Doenças neurológicas

Alzheimer em cachorros - Sintomas e tratamento

 
Cristina Pascual
Por Cristina Pascual, Veterinária. Atualizado: 6 junho 2023
Alzheimer em cachorros - Sintomas e tratamento
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Com o passar dos anos, muitos tutores observam como seus cães vão apresentando mudanças em seu comportamento, muitas vezes considerados "senil" para aqueles que não existe um motivo aparente. Este conjunto de alterações de condutas recebe o nome de Síndrome de disfunção cognitiva ou Alzheimer canino. Ainda que não conte com um tratamento curativo, seu diagnóstico precoce e a instauração de um protocolo terapêutico adequado pode melhorar a qualidade de vida desses animais.

Se deseja conhecer mais sobre o Alzheimer em cachorros ou disfunção cognitiva, seu tratamento e sintomas, nos acompanhe nesse artigo do PeritoAnimal em que também falaremos de quais são as causas.

Índice

  1. O que é o Alzheimer em cachorros
  2. Causas do Alzheimer em cachorros
  3. Sintomas de Alzheimer em cachorros
  4. Diagnóstico de Alzheimer canino
  5. Tratamento para Alzheimer em cachorros
  6. Prognóstico de Alzheimer em cães
  7. Como prevenir o Alzheimer em cães

O que é o Alzheimer em cachorros

A Síndrome de disfunção cognitiva, comumente conhecida como demência ou Alzheimer canino, consiste em um conjunto de mudanças de comportamento e cognitivas que ocorrem em alguns cães durante o envelhecimento.

É uma doença degenerativa que aparece com frequência nos cães idosos. As estatísticas revelam uma prevalência que varia de 14% a 35% nos cães senis, embora que seja uma patologia subdiagnosticada. Chama a atenção que nas raças pequenas, apesar de viverem mais que as raças grandes, não aparentam ter maior predisposição para esta síndrome.

Causas do Alzheimer em cachorros

Em um cachorro com Alzheimer se produz um depósito de uma proteína chamada beta-amilóide que formam umas placas no parênquima cerebral.

Embora não se saiba exatamente como a formação dessas placas influenciam o cérebro, se sabe que esta proteína tem um efeito neurotóxico, produzindo:

  • Alteração da função neuronal.
  • Degeneração das sinapses.
  • Depleção de neurotransmissores.
  • Morte neural.

Ainda, também se conhece que a extensão e a localização dos depósitos de beta-amilóide estão relacionadas com o grau de gravidade da disfunção cognitiva dos pacientes com Alzheimer canino. Como curiosidade, cabe mencionar que estes depósitos de beta-amilóide também ocorrem em pacientes humanos com Alzheimer.

Alzheimer em cachorros - Sintomas e tratamento - Causas do Alzheimer em cachorros

Sintomas de Alzheimer em cachorros

Um cachorro com Alzheimer ou a chamada síndrome de disfunção cognitiva pode apresentar uma ampla variedade de alterações de comportamento. Dessas alterações podem se englobar nas seguintes categorias:

  • Perda de memória e atraso na aprendizagem: é frequente que esqueçam assuntos ou ordens que já conheciam, o que sejam incapazes de aprender novas. Alguns animais apresentam problemas nas eliminações (se urinam ou defecam em casa). Em casos avançados, também é possível que deixem de reconhecer seus cuidadores ou pessoas de seu entorno.
  • Alteração do comportamento social: alguns cães se mostram mais ariscos (perdem o interesse ou recusam diretamente as carícias), cumprimentam com menos ênfase seus tutores, tem dificuldade em se relacionar com outros cachorros, são mais agressivos, etc.
  • Alteração do ciclo sono/vigília: é frequente que mudem as horas de sono, de forma que dormem durante o dia e fiquem acordados durante a noite.
  • Diminuição da atividade física e da conduta exploratória: passam a maior parte do tempo descansando ou dormindo, diminuem sua interação com outros membros da família e perde o interesse pelo entorno.
  • Ansiedade ou irritabilidade: em alguns casos, os pacientes mostram maior inquietude, de maneira que descansam menos, mostram sinais de ansiedade quando ficam sozinhos, aumentam as vocalizações e aparecem estereótipos ou condutas destrutivas. Te indicamos este outro post sobre a Ansiedade em cães: sintomas e soluções para que possa ter mais informações sobre o tema.
  • Desorientação: se perdem em lugares que antes eram conhecidos e são incapazes de desviar de alguns obstáculos (como escadas, portas, etc).
Alzheimer em cachorros - Sintomas e tratamento - Sintomas de Alzheimer em cachorros

Diagnóstico de Alzheimer canino

O diagnóstico do Alzheimer em cachorro se realiza por exclusão, ou seja, descartando qualquer outro processo que possa ser responsável por estes sinais clínicos. Por isso, neste caso é especialmente importante realizar uma boa lista de diagnósticos diferenciais, dos quais deverão ser descartados um a um para poder chegar no diagnóstico de disfunção cognitiva ou Alzheimer.

