Como os peixes se reproduzem

Como os peixes se reproduzem

Durante o desenvolvimento embrionário de qualquer animal, processos cruciais são realizados para a formação de novos indivíduos. Qualquer falha ou erro durante este período pode causar sérios danos à prole, incluindo a morte do feto.

O desenvolvimento embrionário dos peixes é bem conhecido, graças ao fato de que seus ovos são transparentes e todo o processo pode ser observado a partir do exterior usando instrumentos como a lupa. Neste artigo do PeritoAnimal ensinaremos alguns conceitos sobre embriologia e, em particular, sobre como os peixes se reproduzem: o desenvolvimento embrionário.

Desenvolvimento embrionário dos peixes: conceitos básicos

Para abordar o desenvolvimento embrionário dos peixes, antes precisamos conhecer alguns conceitos básicos da embriologia, como os tipos de ovos e as fases que compõem o desenvolvimento embrionário inicial.

Podemos encontrar diferentes tipos de ovos, de acordo com a maneira como o vitelo (material nutritivo presente no óvulo dos animais que contém proteína, lectina e colesterol) está distribuído e sua quantidade. Para começar, vamos chamar de ovo o resultado da união de um óvulo com um espermatozoide e de vitelo o conjunto de nutrientes que está dentro do ovo e servirá como alimento para o futuro embrião.

Tipos de ovos de acordo com a organização do vitelo em seu interior:

  • Ovos isolécitos: o vitelo se encontrada distribuído uniformemente pelo interior do ovo. Típico de animais poríferos, cnidarios, equinodermos, nemertinos e mamíferos.
  • Ovos telolécitos: o vitelo se encontra deslocado em direção a uma área do ovo, sendo oposto ao local onde o embrião se desenvolverá. A maioria dos animais se desenvolve a partir deste tipo de ovo, como por exemplo os moluscos, peixes, anfíbios, répteis, pássaros, etc.
  • Ovos centrolécitos: o vitelo fica cercado pelo citoplasma e este, por sua vez, envolve o núcleo que dará origem ao embrião. Ocorre em artrópodes.

Tipos de ovos de acordo com a quantidade de vitelo:

  • Ovos oligolécitos: são pequenos e têm pouco vitelo.
  • Ovos mesolécitos: têm tamanho médio com uma quantidade moderada de vitelo.
  • Ovos macrolécitos: são ovos grandes, com grande quantidade de vitelo.

Fases típicas do desenvolvimento embrionário

  • Segmentação: nesta fase, ocorre uma série de divisões celulares que aumentam o número de células necessárias para a segunda fase. Termina em um estado chamado blástula.
  • Gastrulação: ocorre uma reorganização das células da blástula, dando origem aos blastodermes (camadas germinativas primitivas) que são o ectoderma, o endoderma e, em alguns animais, o mesoderma.
  • Diferenciação e organogênese: os tecidos e órgãos vão se formar a partir das camadas germinativas, formando a estrutura do novo indivíduo.

Como os peixes se reproduzem: desenvolvimento e temperatura

A temperatura está intimamente relacionada com o tempo de incubação dos ovos nos peixes e seu desenvolvimento embrionário (o mesmo ocorre em outras espécies animais). Geralmente, há uma faixa ótimo de temperatura para a incubação, que varia em cerca de 8ºC.

Os ovos incubados dentro dessa faixa terão maior chance de se desenvolver e alcançar a eclosão. Da mesma forma, os ovos incubados por longos períodos de tempo a temperaturas extremas (fora do intervalo ótimo da espécie) terão uma menor probabilidade de eclosão e, se eclodirem, os indivíduos nascidos podem sofrer de graves anomalias.

Desenvolvimento embrionário dos peixes: etapas

Agora que você conhece os conceitos básicos da embriologia, nos aprofundaremos no desenvolvimento embrionário dos peixes. Os peixes são telolecíticos, isto é, vêm de ovos telolécitos, aqueles que têm o vitelo deslocado para uma zona do ovo.

Nos próximos tópicos explicaremos como é a reprodução dos peixes.

Como os peixes se reproduzem: fase zigótica

O óvulo recém-fertilizado permanece no estado de zigoto até a primeira divisão. O tempo aproximado em que essa divisão ocorre depende da espécie e da temperatura do ambiente. No peixe zebra, Danio rerio (o peixe mais utilizado em pesquisas), a primeira segmentação ocorre em torno de 40 minutos após a fertilização. Embora pareça que neste período não há mudanças, dentro do ovo estão ocorrendo processos decisivos para o desenvolvimento posterior.

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Reprodução dos peixes: fase de segmentação

O ovo entra na fase de segmentação quando ocorre a primeira divisão do zigoto. Nos peixes, a segmentação é meroblástica, porque a divisão não atravessa completamente o ovo, uma vez que é impedida pelo vitelo, ficando limitada à área onde o embrião está localizado. As primeiras divisões são verticais e horizontais ao embrião, e são muito rápidas e sincronizadas. Elas dão origem a um monte de células instaladas sobre o vitelo, constituindo a blástula discoidal.

Reprodução dos peixes: fase de gastrulação

Durante a fase de gastrulação, um rearranjo das células da blástula discoidal ocorre por movimentos morfogenéticos, ou seja, a informação contida nos núcleos das diferentes células já formadas, é transcrita de uma maneira que obriga as células a obterem uma nova configuração espacial. No caso dos peixes, essa reorganização é chamada de involução. Da mesma forma, esta fase é caracterizada por uma diminuição na taxa de divisão celular e pouco ou nenhum crescimento celular.

Durante a involução, algumas células da discoblástula ou da blástula discoidal migram em direção ao vitelo, formando uma camada sobre ele. Essa camada será o endoderma. A camada de células que permanece no monte formará o ectoderma. Ao final do processo, a gástrula será definida ou, no caso dos peixes, a discogástrula, com suas duas camadas germinativas primárias ou blastodermas, o ectoderma e o endoderma.

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Reprodução dos peixes: fase de diferenciação e organogênese

Durante a fase de diferenciação nos peixes, surge a terceira camada embrionária, localizada entre o endoderma e o ectoderma, denominada mesoderma.

O endoderma se invagina formando uma cavidade chamada arquêntero. A entrada para esta cavidade será chamada de blastóporo e resultará no ânus do peixe. A partir deste ponto, podemos distinguir a vesícula cefálica (encéfalo em formação) e, em ambos os lados, as vesículas ópticas (futuros olhos). Após a vesícula cefálica, o tubo neural se forma e, em nos dois lados, os somitos, estruturas que acabarão formando os ossos da coluna vertebral e costelas, músculos e outros órgãos.

Ao longo desta fase, cada camada germinativa acabará produzindo vários órgãos ou tecidos, de modo que:

Ectoderma:

  • Epiderme e sistema nervoso;
  • Início e final do tubo digestivo.

Mesoderma:

  • Derme;
  • Musculatura, órgãos excretores e reprodutores;
  • Celoma, peritônio e sistema circulatório.

Endoderma:

  • Órgãos envolvidos na digestão: epitélio interno do tubo digestivo e glândulas anexas;
  • Órgãos encarregados da troca gasosa.

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Bibliografia
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