cães, pois, durante a primeira etapa de convivência com a mãe, a geração de um odor comum é essencial para fortalecer esse vínculo materno, além de transmitir calma e segurança aos filhotes recém-nascidos. Graças ao seu olfato apurado, os cães conseguem reconhecer esse cheiro que os liga à progenitora e aos irmãos.

Mas, como veremos a seguir, o tempo também é um fator-chave nessa mediação olfativa da memória afetiva dos cães. Para explicar de forma breve: quanto mais presente esse odor comum estiver para o cão, mais facilmente ele se lembrará de sua mãe. Porém, uma vez separado dela, a tendência é que esse cheiro se torne cada vez menos presente, o que acaba diluindo a lembrança da mãe na mente do cão.

Falando sobre tempo, há alguns anos tínhamos quase nenhuma possibilidade de estimar quanto tempo os cães levam para esquecer sua mãe. Mas, graças a um estudo extremamente interessante liderado por Peter Hepper¹, hoje sabemos que:

• As cadelas são capazes de reconhecer o cheiro de seus filhotes, e vice-versa, até dois anos após o parto;
• O vínculo emocional com a mãe é muito mais duradouro do que o que têm com seus irmãos. Consequentemente, os cães demoram muito mais para esquecer sua mãe do que seus irmãos.

Como um cachorro reage ao cheirar sua mãe?

Outra pesquisa, desta vez conduzida por Carisa Gillis², se propôs a observar o comportamento dos cães ao serem expostos a esse cheiro comum que ativa sua memória afetiva do vínculo materno. Para isso, os cães foram divididos em dois grupos, de acordo com sua idade e o tempo que estavam separados de suas progenitoras, e lhes foi apresentado o cheiro de suas mães caninas e o de seus tutores humanos.

Grupo 1 – Cheiro da mãe:

• Os cães expostos ao cheiro de suas progenitoras eram jovens e estavam separados de suas mães há entre 7 e 68 meses;
• A esses indivíduos foram apresentadas várias toalhas, mas apenas uma delas continha o cheiro de sua mãe, enquanto as outras tinham o cheiro de outras cadelas.

Grupo 2 – Cheiro do tutor humano:

• Os cães que perceberam o cheiro de seus cuidadores estavam separados de suas progenitoras há 11 a 39 meses;
• De forma similar ao outro grupo, esses cães cheiraram várias toalhas, mas apenas uma continha o cheiro de seu "humano favorito", enquanto as outras toalhas carregavam o cheiro de outras pessoas ou de outros cães do mesmo sexo que seu tutor.

Os testes mostraram que todos os cães, independentemente de sua idade ou do tempo que estavam longe de suas mães, dedicavam mais tempo e demonstravam maior entusiasmo ao perceber o cheiro de suas progenitoras e tutores. Esses resultados parecem reforçar a hipótese de que os cães reconhecem suas mães por meio da percepção de um cheiro familiar, cuja lembrança pode durar ainda mais do que a previsão do estudo anterior (2 anos). Isso sabemos porque cães que estavam separados de suas mães há mais de 60 meses (5 anos) demonstraram o mesmo padrão de comportamento ao sentir seu cheiro que aqueles que haviam se separado há poucos meses de suas progenitoras.

E o que acontece com seus vínculos com os humanos?

Ainda tem mais! Essa pesquisa também parece indicar que o olfato é um mediador chave na capacidade dos cães de criar laços emocionais duradouros com as pessoas, o que poderia explicar, por exemplo, porque os cães conseguem reconhecer seus tutores após anos sem os ver ou por que passam por um processo de luto quando seus cuidadores falecem. Veja, por exemplo, "O que um cachorro sente quando o deixamos em uma hospedagem?".

E quanto tempo um cachorro leva para esquecer sua mãe?

Não podemos saber ao certo. A ciência determina que, após cerca de 2 anos, um cão deveria ter esquecido sua mãe, mas a mesma ciência também observou que isso nem sempre acontece. Os cães têm uma memória olfativa incrível, então não é estranho pensar que podem reconhecer sua mãe muitos anos depois.

Agora, se você está se perguntando quanto tempo um cão leva para esquecer sua mãe porque adotou um filhote e teme que ele esteja sofrendo, a situação muda completamente. Se a separação foi feita corretamente, o filhote não esquecerá sua mãe no sentido estrito da palavra, mas também não sentirá falta dela. Ele se adaptará ao novo lar e família e viverá feliz se receber os cuidados adequados.

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