O que são animais silvestres

O que são animais silvestres

O tráfico de animais silvestres continua sendo uma das maiores ameaças à sobrevivência de várias espécies e o equilíbrio dos ecossistemas nos quais se inserem. Atualmente, esta prática é considerada a terceira maior atividade ilícita no mundo inteiro (ficando atrás apenas do tráfico de armas e de drogas), movendo mais de 1 bilhão de dólares a cada ano.

No Brasil, apesar de estar proibida desde a década de 60 pela Lei 5197 de Proteção à Fauna, a caça de animais silvestres ainda é responsável por retirar anualmente mais de 38 milhões de espécies nativas dos seus habitats naturais. E o pior é que, de cada 10 animais silvestres brasileiros capturados para serem oferecidos vivos no mercado ilegal, apenas 1 consegue sobreviver em cativeiro.

Este novo artigo do PeritoAnimal pretende contribuir para a conscientização sobre os terríveis impactos desta atividade ilícita no Brasil e no mundo. E para começar, nada melhor que entender o que são os animais silvestres e por que resultam tão importantes para o equilíbrio dos ecossistemas. Continue lendo para saber mais!

Animais silvestres: definição, exemplos e importância na natureza

O conceito de animal silvestre engloba todas as espécies do Reino Animal que nascem e desenvolvem seu ciclo de vida em ecossistemas naturais, como as selvas ou os oceanos, por exemplo. Estes animais compõem a fauna autóctone de um país ou região, cumprindo determinadas funções dentro da cadeia alimentar e do seu ecossistema para garantir o equilíbrio entre as espécies de todos os Reinos que nele habitam, prevenindo a aparição de pragas, superpopulações e outros desequilíbrios ambientais.

Os animais silvestres podem ser classificados como nativos ou exóticos, sempre tomando como referência a fauna autóctone de certo país ou região. Quando um animal faz parte da fauna autóctone de um lugar, considera-se nativo. Porém, quando seu hábitat natural não se encontra dentro dos ecossistemas nativos desse mesmo lugar, a espécie é chamada de exótica. Se analisarmos a fauna brasileira, o lobo-guará e a onça pintada seriam alguns exemplos de animais silvestres nativos do Brasil, enquanto um leão ou um urso pardo poderiam ser mencionados como animais silvestres exóticos, já que seu habitat natural não se encontra em nenhum dos ecossistemas brasileiros.

Diferenças entre animais silvestres e domésticos

Ao contrário dos silvestres, os animais domésticos são aqueles que estão acostumados a conviver com os seres humanos e cujo ciclo de vida se desenvolve corretamente fora dos ecossistemas naturais, em lugares que foram modificados pela intervenção humana. Além disso, essas espécies desenvolveram uma relação de dependência e contribuição mútua com os seres humanos. Ao mesmo tempo que dependem do homem para obter certas necessidades básicas (como comida, calor e abrigo), sua criação também oferece benefícios aos seres humanos (companhia, alimentos, transporte, etc.).

Porém, nem todas as espécies que vivem em cativeiro ou se acostumam a estar perto das pessoas podem ser consideradas animais domésticos. Só para mencionar um exemplo: pensemos nos animais silvestres que são resgatados de cativeiros ilegais e, por algum motivo, já não estão em condições de retornar à natureza. Isso não significa que esta espécie deixou de ser silvestre e se tornou doméstica, mas sim que alguns indivíduos foram impedidos de viver no seu hábitat natural e deverão permanecer em ambientes controlados para poder sobreviver.

Nesse sentido, é fundamental entender que o processo de domesticação vai além de uma mudança ocasional ou proposital no hábitat de um animal. Os animais que, hoje em dia, são domésticos passaram por uma longa e complexa transformação, a qual inclui não apenas o ambiente ao seu redor, mas também seus hábitos, seu comportamento e até a estrutura genética e a morfologia que caracterizam a sua espécie.

Essas transformações, em parte, acontecem naturalmente pela necessidade de se adaptar a um novo ambiente e estilo de vida, mas também costumam ser impulsionadas ou até mesmo induzidas pelos próprios seres humanos, na intenção de obter benefícios derivados das características físicas, sensoriais e cognitivas de diferentes animais.

Se pensamos nos cachorros, por exemplo, não é difícil perceber que as diferenças em relação aos lobos ou aos cães selvagens (como o dingo, pro exemplo), vão além do hábitat no qual cada espécie desenvolve seu ciclo de vida. Embora estas espécies estejam aparentadas geneticamente, notamos claras diferenças na aparência, na conduta e também no funcionamento do organismo de cada uma delas. Também percebemos que o homem realizou uma série de intervenções no desenvolvimento e na reprodução dos cachorros para ressaltar determinadas características desejáveis, como o instinto de caça e de proteção, dando origem a diferentes raças caninas com traços estéticos e comportamentais particulares.

