Doenças de ovinos - sintomas, diagnóstico e tratamento

Doenças de ovinos - sintomas, diagnóstico e tratamento

Existem inúmeras doenças que acometem os ovinos. Muitas variam de região para região, algumas são mais fáceis de solucionar, outras são mais agressivas e graves, por isso, quanto mais cedo forem detectadas, mais fácil será o seu controle.

Muitas delas podem afetar não só os ovinos, como também outros animais e o ser humano, através do contacto direto ou pelo consumo de carne ou leite.

Por todas estas razões é essencial que saiba distinguir as principais doenças em ovinos.

Neste artigo do PeritoAnimal, vamos te falar de doenças em ovinos e os respectivos sintomas, de forma a ajudá-lo a identificar melhor estas enfermidades que acometem o seu rebanho.

Principais doenças em ovinos

É importante realçar que a maioria das doenças que vamos referir podem ser prevenidas através da aplicação de medidas preventivas, como a quarentena quando adquire novos animais, correta higienização das instalações e dos materiais e seguir um protocolo vacinal adequado à espécie e à região. Informe-se junto do seu veterinário qual o melhor protocolo a aplicar para que possam atuar na prevenção e evitar prejuízos econômicos e o mal-estar animal.

Estas medidas simples podem ser a solução para a saúde e bem-estar do seu rebanho.

Neste artigo, de forma a ser mais fácil de organizar, agrupamos as doenças pela sua semelhança de sintomas.

As doenças mais comuns incluem:

  • Clostridioses (que provocam lesões em vários sistemas)
  • Doenças de cascos
  • Doenças de pele, pelo e ectoparasitas
  • Doenças reprodutivas e metabólicas
  • Doenças neurológicas e musculares
  • Doenças respiratórias
  • Verminoses em geral (endoparasitoses)

Doenças de cascos

As suas causas estão muitas vezes associadas a más práticas de manejo como casqueamento excessivo, castração e corte de cauda com materiais infectados. O sintoma comum é a claudicação (manqueira) e, muitas vezes, a utilização de pedilúvios e desinfeção local são os melhores métodos para tratar estas enfermidades.

  • Carbúnculo sintomático: também chamado de manqueira, afeta ovinos entre os 6 meses e os 3 anos de idade e é provocada pela bactéria Clostridium chauvei. Os sintomas desta doença envolvem depressão, febre e os animais mancam apresentando um inchaço proeminente nas patas posteriores. Um vez contraída, não tem cura e o ôbito ocorre rapidamente entre 12 a 26 horas.
  • Pododermatite (podridão dos cascos ou foot rot): é uma doença contagiosa causada pela ação combinada de várias bactérias encontradas no solo e que invadem e se multiplicam em cascos com sobrecrescimento ou cobertos por fezes ou lama. Os principais sintomas são a manqueira e a diminuição do apetite. Na forma severa ocorre necrose profunda do dedo associado a um odor fétido.
  • Laminite: processo inflamatório das lâminas (estruturas sensíveis) do casco, que resulta em manqueira e deformação do casco permanentemente. Surge, na maioria das vezes, como consequência da acidose ruminal por esta provocar diminuição do fluxo sanguíneo que chega às lâminas do casco.

Doenças de pele, pelo e ectoparasitas

Os sintomas que mais estão associados são a perda de apetite, dermatites (inflamações da derme), lesões na pele com ou sem perda de lã, feridas, úlceras, crostas, escamas e, principalmente, coceira, dor, desconforto e inquietação.

Dentre dessas doenças temos:

