Animais que não devem ser de estimação

Animais que não devem ser de estimação

A hipótese biofílica de Edward O. Wilson sugere que os humanos têm uma tendência inata que os leva a se relacionar com a natureza. Pode ser interpretada como o "amor pela vida" ou pelos seres vivos. Talvez por isso não seja surpreendente que tantas pessoas no mundo queiram conviver com animais domésticos em suas casas, como cães e gatos. Contudo, há uma tendência crescente também para outras espécies, como papagaios, porquinhos-da-índia, cobras e até mesmo baratas exóticas.

No entanto, será que todos os animais podem ser pets domésticos? Neste artigo do PeritoAnimal, falaremos sobre a posse de certos animais que não devem ser de estimação, explicando por que eles não devem viver em nossas casas, e sim na natureza.

O acordo CITES

O tráfico ilegal e devastador de seres vivos ocorre entre os diferentes países do mundo. Tanto os animais como as plantas são extraídos de seus habitats naturais, causando um desequilíbrio no ecossistema, na economia e na sociedade de países de terceiro mundo ou em desenvolvimento. Não devemos nos concentrar apenas no ser que é privado de sua liberdade, mas nas consequências que isso acarreta para seus países de origem, onde a caça furtiva e a consequente perda de vidas humanas estão na ordem do dia.

Para combater o tráfico desses animais e plantas, nasceu na década de 1960 o acordo CITES, cuja sigla significa Convenção sobre Comércio Internacional das Espécies da Flora e Fauna Selvagens em Perigo de Extinção. Este acordo, firmado pelos governos de diversos países, visa proteger todas as espécies que estão em perigo de extinção ou ameaçadas devido, entre outros motivos, ao tráfico ilegal. A CITES compreende cerca de 5.800 espécies animais e 30.000 espécies vegetais, aproximadamente. O Brasil assinou a convenção em 1975.

Descubra 15 animais ameaçados de extinção no Brasil.

Animais que não devem ser de estimação

Antes de falamos sobre os animais que não devem ser de estimação, é importante destacar que os animais silvestres, mesmo que sejam originários do país onde residimos, jamais devem ser tratados como pets. Em primeiro lugar, é ilegal manter animais silvestres como animais de estimação, a não ser que você tenha autorização do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Além disso, esses animais não são domesticados e não é possível domesticá-los.

A domesticação de uma espécie leva séculos para ocorrer, não é um processo que pode ser realizado durante a vida de um único espécime. Por outro lado, iríamos contra a etologia da espécie, não permitiríamos que se desenvolvessem e realizassem todos os comportamentos naturais que fazem no seu habitat natural. Também não devemos esquecer que, ao comprar animais silvestres, estamos promovendo a caça ilegal e a privação de sua liberdade.

Damos como exemplo várias espécies que podemos encontrar como animais de estimação, mas que não deveriam ser:

  • Cágado-mediterrânico (Mauremys leprosa): este emblemático réptil dos rios da Península Ibérica europeia está em perigo devido à proliferação de espécies invasoras e à sua captura ilegal. Um dos maiores problemas que surgem ao mantê-los em cativeiro é que os alimentamos de forma errada e os colocamos em terrários que não são adequados para esta espécie. Devido a isso, ocorrem problemas de crescimento, afetando principalmente o casco, os ossos e olhos que, na maioria das vezes, eles perdem.
  • Sardão (Lacerta lepida): este é outro réptil que podemos encontrar na casa de diversas pessoas na Europa, principalmente, embora o declínio das suas populações se deva mais à destruição do habitat e à sua perseguição por falsas crenças, como a de que podem caçar coelhos ou aves. Este animal não se adapta à vida em cativeiro pois habita grandes territórios, e prendê-los em um terrário é contra sua natureza.
  • Ouriço-terrestre (Erinaceus europaeus): assim como outras espécies, os ouriços-terrestres são protegidos, por isso mantê-los em cativeiro é ilegal e acarreta multas consideráveis. Se encontrar um animal desses no campo e ele estiver saudável, você jamais deve pegá-lo. Mantê-lo em cativeiro significaria a morte do animal, já que ele sequer consegue beber água em um bebedouro. Se ele estiver ferido ou com problemas de saúde, você pode avisar os agentes ambientais ou o IBAMA para que possam levá-lo a um centro onde ele possa se recuperar e ser liberado. Além disso, por se tratar de um mamífero, podemos contrair inúmeras doenças e parasitas deste animal.
  • Macaco-prego (e qualquer outra espécie de macaco): apesar de o macaco como animal de estimação ser permitido pelo Ibama no Brasil, há uma série de restrições e sua posse deve ser autorizada. Destacamos que sua posse não é recomendada principalmente para proteger as diferentes espécies, não apenas o macaco-prego. Esses mamíferos (principalmente os de origem desconhecida) podem transmitir doenças como raiva, herpes, tuberculose, candidíase e hepatite B, por meio de mordidas ou arranhões.

Animais exóticos que não devem ser de estimação

O tráfico e a posse de animais exóticos é ilegal na grande maioria dos casos. Além de causar danos irreparáveis ​​aos animais, também podem causar graves problemas de saúde pública, pois podem ser portadores de doenças endêmicas em seus locais de origem.