Algo similar ocorreu com outros animais domésticos, como os cavalos, as vacas e os bois, os porcos, os gatos, etc. E vale lembrar que nem todo animal doméstico é necessariamente um pet, ou seja, nem sempre é criado com o objetivo de fazer companhia e proteger os seres humanos. Há muitos anos, a indústria alimentícia, a moda, a agricultura, a pecuária e muitas outras atividades econômicas dependem direta e indiretamente da criação de animais domésticos. Sem mencionar os esportes e eventos de entretenimento que utilizam animais, como o hipismo ou as competições estéticas de cães, por exemplo.

Exemplos de animais silvestres

Seria impossível proporcionar uma lista de animais silvestres completa em apenas um artigo, até porque ainda devem existir muitas espécies desconhecidas, cuja existência não foi registrada oficialmente pela ciência. Por outro lado, encontramos também vários animais silvestres em extinção, cuja existência já não pode ser observada no seu hábitat natural.

Só para você ter uma ideia, a fauna brasileira compreende aproximadamente 10 a 15% da biodiversidade existente no mundo inteiro. No imenso território brasileiro, estima-se que vivem mais de 11 mil espécies de mamíferos, aves, repteis e peixes, e aproximadamente 30 milhões de espécies de insetos. Imagine, então, quantos animais silvestres habitam no mundo inteiro, em diferentes ecossistemas e climas...

A seguir, apresentamos algumas espécies de animais silvestres em maior perigo de extinção, que podem literalmente desaparecer nos próximos anos:

  • Rinoceronte branco do Norte
  • Leopardo de Amur
  • Rinoceronte de Java
  • Tigre do Sul da China
  • Vaquita
  • Gorila do Rio Cross
  • Kouprey (boi selvagem da Indochina)
  • Saola
  • Baleia franca do Atlântico Norte
  • Rinoceronte de Sumatra

Exemplos de animais silvestres brasileiros que correm risco de extinção

  1. Arara azul
  2. Ariranha
  3. Boto-cor-de-rosa
  4. Jacutinga
  5. Lobo-guará
  6. Mico-leão-dourado
  7. Morceguinho-do-cerrado
  8. Muriqui-do-Norte
  9. Onça pintada
  10. Pica-pau-amarelo
  11. Tartaruga-de-couro
  12. Tatu-bola

Tráfico de animais silvestres: definição e impacto na fauna do Brasil

O termo “tráfico” é utilizado para denominar atividades de comércio ilegais. No caso do tráfico de animais silvestres, falamos da compra e venda ilícitas de diversas espécies que são cruelmente caçadas e retiradas do seu hábitat natural para serem oferecidas vivas como pets exóticos ou sacrificadas para a produção de artigos colecionáveis e produtos com alto valor comercial (roupas, calçados, tapetes, adornos, objetos, etc.).

O tráfico de animais silvestres vem devastando a fauna autóctone não apenas do Brasil, mas também de todo o mundo. De acordo com o Relatório “Planeta Vivo” 2016 (The Living Planet Report 2016), que é organizado a cada dois anos pela Zoological Society of London (ZSL) em parceria com a organização WWF (Fundo Mundial para a Natureza), a biodiversidade em nosso planeta diminui quase 58% desde os anos 70.

Infelizmente, o tráfico de animais silvestres no Brasil é um dos casos mais alarmantes, pois se calcula que aproximadamente 70% das espécies traficadas internacionalmente provêem dos ecossistemas brasileiros, principalmente das regiões Norte, Nordeste e Centro Oeste. Atualmente, mais de 38 milhões de animais silvestres brasileiros são caçados de forma ilegal a cada ano. Por isso, considera-se que o tráfico e a perda de hábitat são, hoje em dia, as principais ameaças à sobrevivência da fauna brasileira.

Na “outra cara dessa moeda”, encontramos os países que são importadores de espécies silvestres, ou seja, aqueles que compram os animais ou os produtos deles derivados, os quais são oferecidos de forma ilegal pelo tráfico. De acordo com o Relatório Nacional sobre o Tráfico de Fauna Silvestres, realizado pela Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres (RENCTAS), alguns dos países que mais “consomem” esta atividade ilícita são: Estados Unidos, Alemanha, Holanda, Bélgica, França, Inglaterra, Suíça, entre outros.