  • Dermatomicose (ou dermatite micótica): infetocontagiosa, causada por fungos dos gêneros Microsporum e Trichophyton.
  • Dermatobiose (berne): são larvas de moscas que se localizam no interior da pele (no tecido subcutâneo) formando pequenas elevações com um orifício, por onde elas respiram, e causando dor e desconforto. Terminando a fase parasitária, pode provocar abcessos e evoluir para miíases.
  • Miíases (bicheiras): são lesões causadas por larvas de mosca que são depositadas ainda em ovo em redor de ferimentos e que, em poucas horas, eclodem e as larvas se movem para o interior da ferida e se alimentam de tecido vivo, aumentado progressivamente a extensão da ferida.
  • Oestrose (bicho da cabeça): é um tipo de miíase que é provocada por larvas da mosca Oestrus ovis que habitam as cavidades nasais dos ovinos, aderem e irritam a mucosa levando à produção de corrimento sanguinolento, a espirros frequentes e à diminuição da ingestão de alimentos. As larvas vão subindo e quando alcançam o cérebro, sinais neurológicos surgem. O animal perde equilíbrio, anda em círculos e acaba por morrer. É importante controlar bem todos os animais para detetar estas larvas e atuar antes que elas subam e provoquem a morte do animal.
  • Ectima contagioso: caracteriza-se por pequenas formações, vesículas ou pústulas sobretudo na região dos lábios, gengiva e úbere. Atenção, o ectima é uma zoonose, ou seja, pode ser transmitida ao ser humano e é altamente contagiosa, pelo que se deve ter muito cuidado ao manusear estes animais.
  • Febre aftosa: causada por um vírus, é muito contagiosa e se inicia com febre, seguida de erupção de vesículas (aftas) na mucosas e na pele, principalmente na boca, tetas e fenda dos cascos.

Nas doenças causadas por ectoparasitas o controle das infestações pode ser feito com a aplicação de antiparasitários, fundamentalmente tratamentos tópicos e desinfeção e higiene adequadas das áreas afetadas. Para os fungos, não existem vacinação e o tratamento se baseia em antifúngicos e desinfeção. As miíases se detectadas ainda na fase inicial facilitam o tratamento e aceleram a cicatrização. Muitas vezes as larvas têm de ser retiradas à mão e a região deve ser limpa logo em seguida com soluções antissépticas.

Doenças reprodutivas e metabólicas

Muitas delas são provocadas por alterações bruscas na alimentação, dietas desequilibradas com carências nutricionais e vitamínicas ou por intoxicações, levando a desequilíbrios da flora bacteriana gastrointestinal. A fase da gestação, parto e lactação podem igualmente causar estas consequências. Os sintomas comuns, dependendo da gravidade, incluem alterações neurológicas (apatia, debilidade ou cabeça inclinada), alterações gastrointestinais (diarreia ou perda de apetite) e fraqueza muscular.

  • Toxemia de prenhez (cetose): acomete ovelhas no terço final da gestação. Uma dieta inadequada pode provocar falta de glicose ao feto e, consequentemente, debilidade da mãe. Na tentativa de obter energia extra, o corpo da mãe ovelha utiliza a gordura como fonte de energia sobrecarregando o fígado e formando corpos cetônicos, os quais irão provocar alterações no sistema nervoso central. O animal pode-se isolar dos outros, ranger os dentes, andar em círculos, ficar cego e apresentar odor de acetona ao respirar.
  • Hipocalcemia: síndrome associada ao défice de cálcio em ovelhas no final da gestação ou início da lactação. Pode ser influenciada por factores ambientais ou predisposição genética. Os sinais clínicos observados são andar cambaleante e tremores. Sem tratamento e suplementação de cálcio, o animal morre entre as 6 e 12 horas após os sintomas se terem iniciado.
  • Timpanismo (empanzinamento): doença metabólica que se caracteriza pela evidente distensão do flanco esquerdo (onde se localizam o rúmen e retículo) resultante da incapacidade de expulsar gases produzidos durante a fermentação ruminal devido a dietas mal selecionadas ou a obstruções físicas. Um animal com timpanismo possui muita dor e desconforto e, em consequência, fica irrequieto e deixa de comer. Caso não seja tratado a tempo, o animal cai no chão e morre em poucas horas. O tratamento passa por retirar o excesso de ar de dentro do trato digestivo do animal, medicação e alterar a dieta que poderá estar a ser causadora deste fenômeno (evitar dietas ricas em grãos e deficientes em fibra). Se observar algum animal seu inchado chame o veterinário porque é preciso agir o mais rápido possível
  • Mastite (mamite): existem muitos agentes que podem provocar esta enfermidade, entre eles a Mannheimia haemolytica, Staphylococcus aureus, Escherichia coli, Corynebacterium spp. e Clostridium spp. Estas bactérias estão presentes no interior da glândula mamária e na parte exterior das tetas provocando inflamação da glândula mamária, inchaço e vermelhidão do úbere e grumos no leite. A sua origem pode ser por contágio ou devido a locais com pouca higiene. Existem dois tipos de mastite, a clínica, com sintomas visíveis e que ocorre mais no início da lactação, e a subclínica que se traduz por diminuição da produção de leite e aumento das células somáticas do leite. Se não for tratada com antibióticos e limpeza, o animal pode desenvolver mastites crônicas e o leite é inviável para consumo. É importante dar o intervalo de segurança para o antibiótico não surja no leite.
  • Brucelose: é uma zoonose grave que provoca abortos em várias espécies de animais, entre elas os caprinos, bovinos, suínos, cavalos, cães e ser humano. Enquanto que normalmente nas fêmeas primíparas (fêmeas prenhas pela primeira vez) ocorre aborto, nas que já tiveram crias, pode não ocorrer aborto, mas a cria nasce debilitada. Os machos também podem ser afetados e se manifesta através da inflamação nos testículos, que reduz a capacidade reprodutiva.