Na lista de diagnósticos diferenciais se devem incluir todas aquelas patologias que potencialmente podem produzir mudanças no comportamento dos cachorros. Algumas das mais importantes são:

  • Doenças endócrinas: como o hipotireoidismo, o diabetes e a Síndrome de Cushing.
  • Problemas musculoesqueléticos: como a artrose, a artrite, as hérnias de disco, etc.
  • Doenças cardiovasculares: como a insuficiência cardíaca, hipo ou hipertensão, etc.
  • Doenças neurológicas: como os tumores, a encefalite, etc.
  • Problemas de comportamento primários: é importante diferenciar as alterações de comportamento primárias das associadas ao Alzheimer canino. Para isso, é necessário conhecer se o problema de comportamento já existia quando o animal era jovem e se já produziu alguma mudança que possa ter desencadeado esse problema.

Para descartar todos esses diagnósticas diferenciais, pode ser preciso realizar uma ou várias desses seguintes testes:

  • Anamnese e investigação clínica: prestando especial atenção na investigação neurológica.
  • Exames laboratoriais: análises de sangue, perfil hormonal, análise de urina, etc.
  • Exames de imagem: radiografia, ecografia, TC ou ressonância magnética.

Somente se poderá chegar ao diagnóstico de disfunção cognitiva quando forem descartados todos os possíveis diagnósticos diferenciais.

Alzheimer em cachorros - Sintomas e tratamento - Diagnóstico de Alzheimer canino

Tratamento para Alzheimer em cachorros

Atualmente, o manejo terapêutico do Alzheimer em cães se baseia na combinação de:

  • Padrões de comportamento.
  • Terapia farmacológica.
  • Manejo dietético e nutracêuticos.

No entanto, devemos esclarecer que não existe tratamento curativo nem definitivo para esta síndrome, mas que a terapia ajuda unicamente a minimizar os sinais clínicos e a diminuir a progressão da perda cognitiva.

Padrões de comportamento

A fim de manter as funções cognitivas do animal e diminuir a progressão da doença, se deve:

  • Manter uma rotina em todas as atividades que envolvem o animal: fazendo assim que o ambiente seja mais previsível e menos estressante.
  • Proporcionar um bom enriquecimento ambiental: com jogos que estimulem as vias auditivas, tátil, oral e olfatória, assim como passeios curtos e reforço positivo de novas ordens simples.
  • Facilitar a orientação: para os cachorros com Alzheimer e problemas de orientação pode ser de grande ajuda colocar velas aromáticas como odores distintos em cada habitação, pois será mais fácil para eles recordar de cada local.
  • Não castigar ou punir o animais por condutas inadequadas: por exemplo, por se urinar em casa ou não dormir a noite, já que somente contribuirá para aumentar seu nível de ansiedade. Nestes casos é especialmente importante realizar um adestramento com reforço positivo, premiando os comportamentos positivos para reforça-los.
  • Reduzir a ansiedade ou irritabilidade: o uso de colares ou difusores de feromônios pode ser de grande ajuda. Nos cães com alterações do ciclo vigília/sono é recomendável colocar esses difusores em sua zona de descanso.
  • Tratar-lhes com paciência e compreensão: como não poderia ser de outra maneira, devemos cuidar dos nossos cachorros com base nessas premissas durante toda sua vida, mas será especialmente importante fazer isso quando comecem a apresentar essas mudanças senis. As alterações observadas no comportamento do animal podem trazer frustação aos cuidadores, mas nesses casos é importante racionalizar o problema e entender que não se trata de mudanças voluntárias do animal, mas de um processo degenerativo do seu sistema nervoso. Por isso, durante esta etapa da sua vida, é especialmente importante os tratar com a paciência, carinho e cuidado que merecem.

