Como aplicar vacina em gatos

Bom, vamos começar lembrando que os gatos são animais peculiares, com um sistema imune bastante complexo. Os sarcomas de aplicação, antigamente conhecidos por sarcoma vacinal, são tumores malignos que se apresentam como nódulos cutâneos ou subcutâneos firmes, aderidos à musculatura, ulcerados ou não, podendo ser únicos ou difusos. Geralmente acometem gatos de meia idade, mas os mais jovens também são suscetíveis^[1].

A causa é desconhecida ainda, mas está relacionada à inflamação resultante da aplicação de vacinas e outros medicamentos injetáveis, associada a uma predisposição genética^[1]. O processo inflamatório decorrente da aplicação é o ponto inicial da doença, e, se for persistente e exagerado, pode favorecer a mutação de células e o início do crescimento tumoral^[2]. Os vírus da Imunodeficiência Felina (FIV) e da Leucemia Felina (FeLV) não parecem ter participação na patogenia do sarcoma de aplicação^[3].

O intervalo entre a vacinação ou a aplicação do medicamento e o surgimento do sarcoma é muito variável, podendo ser de 4 semanas a 10 anos, com um tempo médio de desenvolvimento de 11 meses^[5].

Alguns estudos atuais mostram que qualquer vacina aplicada nos gatos, seja a antirrábica, contra o vírus da Leucemia Felina ou a tríplice felina (contra parvovírus, herpesvírus-1 e calicivírus), assim como injeções subcutâneas (antibióticos, corticoides, soro subcutâneo, medicações para vômito e antipulgas injetáveis), podem causar o aparecimento do tumor. As vacinas geralmente são produzidas com vírus morto, mas possuem em sua composição o adjuvante (líquido adicionado à vacina) composto por alumínio, que parece ser o grande vilão nessa história^[4].

Devemos estar cientes de que a inflamação crônica causada pela vacina, por si só, não é capaz de induzir a transformação neoplásica das células, sendo os fatores relacionados ao animal (predisposição genética) considerados essenciais no desencadeamento do sarcoma. O que isso significa? Que nem todo gato vacinado desenvolverá o sarcoma vacinal, apenas aqueles que possuírem uma susceptibilidade maior ao desenvolvimento de tumores^[4].

Os nódulos, geralmente, não causam dor na fase inicial, podendo evoluir de forma rápida e invasiva, resultando em uma ulceração muito dolorosa no local. O principal tratamento é a retirada cirúrgica de todo o tumor, sabendo-se que quanto mais precocemente for retirado, maior será a sobrevida do animal^[3]. No entanto, mesmo com uma retirada completa e com amplas margens de segurança (ideal de 3cm), a taxa de recidiva local é de 30% a 70%, e o tempo para que isso aconteça é, em média, de seis meses após a cirurgia^[4].

Outros tratamentos, como quimioterapia, radioterapia, eletroquimioterapia, imunoterapia e terapia combinada, podem ser associados à cirurgia, para obtenção de melhores resultados^[3][4][5]. Os sarcomas de aplicação em felinos costumam ser pouco responsivos à quimioterapia, que pode ser utilizada quando não é possível retirar o tumor, no pré ou pós-operatório e nos casos de recidiva ou metástase. Tanto a quimioterapia quanto a radioterapia não podem ser consideradas como tratamento definitivo e devem ser usadas como paliativo e auxiliar apenas^[4].

Cabe ao tutor, em conjunto com o médico veterinário, avaliar a necessidade de vacinar o bichano e qual vacina utilizar. A prevalência do sarcoma de aplicação é de cerca de 1 a 4 casos em cada 10.000 gatos vacinados nos Estados Unidos (EUA), não havendo predisposição por raça ou sexo. No Reino Unido, a incidência é mais baixa, estimando-se 1 caso a cada 12.500 vacinações felinas. Essa baixa taxa pode ser explicada pelo fato de que a vacinação antirrábica não é obrigatória em gatos nesse país. No Brasil, ainda não há dados^[2][6].

Há de se considerar que a prevalência de doenças infecciosas em gatos, principalmente naqueles que costumam passear na rua e ter contato com outros animais (gatos de vida livre), é bastante alta no Brasil, tornando a vacinação muito importante. Além disso, a vacinação antirrábica é obrigatória em nosso país^[4].

Como prevenir o sarcoma de aplicação em gatos

A melhor maneira de se prevenir a doença é saber como aplicar a vacina corretamente e, portanto:

• Evitar a aplicação de várias vacinas no mesmo local;
• Não reutilizar seringas e agulhas;
• Usar as vacinas e medicamentos em temperatura adequada (não podem estar muito frios ou quentes);
• Não aplicar substâncias mal homogeneizadas^[4].

A vacina quíntupla (inclui as doenças da quádrupla e contra o vírus da Leucemia Felina) deve ser aplicada apenas em gatos com risco de contraírem a doença, testados e com resultado negativo, já que causa uma maior reação inflamatória no local de aplicação^[4].

Após uma análise sobre a real necessidade de se vacinar o gato, caso seja decidido vaciná-lo, podemos partir para alguns lugares alternativos para a aplicação. Pensando na pior das hipóteses, onde o sarcoma poderia se desenvolver, teremos a opção de vacinar em partes do corpo que poderão ser amputadas sem maiores danos ao animal, como na cauda ou em uma das patas. Não é que um membro ou a cauda não façam falta! Fazem muita! Mas o animal acometido pela doença terá uma chance maior de cura caso o tumor cresça nesses órgãos, que podem ser amputados, preservando sua vida.

Uma padronização dos locais de aplicação de vacina em gatos foi proposta por estudiosos em 2013, na qual a antirrábica deverá ser injetada no membro posterior direito, a tríplice no membro anterior direito e a quíntupla no membro posterior esquerdo. Essa padronização ajuda na identificação de tumores e o tipo de vacina com o qual eles se relacionam^[5].

Vacinar um gato na cauda ou no membro pode parecer bem estranho à primeira vista, mas pode significar muito em situações posteriores. Cabe ao médico veterinário explicar o porquê dessa aplicação não ter sido realizada na região das costas, tranquilizando o tutor caso o animal reclame um pouco mais durante a aplicação. Todos esses aspectos devem ser analisados para que se obtenha uma vacinação ou aplicação de medicamentos segura e confortável para o gato e seu tutor.

Agora que você já sabe como aplicar vacina em gatos corretamente, não perca este outro artigo no qual falamos tudo sobre a vacina trivalente (V3) em gatos.

Este artigo é meramente informativo, no PeritoAnimal.com.br não temos capacidade para receitar tratamentos veterinários nem realizar nenhum tipo de diagnóstico. Sugerimos-lhe que leve o seu animal de estimação ao veterinário no caso de apresentar qualquer tipo de condição ou mal-estar.

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