Muitos dos animais exóticos que podemos comprar vêm do tráfico ilegal, uma vez que essas espécies não se reproduzem em cativeiro. Durante a captura e transferência, mais de 90% dos animais morrem. Os pais são mortos quando os filhotes são capturados, e sem seus cuidados, estes não sobrevivem. Além disso, as condições do transporte são desumanas, amontoados em garrafas plásticas, escondidos na bagagem e até enfiados nas mangas de jaquetas e casacos.

Como se isso não bastasse, se o animal sobreviver até chegar à nossa casa e, uma vez aqui, conseguirmos fazê-lo sobreviver, ele ainda pode escapar e se estabelecer como uma espécie invasora, eliminando as espécies nativas e destruindo o equilíbrio do ecossistema.

A seguir, te mostramos alguns animais exóticos que não devem ser de estimação:

  • Tartaruga-de-orelha-vermelha (Trachemys scripta elegans): esta espécie é um dos principais problemas da fauna da Península Ibérica europeia e é ilegal tê-la como animal de estimação no Brasil, segundo o Ibama. Sua posse como animal de estimação teve início há anos, mas naturalmente, esses animais vivem muitos anos, acabam atingindo um tamanho considerável e, na maioria das vezes, as pessoas se entediam com eles e os abandonam. Foi assim que chegaram aos rios e lagos de alguns países, com um apetite tão voraz que, em muitos casos, conseguiram exterminar populações inteiras de répteis e anfíbios autóctones. Além disso, dia após dia, tartarugas-de-orelha-vermelha chegam às clínicas veterinárias com problemas de saúde decorrentes do cativeiro e da má alimentação.
  • Ouriço-pigmeu-africano (Atelerix albiventris): com necessidades biológicas muito semelhantes às do ouriço-terrestre, em cativeiro esta espécie apresenta os mesmos problemas que a espécie autóctone.
  • Periquito-de-colar (Psittacula krameri): os indivíduos dessa espécie causam diversos danos em áreas urbanas, mas o problema vai além disso. Esta espécie está desalojando muitas outras aves da fauna, são animais agressivos e se reproduzem com facilidade. Este grave problema surgiu quando alguém que as mantinha em cativeiro, por engano ou conscientemente, as libertou pela Europa. Como qualquer outro psitacídeo, sofrem problemas em situações de cativeiro. Estresse, bicadas e problemas de saúde são alguns dos motivos que levam essas aves ao veterinário e, na maioria das vezes, devem-se ao manejo inadequado e ao cativeiro.
  • Panda-vermelho (Ailurus fulgens): Nativo das regiões montanhosas do Himalaia e do sul da China, é um animal solitário de hábito crepuscular e noturno. Está ameaçado de extinção devido à destruição de seu habit e também devido à caça ilegal.

A raposa como animal de estimação? Será que pode? Confira neste outro artigo do PeritoAnimal.

Animais perigosos que não devem ser de estimação

Além de sua posse ser ilegal, existem certos animais que são muito perigosos para as pessoas, devido ao seu tamanho ou à sua agressividade. Entre eles, podemos encontrar:

  • Quati (Nasua): se for criado em casa, jamais pode ser solto, devido à sua personalidade bastante destrutiva e agressiva, visto que se trata de uma espécie silvestre e não doméstica.
  • Cobra (qualquer espécie): é preciso trabalho redobrado para cuidar de uma cobra como animal de estimação. E isso se você tiver autorização do Ibama, que permite apenas a posse de espécies não-peçonhentas, como a píton, a cobra milho, a jiboia, a píton da índia e píton real.

Outros animais que não devem ser de estimação

Além dos animais que já citamos, infelizmente muita gente insiste em ter um animal que não deve ser domesticado em casa. Aqui listamos alguns bastante procurados:

  • Bicho-preguiça (Folivora)
  • Petauro-do-açúcar (Petaurus breviceps)
  • Raposa-do-deserto ou feneco (Vulpes zerda)
  • Capivara (Hydrochoerus hydrochaeris)
  • Lêmure (Lemuriformes)
  • Jabuti (Chelonoidis carbonaria)
Imagem: Bicho-preguiça

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Bibliografia
  • Wilson, Edward O. (1984). Biophilia. Cambridge: Harvard University Press. ISBN 0-674-07442-4.
  • Convención sobre el Comercio Internacional de Especies Amenazadas de Fauna y Flora Silvestres. Disponível em: <https://www.cites.org/esp/disc/what.php>. Acesso em 8 de junho de 2021.
  • CITES (2017). Apéndices I, II y III. CITES. https://cites.org/sites/default/files/esp/app/2017/S-Appendices-2017-10-04.pdf>. Acesso em 8 de junho de 2021.
  • Eduardo Escoriza (2015). Lagarto ocelado (Timon lepidus). FICHAS DE FAUNA DE LA PROVINCIA DE GRANADA. (Reptiles). Disponível em: <http://www.sierradebaza.org/Fichas_fauna/00_Reptiles/08-11_ocelado/lagarto_ocelado.htm>. Acesso em 8 de junho de 2021.
  • GREFA (2013). Problemas de cautividad: el caso de un galápago leproso. GREFA. Disponível em: <http://www.grefa.org/8-departamentos/hospital-de-grefa/1060-problemas-de-cautividad-el-caso-de-un-galapago-leproso>. Acesso em 8 de junho de 2021.
  • WWF SPAIN (2016). El tráfico de animales y plantas es un crimen que enriquece a unos pocos y destruye la riqueza natural de todos. Disponível em: <https://www.wwf.es/nuestro_trabajo_/especies_y_habitats/trafico_de_especies_/>. Acesso em 8 de junho de 2021.