Tratamento farmacológico

O tratamento farmacológico deve visar a parar os problemas de comportamento e as desordens cognitivas. Os fármacos mais frequentemente utilizados para tratar a disfunção cognitiva em cachorros de idade avançada são:

  • Nicergolina: uma dose de 0,25 mg por kg de peso ao dia. Produz vasodilatação a nível cerebral, que aumenta a irrigação cerebral e, consequentemente, melhora o aporte de oxigênio e glicose ao cérebro. Se demonstrou que estimula as funções psíquicas de memorização e aprendizagem, melhorando os transtornos de comportamento em cães senis.
  • Selegenina: em dose de 0,5 mg por kg de peso ao dia. Produz um incremento nos níveis de dopamina, do qual é deficitária em pacientes com demência. Além disso, tem efeito antidepressivo e neuroprotetor. Se recomenda administrar nas manhãs, especialmente em pacientes com alterações do ciclo sono/vigília.

Por outro lado, podem ser utilizados outros fármacos como a melatonina para tentar reestabelecer os ciclos de sono/vigília, ou os benzodiazepínicos para diminuir os níveis de ansiedade.

Manejo dietético e nutracêuticos

Atualmente, existem rações comerciadas com fórmulas especiais para cachorros com mudanças de comportamentos associados com a idade, que contém nutrientes e antioxidantes capazes de combater os sintomas do envelhecimento celular.

Além disso, existem uma série de suplementos nutricionais que podem ser de grande utilidade para o manejo desta síndrome. Os mais importantes são:

  • Vitamina E (tocoferol): produz um efeito neuroprotetor ao atuar contra os radicais livres e proteger as células da toxicidade produzida pelos depósitos de beta-amolóide.
  • Vitamina B6 (piridoxina): intervém na síntese de neurotransmissores e ajuda a transmissão sináptica.
  • Fosfatidilserina: este fosfolipídeo que forma parte da membrana celular dos neurônios, ajuda a melhorar os sintomas dos cães diagnosticados com disfunção cognitiva.
  • Ácido docosahexaenoico (DHA): é um ácido graxo ômega 3 cujo déficit contribui para a aparição de alterações cognitivas, o que torna benéfico suplementar nestes pacientes.
  • Ginkgo biloba: seu uso parece que poderia melhorar a memória no cães senis.

Te recomendamos este outro post com os cuidados com um cão idoso.

Alzheimer em cachorros - Sintomas e tratamento - Tratamento para Alzheimer em cachorros

Prognóstico de Alzheimer em cães

Uma vez conhecidos os aspectos mais importantes desta síndrome, é provável que se questione quanto tempo um cachorro com alzheimer pode viver.

Mesmo que o Alzheimer canino não seja uma doença mortal em si mesma, é possível que condicione a expectativa de vida dos animais que adoecem, uma vez que em algumas ocasiões produzem alterações de comportamento que obrigam os tutores e veterinários a cogitar a eutanásia do animal.

No entanto, é importante esclarecer que a disfunção cognitiva acontece de forma lenta e gradual e que, na maioria dos casos, os cães podem viver com uma boa qualidade de vida se é iniciado um protocolo terapêutico adequado.

Se deseja conhecer mais detalhes sobre A eutanásia em cachorros, não deixe de visitar este post do PeritoAnimal que te recomendamos.

Como prevenir o Alzheimer em cães

Mesmo que não exista uma forma efetiva de evitar a aparição do Alzheimer canino, dispomos de uma série de medidas preventivas que podem ajudar a retardar a aparição desta síndrome em cães idosos:

  • Estimulação mental.
  • Desenvolvimento de jogos simples.
  • Adestramento com reforço positivo com ordens simples.
  • Exercício físico moderado.

Te recomendamos o artigo com 5 jogos para brincar com seu cachorro em casa que poderá te ajudar.

Este artigo é meramente informativo, no PeritoAnimal.com.br não temos capacidade para receitar tratamentos veterinários nem realizar nenhum tipo de diagnóstico. Sugerimos-lhe que leve o seu animal de estimação ao veterinário no caso de apresentar qualquer tipo de condição ou mal-estar.

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Bibliografia
  • González-Martínez, A., Rosado, B., García-Belenguer, S., Suárez, M. (2012). Síndrome de disfunción cognitiva en el perro geriátrico. Revista AVEPA; 32(3):159-167
  • Ibáñez, M., Morillas, S. (2014). Problemas de comportamiento en perros seniles. Síndrome de disfunción cognitiva. Facultad de Veterinaria, Universidad Complutense de Madrid.

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