Doenças neurológicas e musculares

Normalmente, as doenças que se seguem podem ser evitadas através de vacinação prévia. Muitos dos sintomas se devem às neurotoxinas produzidas pelos agentes e incluem alterações neurológicas e musculares como descoordenação motora, tremores, convulsões e paralisia dos músculos, principalmente dos respiratórios, causando a morte do animal.

Damos especial atenção à raiva que tem surgindo cada vez mais em rebanhos no Brasil devido à mordida de morcegos.

  • Tétano (causado pela neurotoxina de Clostridium tetani)
  • Botulismo (ingestão da toxina de Clostridium botulinum)
  • Cenurose (parasita Taenia multiceps)
  • Raiva

Doenças respiratórias

As doenças pulmonares são também muito importantes pois afetam ovinos de todas as idades, raças e gêneros. Muitas surgem da combinação de vários fatores e agentes (bactérias, vírus e parasitas) que, quando encontram condições ambientais favoráveis, podem causar elevada mortalidade e grandes percas econômicas. Como doença mais comum podem destacar a:

  • Pasteurelose: que causa pneumonias brutais em jovens e adultos. A Mannheimia haemolytica e a Pasteurella multocida causam esta enfermidade e estão presentes no ambiente e nas vias respiratórias dos animais. Quando eles estão imunodeprimidos, isto é, com as defesas em baixo devido a estresse ou doenças, estas bactérias se aproveitam e se instalam no trato respiratório causando graves lesões. Os sintomas envolvem: dificuldade respiratória, tosse, febre e secreção mucopurulenta (muco de cor amarela-esverdeada). Aqui o tratamento com antibióticos é o mais indicado, sendo as tetraciclinas as mais utilizadas.

Verminoses

Os endoparasitas (parasitas internos) causam grandes prejuízos econômicos. Os animais, principalmente com verminoses, apresentam distúrbios gastrointestinais, ficando debilitados e apáticos, emagrecendo e diminuindo a sua produtividade. De entre elas temos:

  • Helmintose
  • Coccidiose (eimeriose)
  • Hidatose
  • Cisticercose

O diagnóstico de todas estas doenças envolve a recolha de toda a informação possível, desde a região onde está inserida a exploração, as doenças mais comuns do rebanho, o exame físico e observação do animal e os seus sintomas. Se necessário, testes laboratoriais como análises sanguíneas e identificação dos agentes através de microscópio ou outras técnicas mais complexas. Contudo, nem sempre são necessários exames tão complexos, que são dispendiosos para qualquer criador e produtor, o veterinário indica qual a sua suspeita e qual o melhor método de diagnóstico e respetivo tratamento.

É importante realçar novamente que para reduzir a incidência de doenças dentro da exploração é fundamental que as instalações sejam sempre bem higienizadas, realizar quarentena a animais recentemente adquiridos e aplicar antiparasitários regularmente assim como vacinar os animais para as doenças mais propensas, sempre aconselhado pelo seu veterinário.

As doenças infeto-contagiosas são muito importantes para a medicina veterinária porque são facilmente transmitidas entre animais e algumas delas podem contagiar o homem (chamadas de zoonoses), pelo que se recomenda manejar os animais suspeitos sempre com luvas para evitar contágios.

Este artigo é meramente informativo, no PeritoAnimal.com.br não temos capacidade para receitar tratamentos veterinários nem realizar nenhum tipo de diagnóstico. Sugerimos-lhe que leve o seu animal de estimação ao veterinário no caso de apresentar qualquer tipo de condição ou mal-estar.

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