Antes de prosseguir, precisamos fazer uma breve observação: nem todas as espécies exóticas que são criadas em cativeiro participam do mercado ilegal. Em vários países, a criação de alguns animais silvestres em cativeiro para comercialização está permitida e regulada por lei. Porém, os estabelecimentos dedicados a esta atividade devem estar registrados e habilitados para funcionamento, além de cumprir uma série de requisitos legais e normas de higiene e segurança.

Nesses casos, a operação comercial deve ser realizada de forma totalmente transparente e o comprador recebe uma nota fiscal com todos os dados do estabelecimento e do animal adquirido para certificar sua procedência legal. Além disso, esses animais devem ser entregues ao novo proprietário com uma identificação definitiva, que geralmente consiste em um microchip implantado debaixo da pele.

A importância de combater o tráfico de animais

Com tudo o que vimos até aqui, provavelmente, você já compreendeu que os animais silvestres cumprem funções específicas no seu hábitat natural, permitindo que os diferentes ecossistemas do nosso planeta permaneçam em equilíbrio. Quando a população de um animal se extingue ou diminui radicalmente, se produz um desequilíbrio ambiental que prejudica a todos as outras espécies e os recursos naturais desse ambiente, afetando também os seres humanos (direta ou indiretamente).

Além dos impactos gerados pelos desequilíbrios ambientais, a caça de animais silvestres também pode impactar negativamente nas atividades produtivas e na saúde humana. A erradicação de determinados animais (ou sua diminuição radical) costuma favorecer a proliferação de outras espécies, que podem acabar se transformando em pragas que prejudicam a atividade pecuária e/ou transmitem doenças aos seres humanos e a outros animais.

Esta é uma questão lógica fácil de entender: quando eliminamos o depredador, permitimos que várias presas se multipliquem descontroladamente, gerando uma superpopulação. Quando eliminamos aves e anfíbios, por exemplo, abrimos as portas para que os milhares de espécies de insetos se reproduzam livremente, sem o controle natural de um depredador. Rapidamente, esses insetos migrarão aos campos produtivos e às cidades em busca de alimentos, podendo prejudicar a colheita e atuar como vetores de inúmeras doenças, como a dengue por exemplo.

Por outro lado, a introdução de espécies exóticas no território de um país também pode ameaçar o equilíbrio da fauna autóctone, principalmente quando o animal “escapa” de um cativeiro controlado e consegue se reproduzir nos ecossistemas nativos, competindo com as espécies autóctones por território e comida. Além disso, esses animais podem ser portadores de zoonoses (patologias que podem ser transmitidas entre os seres humanos e outras espécies), transformando-se em um problema de saúde pública e ambiental.

Por tudo isso, é fundamental não apenas que existam leis que proíbam a caça ilegal e o tráfico de animais silvestres, mas também que se impulsionem políticas públicas de conscientização sobre os perigos dessa atividade ilícita e campanhas de incentivo às denuncias do tráfico. Essas iniciativas devem estar combinadas com estratégias de fiscalização mais eficazes para certificar que a lei se cumpra e penas mais rígidas para aqueles que cometam esse delito e coloquem em risco o meio ambiente e o bem-estar de inúmeras espécies, inclusive a humana.

Além disso, cada um de nós pode colaborar para a erradicação do tráfico de animais silvestres. Como? Em primeiro lugar, não ignorando sua existência e denunciando às autoridades competentes. Em segundo lugar, jamais adquirindo pets exóticos na Internet, com vendedores particulares ou em estabelecimentos que não possuem uma licença válida para funcionamento. E, por último, tendo a consciência de que existem muitos animais esperando pela oportunidade de ter uma família e um lar repleto de amor. Por isso, ao invés de gastar demais e acabar correndo o risco de financiar atividades ilícitas, anime-se a buscar um refúgio de animais e adotar um melhor amigo!

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Bibliografia
  • LEI N° 5.197, DE 3 DE JANEIRO DE 1967, sobre a Proteção da Fauna no Brasil. Disponível em:
  • http://www.renctas.org.br/trafico-de-animais/
  • WWF Living Planet Report 2016. Disponível em: http://awsassets.panda.org/downloads/lpr_living_planet_report_2016.pdf
  • Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. Listas das Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas de Extinção. Disponível em: <http://www.icmbio.gov.br/portal/faunabrasileira/lista-de-especies?start=400>. Acesso em: 04 Oct. 2019.
  • Ministério do Meio Ambiente do Brasil. Catálogo Taxonómico de la Fauna de Brasil. Disponível em: <http://fauna.jbrj.gov.br/fauna/listaBrasil/ConsultaPublicaUC/ConsultaPublicaUC.do>. Acesso em 04 Oct. 2019.